por Roberto Shinyashiki
Mudar é um ato simples, ainda que seja possível complicá-lo de muitas maneiras.
Complicamos as mudanças, pensando que elas vão acontecer somente porque são desejadas. Isso nem sempre é verdadeiro e raramente dá certo.
Mais importante que o desejo é o comprometimento com a mudança.
Outra maneira eficiente de complicar as mudanças é pensar em demasia no que os outros vão sentir ou pensar em razão da sua transformação.
É ingenuidade supor que todo mundo se sentirá bem com a nossa mudança. É lógico que algumas pessoas vão comemorar o nosso bem-estar, mas pode ser que outras se sintam ameaçadas.
Outra modo de complicar a mudança é achar que ela vai acontecer espontânea e instantaneamente. Muitas vezes, para mudar, é importante lutar contra os nossos hábitos. Por exemplo, a mudança de alguém que costuma explodir, briga com todo mundo que ama e, quando se percebe solitário, corre para recuperar as amizades, só vai acontecer depois que aprender a lutar contra seu hábito de "explodir" por qualquer coisa.
Portanto, a disciplina é fundamental para qualquer processo de mudança.
Todos os seres humanos nascem plenos de seus potenciais, como "príncipes felizes". Depois começam a escutar os nãos (a maioria deles sem motivos reais) e a se rebelar contra a repressão, tornando-se "príncipes infelizes". Após tanto lutar contra esse sistema, acabam desistindo e tornando-se "sapos cômodos".
A maior parte das pessoas passa muito tempo da vida como sapo cômodo e, quando descobre isso, quer voltar a ser príncipe feliz. Porém, faz parte do processo voltar a ser príncipe infeliz antes de ser príncipe feliz.
Geralmente, um sapo cômodo é uma pessoa que procura manipular os outros para conseguir o que quer e os responsabiliza pelos seus problemas. Sente-se sempre perseguido e, portanto, imagina-se vítima do mundo. É, na verdade, uma marionete e pensa que pode controlar a todos. Obedece a ordens internas ou externas, sem saber quais são suas reais necessidades. Aceita situações que sabe que lhe são tóxicas, porque não tem opção (não sabe respeitar a si e aos outros). Repete dia após dia os mesmos atos do seu roteiro, porque não vê que tem opções para mudar. Vive dentro de um sistema de mesquinhez de carícias. Procura somente carícias condicionais.
Um dia, o sapo cômodo percebe que vive eternamente se adaptando e descobre que sua vida não o satisfaz; contudo, raramente sabe como conseguir o novo estilo de vida que quer. Descobre que o presente não o satisfaz, que o passado foi um desperdício de vida, mas não sabe ainda como estruturar-se no aqui-agora. Não consegue mais comer o pão embolorado, mas não sabe ainda como conseguir a fruta saborosa que deseja.
Nesse momento vem o vazio existencial, às vezes o desespero, o medo de não conseguir mudar, o medo de tirar as máscaras e encontrar-se consigo mesmo, o medo de perder as pessoas que lhe são caras, o medo de ter de voltar a repetir as condutas de sempre, a sensação de inadequação, de não estar fazendo bem o novo, como fazia o antigo.
Passar pela etapa de príncipe infeliz antes é muito importante no processo de crescimento! Não saber ainda como fazer o desejado, mas estar insatisfeito com a maneira antiga é um ponto crucial do processo.
É importante sentir que as carícias podem ser trocadas. Há um mundo infinito de possibilidades para realizar-se, até que a pessoa consiga ser um príncipe feliz e dê e receba as carícias que deseja, tenha as pessoas à sua volta como quer, estruture sua vida para realizar-se, se torne espontânea, feliz, satisfeita.
É importante ter a consciência de que você vai passar pela fase anterior, senão pode ter surpresas: na fase de príncipe infeliz, não vai receber a quantidade de carícias que recebia quando era sapo cômodo.
Certo, não eram as carícias que queria receber, mas sejam quais forem, as carícias sempre alimentam.
É fundamental predispor-se a não continuar usando os disfarces antigos, as mesmas manipulações de sempre, os mesmos jogos. Saia para um contato autêntico e espontâneo com as pessoas para viver plenamente e com autonomia sua própria vida.