por Eliana Bussinger
Já vai longe o tempo em que as mulheres brasileiras dependiam dos seus homens para viver, bem como a data em que foi comemorada o 1º Dia Internacional da Mulher: 08 de março de 1975. Hoje elas já são quase metade da força de trabalho, estão em toda parte, transformando a face que o nosso país mostra ao mundo.
Mas por que as mulheres estão em busca do dinheiro próprio?
Qual é a importância desse dinheiro que a mulher está produzindo?
Será que elas estão no mercado de trabalho para:
– conquistar o mundo?
– ficar milionárias?
– ter poder?
– competir com os homens?
– competir com outras mulheres?
– comprar imóveis? Talvez barcos, aviões ou helicópteros?
– será que elas querem ter dinheiro para investir na Bolsa de Valores e no mercado financeiro?
As respostas que usualmente escuto em minhas palestras para mulheres passam bem longe das frases acima.
O que geralmente elas dizem é algo parecido com “Eu preciso do meu próprio dinheiro para”:
– sobreviver,
– sustentar meus filhos,
– ajudar meus pais,
– ajudar meu marido, (ou minha igreja, ou minha comunidade)
– fugir de uma relação abusiva (escapar de maus tratos físicos, acreditem, é um bom motivo para buscar dinheiro próprio)
– ou até mesmo, “estou trabalhando porque não tenho outra escolha, se tivesse, ficava em casa cuidando dos meninos”.
Já encontrei mulheres que me disseram que trabalham para ser independentes financeiramente, verdade seja dita. Quando comecei a trabalhar com mulheres (e já tem um bom tempo) caso escutasse essa frase já esticava logo meu pescoço para a platéia, buscando a mulher que afirmava isso.
Ao longo dos anos, no entanto, comecei a perceber que a frase era curta demais para qualquer mulher. Não tem mesmo jeito da frase vir sozinha, com um bom ponto final. Ela tem que vir com um complemento de algum tipo; “Trabalho para ser independente financeiramente, assim posso ajudar meus filhos (ou os pais, ou o maridão)”. Bingo!!!
Por que tantas e tantas mulheres ainda respondem dessa maneira, quando questionadas sobre o dinheiro que elas suam a camisa – perdão, a blusa – para receber?
Você acha que isso está certo ou não?
Bem, antes de nos atrevermos a qualquer resposta, um pouco de história pode – uh – ajudar.
História: a mulher e o dinheiro
As mulheres – com algumas notáveis exceções – saíram para o mercado de trabalho, há uns cinqüenta anos mais ou menos.
Nos Estados Unidos e Europa elas se lançaram no mercado de trabalho, durante a Segunda Guerra Mundial, com o intuito de ajudar seus países no tal esforço de guerra. Enquanto os homens lutavam nos campos de batalha, as patrióticas mulheres americanas e européias saíram das suas cozinhas, atendendo ao chamado de seus governantes, para construir artefatos de guerra ou para substituir os homens onde quer que fosse necessário.
Quando a guerra acabou, os homens retornaram e quiseram seus empregos de volta, mas para isso foi preciso convencer as mulheres a voltarem para a cozinha.Não deu certo, obviamente. Ainda que mulheres virtuosíssimas – e suas casas impecáveis – aparecessem aos montes no cinema e na televisão, a tentativa de fazer a mulher comum retornar ao modelo anterior de constituição familiar, foi por água abaixo, porque elas já haviam descoberto um novo senso de propósito para suas existências: gostaram de ter seu próprio dinheiro e, gostaram ainda mais, da possibilidade de consumir sem ter que dar satisfação a quem quer que seja – especialmente quando se tratava de bolsas e sapatos.
As empresas também gostaram do novo poder de compra que se somava ao clássico poder de compra do homem. Claro! Muitas mulheres resistiram e não voltaram – de jeito nenhum – ao acordo antigo dos sexos. Elas também não conseguiram criar um novo acordo com os homens. Ou seja, eles voltando da guerra e assumindo o lugar delas na cozinha. E foi assim que uma nova guerra começou: a chamada guerra dos sexos.
Muitas mulheres resolveram lutar para que seu novo estilo de vida se expandisse por todas as partes do planeta e, assim, elas poderiam ajudar outras mulheres a conseguir a tão sonhada igualdade, afinal.
