por Thaís Petroff
Recentemente assisti novamente o discurso feito por Steve Jobs na Universidade de Stanford na formatura de alguns graduandos. Não assisti somente uma vez, mas inúmeras outras e percebi que, cada vez que assistia, ele ressoava de modo diferente.
O discurso realmente me emocionou muito, pois foi uma mesma situação, percebida de maneira diferente, causando emoções diferentes e comportamentos diferentes. Por isso decidi escrever sobre ele e ressaltar alguns pontos que me chamaram a atenção.
Para quem não conhece Steve Jobs (apesar de notícias sobre ele estarem por todos os lados, em função de sua morte causada por um câncer no pâncreas em 05/10/2011), ele foi dado para adoção por sua mãe biológica e inicialmente rejeitado pela primeira família, pois eles queriam uma menina. Foi então adotado por um casal que não havia feito faculdade. Criou a Apple com um amigo e posteriormente a NeXT e o estúdio Pixar.
Steve Jobs descreve três histórias em seu discurso em Stanford. Quero me ater principalmente às duas últimas que ele menciona. Em sua segunda história, ele fala sobre amor e perda e conta que antes dos 30 anos conseguiu criar e erguer uma empresa junto com amigo partindo do uso da garagem de seus pais. Conta que após 10 anos, a empresa já tinha um grande faturamento e, próximo dessa época acabou sendo mandado embora da própria empresa que havia criado. Diz que esse havia sido o foco de toda sua vida adulta e que por algum tempo sentiu-se devastado.
O que o fez então, seguir adiante?
O que o fez ser reconhecido como um dos grandes líderes mundiais?
Respondo. A mudança de percepção, colocar as coisas sob outra perspectiva.
O que foi percebido em um primeiro momento como uma rejeição, acabou dando lugar a uma percepção alternativa da realidade e foi isso que proporcionou a Steve Jobs a motivação para continuar seguindo em frente. Usando suas palavras: “O peso de ser vitorioso foi substituído pela leveza de ser iniciante outra vez, sem muita certeza de nada, e isso me deu liberdade para começar um dos períodos mais criativos da minha vida.”
Nada disso seria possível caso Steve Jobs permanecesse com uma percepção negativa da situação. Ver a situação de outro modo, fez com que ele sentisse essa leveza descrita por ele facilitando a possibilidade de criar sem medo. Desse contexto surgiram as outras duas empresas já citadas aqui e seu casamento.
A próxima história que ele conta é relacionada à morte. Relata que ainda jovem leu a seguinte citação: “Se você viver cada dia como se fosse o último, algum dia provavelmente você acertará”. E, diante disso, ele descreve que usou essa frase todos os dias, se perguntando: “Se hoje fosse o último dia da minha vida, eu iria fazer o que farei hoje?” Caso a resposta fosse sim, ele seguia em frente, caso fosse negativa por alguns dias consecutivos ele revia o seu caminho e escolhas.
Esse é um jeito muito interessante de ver a vida. Enxergá-la lembrando-se da única coisa que temos certeza que acontecerá a todos nós: a morte e, que diante dela, tudo o que realmente não é importante, perde o peso, perde o significado. Steve Jobs afirma que a morte é provavelmente a maior invenção da vida, pois é um agente de mudança e permite tirar da frente o velho e colocar o novo. Penso que lembrar disso, ajuda a perceber as situações de modo mais concreto, com menos distorções e caminhar com mais exatidão na vida.
Creio que Steve Jobs não conhecesse a terapia cognitivo-comportamental, nem o modelo cognitivo de que nossos pensamentos e crenças influenciam o que sentimos, bem como nossas ações. Mas de qualquer modo, ele é um exemplo, dentre tantos outros, de que não são as situações que definem quem somos, o que fazemos, sentimos ou pensamos, mas sim o modo pelo qual escolhemos percebê-las.