Por Roberto Goldkorn
Tempos atrás iniciei um workshop chamado ‘Desenvolvimento de Sensitividade’, cujo objetivo era trabalhar com pessoas que se diziam sensitivas. Para quem tem alguma dúvida em relação ao termo, sensitivos são aqueles que têm aumento acima do normal da atividade de algum dos sentidos. Por exemplo, ‘vêem’ aquilo que a visão das pessoas comuns não lhes permite ver, o que chamamos de ‘vidência’. Ou seja, têm uma percepção da realidade muito mais aguçada que a média.
Pois bem, um dos exercícios que propus era o da psicometria. Cada um deveria trazer de casa um objeto de uso pessoal, que tivesse sido mantido por algum tempo em contato com o corpo da pessoa. Esses objetos foram colocados em envelopes pardos grandes sem nenhuma identificação, a não ser um número que só eu sabia a quem correspondia.
Depois de relaxar, o grupo recebia em suas mãos cada envelope e passava a descrever as sensações que captava. Tudo era anotado. No grupo havia duas pessoas que se destacavam. Um rapaz recém-formado em odontologia, alegre, de bem com a vida, cheio de energia, e com uma sensitividade impressionante.
O outro fenômeno era uma mulher de meia-idade, que já fora minha cliente, e que tinha uma vida cheia de tropeços, solitária e muito amargurada. O penúltimo envelope, o mais cheio de todos, foi que nos trouxe a grande surpresa.
Quando chegou às mãos do dentista, ele descreveu as sensações que estava captando mais ou menos assim: “Sinto muita paz, sonolência, azul, como se estivesse dentro de um aquário, cercado de silêncio, tranqüilidade …”.
O que todos esperávamos era que as percepções continuassem nesse padrão. Mas quando chegou às mãos da mulher já mencionada, ela de imediato (estavam todos com os olhos fechados) ficou séria. Passou alguns instantes calada, e depois vi uma lágrima escorrendo pelo seu rosto. Fiquei intrigado. De repente ela começa a tossir. A tosse aumentou, até que começou a chamar a atenção dos outros participantes. Ela começou a sufocar e entrou em pânico. Imediatamente tirei o envelope de suas mãos e pedi ajuda. Ela não conseguia respirar, como se estivesse engasgada, ou no auge de uma crise de bronquite… No meio da confusão ouvi uma outra participante chorando. Pensei que estava com medo ou compadecida da crise da sua colega, mas me intrigou o fato da mulher que chorava ser a dona do envelope.
Acalmada a situação, nos preparamos pra ouvir as explicações. Ela não havia tido crise de asma, e sim captado a energia psíquica do objeto dentro do envelope. “Mas como pode ser isso?” Perguntei. “Se o nosso jovem dentista captou apenas boas sensações, de paz, de serenidade?”
Só havia uma pessoa que poderia esclarecer (ou não) aquela confusão, a dona do envelope, que ainda enxugava as lágrimas. Perguntei se havia alguma lógica naquela dupla manifestação de percepções tão distintas. A dona do envelope afirmou que ambos estavam corretos, para aumentar a nossa confusão. Porém sem se prolongar mais ela contou: “O objeto que eu trouxe é um travesseirinho que meu filho usava desde que nasceu”.
Portanto, as percepções do nosso colega dentista podem estar ligadas às memórias do recém-nascido.” Faz todo sentido”, acrescentei. “Mas como explicar o sofrimento da nossa colega?” “Ela também estava certa. Meu filho muito cedo teve asma. E o que ela fez foi exatamente igual as crises que ele costumava ter. Inclusive as mãos estendidas em busca de socorro. Foi por isso que eu chorei.”
Nem é preciso dizer que o meu pequeno grupo ficou profundamente emocionado, e a mim, me marcou de forma definitiva. O grande aprendizado daquele episódio não foi a constatação da capacidade de percepção das energias sutis que impregnam tudo que tocamos. Isso para mim já era óbvio.
A grande lição foi saber que existem faixas de gravação emocional em tudo, e que captamos as gravações com as quais estamos sintonizados, ou melhor, com as quais mais nos afinamos. O dentista, de bem com a vida, captou as gravações das memórias pré-natais, o “aquário, a paz, a tranqüilidade…” A minha cliente infeliz e amargurada, captou a gravação da doença, e do sofrimento.
Quem estava certo? Ambos, cada um ‘pegando’ aquilo com o que estava sintonizado. Todos nós temos algum grau de sensitividade, dos mais obtusos aos mais ‘paranormais’, por isso estamos sempre sintonizando canais de informações que cruzam o éter.
Quando não temos consciência dessa relação, o nosso inconsciente se encarrega de sintonizar as ‘estações’ que deseja, e que na maioria das vezes são as do sofrimento, do medo e da morte, porque são as mais fortes e gritam. Por isso tantos sensitivos relatam percepções e sonhos que avisam de desastres, acidentes e mortes.
Mas sabendo disso, podem tornar esse processo o mais consciente possível, ajustando os canais que nos sintonizem com as gravações mais construtivas, mais criativas, que toquem mais ‘músicas’ de alegria e de solidariedade.
Muitas vezes pode parecer que não temos escolha, que só há um canal disponível, e esse canal é o da ‘rádio dos horrores’, e o botão do dial, emperrou nele. Mas isso nunca é verdade, pois podemos criar o nosso próprio canal de acesso, e quem sabe até o nosso próprio aparelho de ‘rádio’. Se você tem um padrão de eventos ruins que lhe acontece de forma sistemática, é porque está sintonizado numa estação ‘diabólica’. Vamos mudar de estação? O controle está, sim, em suas mãos.