E os anos sessenta chegaram rapidamente. E com eles os escritos de *Simone de Beauvoir, **Betty Friedman e a nossa ***Rose Marie Muraro.
Ah! E também vieram os tempos de inquisição para os sutiãs, que foram impiedosamente queimados nas fogueiras em praças públicas.
No Brasil, as mudanças do mercado de trabalho vieram um pouco mais tarde: na década de setenta, durante o milagre econômico. As mulheres brasileiras só saíram de casa para trabalhar quando algumas vagas de emprego começaram a sobrar. Era preciso trabalhar para ajudar o bolo a crescer, para depois dividir, como se dizia na época.
Depois disso foram as benditas (malditas?) crises. Uma atrás da outra. O homem brasileiro – coitado – enfrentou séria dificuldade em suprir – sozinho – as inesgotáveis demandas de uma família urbana em transformação, onde todo mundo passou a ser um consumidor em potencial, mas só o homem estava produzindo renda.
A mulher brasileira então saiu de casa em busca do seu próprio dinheiro, movida não apenas pelas transformações de um mundo que se globalizava, mas também, pela dificuldade de encontrar homens que ganhassem bem! Brincadeirinha, brincadeirinha, calma! Refraseando – as mulheres foram movidas pela necessidade (altruísta diga-se de passagem) de ajudar seu companheiro a complementar o orçamento da nova família consumidora.
Dinheiro da mulher garante independência financeira do homem
Hoje na evolução social, o verbo 'ajudar' no contexto familiar, já assumiu outras conotações. O momento social, que sucede o companheirismo anterior, é o do individualismo econômico e da popularização do divórcio. Um em cada dois casamentos se desfaz no Brasil. E tanto o homem, quanto a mulher, já produzem sozinhos a renda que é minimamente necessariamente para liderar uma casa.
“O dinheiro da mulher brasileira está garantindo a independência financeira do homem” garante o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Sem precisar – necessariamente – pagar pensão, porque a mulher se garante em muitos dos casos, o homem brasileiro está saindo das parcerias e dos casamentos com grande facilidade. As mulheres já comandam um terço dos lares brasileiros. Sem ajuda. Que reviravolta em tão pouco tempo, não é?
Nesse momento, que ainda é de transição, a mulher brasileira precisa estar atenta para as suas próprias vulnerabilidades. Ainda que ela esteja suando a blusa como em nenhum outro momento da história moderna para ganhar seu próprio dinheiro, é mais do que certo que ela ainda não detém o conhecimento financeiro que é necessário para que esse dinheiro seja bem utilizado.
É uma questão de prioridades. Já fiz dezenas de palestras e tenho exemplos de depoimentos como: "Ah! Mas tenho que pensar no marido, nos filhos, nos pais…". A mulher quase nunca se coloca em primeiro lugar. Aparentemente elas têm medo de ser consideradas egoístas se isso acontecer. A sociedade também vê com preconceito a mulher milionária, bem-sucedida (como resultado de esforço próprio). Essa questão é que precisa ser mudada.
Então, ainda que você ache que ajudar continuará sendo um bom verbo para ser conjugado no presente ou no futuro, o que você acha da ideia de ajudar-se a si própria?
Dicas de ouro para usar bem o seu dinheiro
1ª) Ajude-se. Coloque a máscara de oxigênio em você primeiro.
2ª) Nunca gaste mais do que você ganha
3ª) Invista na sua educação, faça cursos, viaje, aprenda constantemente – aqui reside o seu diferencial competitivo no mercado de trabalho
4ª) Poupe e invista para seu futuro
5ª) Pense na sua aposentadoria, começando a investir com esse objetivo desde já
6ª) Aposte fundo na conquista do seu conhecimento financeiro
Os novos tempos estão exigindo muito cuidado com seu dinheiro. Nada de bobear!
*Simone de Beauvoir (1908-1986): Escritora existencialista francesa, abominava o casamento, preferia o trabalho à maternidade, teve um casamento com Jean Paul Sartre morando em casas separadas.
**Betty Friedman (1921-2006): Mãe' do feminismo americano.
***Rose Marie Muraro: Escritora formada em Física e Economia, publicou diversos livros polêmicos, contestadores e inovadores do ponto de vista dos valores sociais modernos. Nasceu cega e recuperou a visão aos 66 anos.