por Arlete Gavranic
Quando pensei em escrever este artigo, já imaginei a polêmica que ele poderia gerar…
Temos discursos sociais bonitos sobre amizade; somos sabedores de que somos seres sociais e necessitamos de relações interpessoais: trocas afetivas, financeiras e intelectuais.
A amizade é uma relação afetiva, a princípio, sem características romântico-sexuais entre duas pessoas.
Em sentido amplo, é um relacionamento humano que envolve o conhecimento mútuo e a afeição, além de lealdade ao ponto do altruísmo. Nesse aspecto, pode-se dizer que uma relação entre pais e filhos, entre irmãos, demais familiares e cônjuges ou namorados pode ser também uma relação de amizade, embora não necessariamente.
Existem diferentes graus de amizade. Do coleguismo ao amigo-irmão, encontraremos muitas variações, daquele com quem você comenta ou partilha somente pensamentos ou ideias de âmbito social, até aqueles a quem você conta detalhes de sua vida e de seus sonhos.
Rivalidade vai da adolescência à terceira idade
A vida, com suas vivências e frustrações, ensina às pessoas o que contar, para quem, em que proporção dividir; também ensina o quanto devemos nos doar; nos dá a possibilidade de distinguir relações que nos possibilitam trocas (apoio, afeto, ajuda) daquelas que só esperam receber de você e quase nada trocam.
Amizades verdadeiras fazem bem, como muitas pessoas dizem: "São irmãos que podemos escolher", trazem a sensação de pertença a um mundo social, nós faz sentir o calor de um abraço que conforta uma tristeza, a torcida por uma vitória, o apoio para momentos de tensão e até o "chacoalhão" de verdades que muitas vezes precisamos ouvir para nos fazer ver ou repensar escolhas ou atitudes.
Amizades entre mulheres: rivalidade, homens e paquera
Mas hoje quero fazer uma reflexão especificamente sobre amizade entre mulheres e a lealdade quando existe um homem que possa interessar as duas.
Essa é uma questão recorrente nas muitas frustrações e decepções femininas em relação às amizades. Estou falando de mulheres de 13 a 70 anos: adolescentes em pleno amadurecimento dos corpos e iniciantes em suas experiências de vida; universitárias; jovens profissionais; mulheres de 35; outras na faixa dos 40; jovens de 50 e até a competição de mulheres de 60 a 70 anos em festas de terceira idade.
Disputa começa já na adolescência
Meninas com suas expectativas de "amigas para sempre", que contam, dividem expectativas e acontecimentos e se decepcionam com a postura de seus parceiros, ficantes ou pretendentes e, o pior, se decepcionam com a amiga que investe e entra no jogo de sedução com o seu paquera/parceiro.
Em todas as faixas etárias existe um desejo básico de sentir-se querida, amada e admirada: existe também um medo da solidão.
Mas isso até na adolescência? E na jovem universitária ou na mulher que inicia sua vida profissional?
Numa intensidade menor, é verdade. Mas entender o medo da solidão pode trazer uma sensação de fragilidade, de desproteção, e isso faz com que muitas passem a olhar com admiração e, às vezes, até com uma certa inveja da amiga: "eu quero viver isso também"; "eu quero essa pessoa para mim".
Decepção com amigas é frequente
Não vejo isso como regra, mas assisto essa decepção ou traição entre amigas com muita frequência. É claro que a convivência pode fazer as pessoas se encantarem, até se apaixonarem, mas a decepção no vínculo de amizade pode ser muito grande.
Essa ideia romantizada de amizade, que aquela amiga torcerá por você, sempre tem que ser cuidadosamente analisada.
Sei que muitas leitoras vão achar essa ideia individualista demais e dizer que amigas verdadeiras não fariam isso.
Mito do principe encantado fomenta disputa
Mas a psicologia nos mostra que idealizar pessoas e não entender que essas têm desejos e comportamentos que podem ser contrários à sua expectativa de amiga pode ser fonte perigosa de frustração. O desejo de encontrar um parceiro agradável, ou divertido, ou com jeito sensual, ou com recursos de um bom provedor, ou atencioso, ou carinhoso, ou com algumas dessas características está presente em todas as mulheres heterossexuais. Se você tem o hábito de enaltecer as qualidades de seu parceiro/paquera para suas amigas, você mesma pode estar despertando nelas o interesse e uma atenção diferenciada para essa pessoa que parece ser tão adequada por estar nos moldes do desejo do "príncipe encantado"!
Algumas mulheres além de falar, gostam de trazer essa pessoa ao convívio das amigas, viajar, fazer reuniões íntimas ou sair… Isso pode ser uma situação agradável e até de autoafirmação onde ela apresenta ao grupo de amigas sua conquista, mas essa também pode ser uma situação de risco, pois muitas amigas que partilham do mesmo desejo podem passar a ter interesse e até a investir na sedução desse parceiro propagado como interessante.
A carência afetiva e a vontade de ter alguém muitas vezes pode fazer com que o vínculo de amizade seja "esquecido"?
Amigas sim, mas todas com desejo de "um homem para chamar de seu".
Aí fica a polêmica: amigas para tudo e para sempre, ou… amigas amigas, mas assuntos de homens e conquistas à parte?