por Anette Lewin
"Estou em uma situação muito difícil. Sempre fui um ótimo pai e um bom marido. Sempre assumi minhas responsabilidades e jamais levantei uma mão para minha esposa. Somos casados há 14 anos e sempre fomos muito cúmplices. E de uma hora para outra ela disse que quer se separar. O motivo? Disse que sou egoísta e só penso em mim. Em todos esses anos sempre lutei para dar o melhor para nossas duas filhas. Sempre fui responsável pelas contas da casa, mesmo desempregado, sempre dei um jeito. Sempre cuidei das meninas mais tempo do que ela. Sempre cozinhei e ajudei a cuidar da casa lhe poupando esses afazeres para que pudesse descansar ao chegar do trabalho. Enfim, não sei onde errei."
Resposta: O fato de sua esposa querer se separar não significa, necessariamente, que você errou. A explicação dela, dizendo que você é egoista, pode ser apenas um pretexto para justificar a vontade dela de romper o vínculo amoroso com você. Embora as pessoas se sintam obrigadas a apresentar um motivo racional para justificar seus atos, nem sempre esse motivo é verdadeiro. Às vezes, uma pessoa pode querer romper um relacionamento amoroso porque cansou dele. Simples assim.
É possível que o motivo apontado por sua esposa, o egoísmo, realmente a incomode.
O problema é que, talvez, ela não tenha sinalizado isso ao longo do relacionamento e assim você não teve a chance de refletir sobre isso e, eventualmente, tentar rever seu comportamento. Pergunte-se: ela falou sobre o seu egoísmo nesses 14 anos? Se falou, você tentou entender o ponto de vista dela? Você fez tentativas de mudar?
Bem, se esse egoísmo foi sinalizado e você não tomou atitudes, talvez a relação chegou a um ponto em que ela desistiu. Se, porém, ela não sinalizou, existe a chance de vocês conversarem e você tentar ouvir o que ela tem a dizer; quais são as queixas dela, por que ela acha que você é egoista, o que ela espera de sua parte. Você afirma que cumpriu todas as obrigações de provedor, cuidou da casa e das filhas. Mas pode ser que ela espere outras coisas de sua parte. Tente ouvi-la e entender o que ela espera de você fora cumprir obrigações. Talvez ela gostaria de mais propostas, mais mobilizações; ou então esperava mais leveza, bons momentos. Enfim, entenda o que ela espera e veja se você é capaz de lhe oferecer.
É possível que ela queira, depois de um casamento estável, viver novas experiências, principalmente se vocês se casaram cedo e ela não teve outros relacionamentos amorosos; talvez ela esteja com a sensação que você não entende os anseios dela e imagina encontrar um novo príncipe encantado. Ou, talvez, já encontrou. Afinal, quando se tenta avaliar uma situação é necessário levar em conta todas as hipóteses, mesmo as mais dolorosas.
Pense também no que você espera dela. Afinal, embora você esteja tentando avaliar as possíveis expectativas dela com relação a você, avalie também quais as qualidades e defeitos que ela tem. Afinal, se você não é perfeito ela tambem não deve ser. E neste momento é importante saber se você quer manter o casamento com ela, porque ainda gosta dela ou apenas por orgulho, porque está levando um fora.
Ainda com relação à avaliação de suas atitudes pessoais, tente levantar os pontos em que você pode ter falhado. No seu e-mail você levanta só suas qualidades: bom pai, bom marido, cumpridor de suas obrigações. E chama atenção o fato de você mencionar entre essas qualidades o fato de "nunca ter levantado a mão" para sua esposa. Talvez essa simples menção possa sinalizar uma atitude questionável. Afinal, classificar não bater em mulher como qualidade, pressupõe que você, em alguma situação, teria o direito de fazê-lo. Não, ninguém civilizado tem o direito de agredir fisicamente sua parceira. Assim, não bater é uma obrigação, não uma qualidade. Vale repensar seus conceitos sobre deveres e direitos no casamento. Talvez sua forma de encarar um relacionamento amoroso deva ser revista.
Feitas essas ponderações, depois de uma conversa com sua esposa, talvez fique um pouco mais claro para você se essa relação tem retorno ou não. Se ainda for viável, tente refazer a cumplicidade que você afirma ter existido ao longo desses anos todos. Nessa reconstrução evite repetir fórmulas antigas, tente recomeçar do momento atual. De nada adianta você, por exemplo, presenteá-la com algo que agradava há 14 anos atrás. Tente entender qual o presente que ela gostaria de ganhar hoje. Se não conseguir chegar a uma conclusão, pergunte.
Caso você conclua que ela quer mesmo se separar, o melhor a ser feito é aceitar a realidade. Por enquanto, a separação é apenas uma intenção. Se ela começar a tomar providências concretas, apenas aceite e repense sua vida daqui por diante. Nada como um dia após o outro para superar qualquer situação; por pior que possa parecer depois de um fim sempre surge a luz de um recomeço.