por Patricia Gebrim
Este fim de semana fui ao teatro rever uma peça à qual eu já assistira certo tempo atrás, “A Alma Imoral”, monólogo adaptado do livro de Nilton Bonder, magnificamente interpretado por Clarice Niskier. Confesso que, uma vez mais, deixei o teatro com uma deliciosa gratidão.
Ah, como faz bem aquilo que alimenta nossa alma …
Como se fosse um oásis no deserto de sensibilidade em que vivemos, o frescor da peça me abraçou por todo o fim de semana, ressurgindo aqui e ali na medida em que eu olhava para tudo com meus novos olhos. Quando tocamos o lugar sagrado que existe dentro de nós, ganhamos novos olhos, olhos capazes de enxergar o que existe dentro das coisas, dentro das pessoas, dentro de cada situação que nos envolve no corre-corre da vida.
Lembrei-me de quando eu era uma menina e adorava olhar para o horizonte, imaginando o que existiria para além daquela linha que unia céu e terra num aparente fim. Um dia alguém me disse que aquilo era apenas uma ilusão, e que o mundo continuava a existir para além do horizonte. Isso mudou minha vida. Comecei a suspeitar de todas as minhas percepções. Comecei a buscar o que poderia existir para além da minha visão, para além da minha audição, para além dos limites da minha percepção.
Um tempo depois passei a olhar para as pessoas com esse mesmo desejo de ir além. Gostava de brincar de olhar bem lá no fundo dos olhos de quem conversasse comigo. Quem sabe descobriria lá, naquele espaço que tanto me intrigava, uma outra pessoa, mais bela, mais sábia, diferente talvez.
Fui me lapidando nessa arte de buscar pessoas para além das pessoas (acabei de criar esse nome).
Todos nós podemos desenvolver essa maravilhosa capacidade de enxergar através da ilusão. Assim acabei descobrindo pessoas assustadas escondidas por trás de uma aparência assustadora. Força por trás de uma aparente fragilidade. Uma enorme sensibilidade escondida por trás de uma aparente fraqueza. Não importa para onde a gente olhe, se olharmos com os olhos da alma descobriremos que o sagrado se encontra sempre lá, muitas vezes mimetizado como fazem os peixes sobre as rochas no fundo do mar. Um olhar descuidado perde o melhor do mundo, isso foi o que descobri.
Para ter um olhar cuidadoso é preciso ter a capacidade de não ser tragado pela pressa do mundo. É preciso respirar fundo e desconfiar do óbvio. É preciso a curiosidade da criança aliada à paciência dos que já viveram muito.
Um olhar cuidadoso muda nossa vida, pois nos insere em um novo mundo, um mundo que nem todos veem. Um olhar cuidadoso transforma tudo e todos em um portal mágico para uma realidade melhor.
Na maioria das vezes não é preciso mudar de país, de trabalho, de relacionamento, de amigos… Basta mudar a forma como olhamos para o mundo. Tudo pode se transformar. Alguns podem chamar isso de magia. Eu chamo de consciência.
Se quiser um bom lugar para começar, sugiro que vá até um espelho e teste este artigo em seu próprio olhar.