por Arlete Gavranic
Homens e mulheres transitam diariamente entre inúmeras atividades. Muitas responsabilidades e afazeres, compromissos, as pessoas vivem na dependência do relógio, do computador, do smartphone!
Assim, a mulher nesses últimos 30 anos tem vivido com uma sobrecarga de atividades e responsabilidades: muitas parecem o que chamo de "mulher-polvo".
Ganhamos direitos com os movimentos feministas, mas muitas mulheres acabaram na descoberta autorizada de viver suas potenciais responsabilidades, se sobrecarregando em demasia.
Mulheres sempre assumiram responsabilidades com seus filhos, preocupação com saúde, com desenvolvimento escolar, com lazer, administrar alimentação, amizades, estudo e lazer, e continuam assumindo!
Mulheres com filhos pequenos que tentam administrar escolinha com a casa e todas as outras necessidades das crianças.
A responsabilidade da casa, seja no cuidado direto de lavar, passar e arrumar ou de administrar alguém que o faça, e administrar o abastecimento para que a casa funcione, são responsabilidades ainda assumidas na maioria das vezes pela mulher. Ainda hoje é pequena a participação masculina nessa área doméstica, muitas vezes por culpa das próprias mulheres que no desejo de agradar, ou competir com cuidados emerados que a mãe dele tinha.
Quando os pais idosos adoecem, na maioria das vezes, as filhas mulheres – com vidas profissionais ou não-, se aproximam e tendencialmente assumem um cuidado protetor e orientador.
Mulheres profissionais assumem compromissos com cargas horárias e responsabilidades diversas: reuniões, relatórios, atendimentos, visitas, decisões e mais decisões, isso tudo com muita cobrança seja pela competência, pela postura e aparência! Isso mesmo, mulheres profissionais embora tenham menos tempo disponível precisam investir em sua aparência: vestimenta, cabelo, sapatos, maquiagem!
E nessas situações encontramos mulheres acordando muito mais cedo (dormindo menos) do que seria necessário, pois precisa fazer uma bicicleta, arrumar cabelo, se maquiar antes de encarar o trânsito ou a condução para ir ao trabalho.
Outras irão necessitar de um investimento maior na sua formação acadêmica, e lá vão as mulheres fazer uma faculdade, ou mais uma faculdade, uma pós-graduação, MBA, mestrado, doutorado. E claro, além das aulas presenciais, terá aulas online, livros para ler e trabalhos para fazer/escrever. E lá vai ela com pouco tempo, mas muita vontade de crescer na sua carreira.
Vejo as mulheres tentando dar conta de todas essas atividades com muita dedicação, empenho, mas observo também o cansaço e o autoabandono pessoal que muitas vivem.
E muitas vezes exausta… ainda faltam alguns aspectos da vida para observar. No cuidado pessoal muitas nem irão se atentar, seja no cuidado estético com o corpo, atenção à saúde; aqueles quilos acumulados por má alimentação na rua poderia ser menos prejudicial se ela estivesse atenta a si mesma. Elas ficam sem fazer seus exames periódicos, e pior ainda, sem os cuidados preventivos femininos! Infelizmente essas mulheres só atentam para o autocuidado quando estão frente a um possível problema, seja porque algo doeu, ou ela passou mal e nem imagina por quê!
O aspecto pessoal-sexual, muitas vezes deixado de lado, irá aparecer numa crise no relacionamento com, por exemplos, carências e traição. E aí vêm a pergunta: por que essas mulheres assumem tantas responsabilidades e cuidam tão pouco de si mesmas e de seus relacionamentos?
Podemos pensar que essa mulher esteja fazendo isso como uma forma de fugir de si mesma? De não querer entrar em contato com seus pensamentos e sentimentos? Algumas podem sim. Outras não.
Existem muitas mulheres que na busca de sua autoafirmação profissional mergulham num ritmo frenético de investimento em trabalho-estudo-trabalho, que não percebem que estão perdendo ou deixando de viver momentos de uma energia pessoal, afetiva e sexual.
Outras no papel de mães fervorosas se incumbem também de uma superproteção na tentativa de levar a zero o risco de fracassos e frustrações de seus filhos, e utilizam o tempo para eles, muitas vezes negando ou pouco usufruindo dos momentos-família ou momentos- casal.
A busca de competência no trabalho, na maternidade, no papel de boa filha, na casa exemplar, faz com que muitas não percebam que seus parceiros andam se sentido abandonados, e essas mulheres muitas vezes acreditavam que todos à sua volta valorizavam suas conquistas. Elas esperavam um reconhecimento afetivo de seus esforços, mas não atentaram – por imaturidade ou por dificuldade em lidar com sexo e afeto-, para aspectos de uma cumplicidade que a intimidade afetiva e sexual consegue ajudar a construir.
Muitas mulheres ainda têm dificuldade de equilibrar essa multiplicidade de papéis e responsabilidades, e acabam quase sempre deixando alguns aspectos com pouco ou nenhum investimento.
Relacionamentos implicam em troca e companheirismo, implicam em intimidade, em expressão de afeto; ninguém gosta de ser apenas um espectador que assiste o outro batalhar e crescer, pois isso não alavanca a sensação de estar junto nessa caminhada, e essa sensação de importância na parceria com o outro.
Muitas mulheres fogem da intimidade sexual ou por questões religiosas, por história de abuso, por baixa autoestima que as faz evitar uma exposição corporal mais intima, por não terem tido tempo, interesse ou oportunidade de desenvolverem esse lado sensual e sexual da mulher e por isso não estimulam o desejo de viver o prazer a dois.
Às vezes fogem da intimidade afetiva e sexual por medo de não darem conta, medo de sofrer, medo do erótico, vergonha corporal, de sentir-se traída ou pouco valorizada, e acabam investindo em outras áreas da vida.
Todos esses papéis e responsabilidades são importantes de serem vividos. A mulher precisa aprender a lidar com seu desejo perfeccionista. É verdade que em alguns momentos uma área pode tomar mais tempo, mas não é para sempre e isso não pode significar o abandono de nenhuma área da vida, principalmente de si mesma e de seus vínculos afetivos e relacionais.
Quantos papéis temos que aprender a administrar: ser mãe, filha, administradora de casa, ser profissional, estudar, ser mulher com seu auto cuidado, ser companheira, ser namorada e amante… em cada papel uma carga de trocas afetivas e de crescimento, mas que exige das mulheres um amadurecer para viver seus papéis com equilíbrio.
Pode ser mulher-polvo, só não pode abandonar-se, pois você é seu eixo de equilíbrio, prazer e sucesso!
"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo" Carlos Drummond de Andrade