por Elisa Kozasa
Há algum tempo atrás fui convidada para um jantar, onde a maioria dos presentes eram profissionais da área da saúde. Apesar de eu, pessoalmente, conhecer poucas pessoas que estavam à mesa, uma conversa animada estava se desenrolando, e eu estava achando divertido e pensando: “… puxa que pessoas interessantes”. Essa impressão estava presente até que uma delas, disse: “Gente, vocês não sabem como tomar fluoxetina mudou a minha vida! Os problemas já eram!”.
Bom, é claro que apesar do antidepressivo, os problemas não foram embora, mas devem ter se tornados mais amenos. Em seguida mais três pessoas disseram que estavam tomando ou que utilizaram recentemente a droga. Bem, realmente não sou contra o uso de antidepressivos, pois é claro, ele são necessários para pessoas com depressão, mas o que me incomodou, ao perguntar o porquê do uso para os presentes, é que os motivos mais pareciam dificuldades ou frustrações cotidianas do que uma doença. A impressão que tive é discutida em alguns livros e tem gerado comentários na área de saúde: o problema do abuso de antidepressivos.
Conversando com um amigo psiquiatra, ele relatou que percebe claramente quando alguém chega ao consultório e está só querendo a “pílula mágica”, sem necessidade. Ele, como profissional consciente, explica que não é o procedimento recomendado para o caso, mas muitas vezes fica claro que o seu discurso não está adiantando, e que o cliente irá em busca de outro profissional para tentar conseguir uma prescrição da droga.
Muitas pessoas querem alívio imediato para suas dores, sejam físicas ou emocionais e não querem esperar o tempo e a sabedoria trazerem a cura.
Conversando recentemente com uma mãe, achei admirável a postura dela com os filhos: desde pequenos quando eles vinham com queixas, mesmo de dores físicas, como uma dor de cabeça simples, ela dizia pacientemente para esperarem um pouco que eles iriam perceber que ela passava. Para as dores emocionais a recomendação era similar e ainda com a dica de procurarem perceber porque eles estão passando por elas, quais as causas e a repercussões dessas causas.
Dessa maneira, eles cresceram percebendo a transitoriedade da maioria das dores e descobrindo quando precisavam realmente de uma ajuda externa ou não.
Citando Nietzsche: “o que não mata me fortalece”, parece caber nessas situações. O enfrentamento das dificuldades e frustrações, o aprendizado da superação (muitas vezes doloroso), fortalece nossa personalidade e nos traz sabedoria. Tentar artificialmente substituir o enfrentamento necessário e possível, pode nos impedir de viver com plenitude a experiência de nossa própria humanidade.
Dicas de leitura:
Horwitz AV, Wakefield JC. The Loss of Sadness: How Psychiatry Transformed Normal Sorrow into Depressive Disorder. Oxford university Press, New York, 2007.