por Eliana Bussinger
As mulheres são de fato mais conservadoras do que os homens quando se trata da alocação dos seus recursos?
Para os especialistas as atitudes femininas em relação aos investimentos são conservadoras. Para começar, pertence a elas mais da metade das contas de caderneta de poupança no país. E ¼ das contas de investidores individuais pessoa física, segundo dados da Bovespa.
As mulheres preferem segurança, previsibilidade de ganhos e facilidade de administração dos seus recursos, privilegiando aquilo que conhecem.
Raramente uma mulher busca "o maior retorno possível" em seus investimentos, como acontece com alguns homens que procuram os agentes financeiros para investir.
Mas é bem possível que a ideia de que as mulheres são mais conservadoras do que os homens além de pré-concebida não passe de um mito.
O mais provável é que uma vez compreendidas as variáveis que envolvam os riscos dos investimentos, as mulheres se prontifiquem a assumi-los.
Pesquisas nos Estados Unidos trouxeram à tona um fato curioso: quanto mais as mulheres educam-se financeiramente mais arrojadas elas se tornam, enquanto que os homens passam a temer o mercado, à medida que aprendem mais sobre ele.
Sandra Blanco, que coordena o clube de investimentos Mulherinvest, concorda com a idéia de que as mulheres ampliam suas zonas de conforto com o mercado financeiro, à medida que são expostas às regras, conceitos e jargões do mercado. Quando as mulheres cotistas do seu clube passaram a compreender a linguagem dos investimentos, conviver com o risco passou a ser algo natural e muitas delas, além de participarem do clube já começaram a construir suas próprias carteiras.
Saiba como evitar o conservadorismo na hora de investir
1º) O conservadorismo está associado ao medo e ao desconhecimento. A principal razão que as afasta do mercado é o desconhecimento.
Se as mulheres passassem a falar mais sobre ações, dividendos, ganhos de capital ou as diferenças entre renda fixa e renda variável, como fazem as cotistas do Mulherinvest, muito provavelmente o temido vocabulário do sistema financeiro acabaria incorporado à rotina delas e de suas famílias. Como, aliás, já acontece em diversos países do mundo, onde tais assuntos fazem parte do dia-a-dia das pessoas.
Não é segredo para ninguém que as mulheres falam mais do que os homens, são disseminadoras e multiplicadoras do conhecimento. Portanto, ensinar as mulheres sobre o mercado é levar para a mesa de jantar dos lares brasileiros essa instigante matéria. Todas as mulheres investidoras que conheço compartilham seu conhecimento com os filhos, os pais, os amigos e vizinhos. É fundamental, portanto, envolver as mulheres brasileiras na gestão financeira, especialmente a de longo prazo.
2º) Ganhando menos do que os homens como afirmam e reafirmam as pesquisas mais recentes – a última delas do BNDES – é fácil entender por que as mulheres tendem a ser mais cuidadosas com o dinheiro. Afinal, fazer sobrar dinheiro de salários 30%, 50% menores do que seus pares é muito mais difícil. Por isso, elas se apegam quando conseguem poupar, evitando riscos, especialmente aqueles que não consigam calcular ou compreender. E quando buscam preservar seu capital, elas acabam direcionando seus investimentos para opções de menor risco, e que são inevitavelmente as mais conservadoras.
3º) Paradoxalmente, no entanto, milhões de mulheres lançaram-se no empreendedorismo nos últimos dez anos. E milhões de outras estarão fazendo o mesmo nos próximos anos. O empreendedorismo feminino cresce a passos muito mais rápidos do que o masculino. E isso mundialmente. As mulheres estão em busca da independência e do sucesso financeiro. Ora, empreender é investimento de altíssimo risco. Especialmente quando se faz como muitas delas estão fazendo, ou seja, ignorando totalmente a regra número um do mercado que é "não colocar todos os ovos na mesma cesta".
Economias de muitos anos são colocadas integralmente em empreendimentos que muitas vezes acabam mal. Isso sem falar de comprometimentos de anos no pagamento de empréstimos contratados a juros altos. Conservadoras? Nada mais injusto!
4º) Fiéis a seus agentes financeiros, as mulheres costumam relacionar-se com apenas um banco, geralmente por causa do gerente com quem sempre constroem uma relação forte de confiança. E apóiam-se nas decisões deles para alocar seus recursos. Ora, gerentes de banco ainda não absorveram a cultura do mercado de capitais e raramente indicariam produtos mais arrojados, seja por desconhecimento, por medo, por estar habituado aos produtos de renda fixa ou por ausência de metas determinadas pela direção das suas empresas. Dificilmente um banco determinaria metas de venda de ações, por exemplo.
As mulheres pedem palpites, ouvem as opiniões e costumam acatar tais sugestões quase sempre conservadoras. Os homens, ao contrário, não gostam de pedir informações.
5º) As mulheres não têm tempo! Envolvidas em suas múltiplas jornadas (trabalho, filhos, pais, escolas, culto ao corpo, etc) mesmo as mulheres que já são investidoras costumam utilizar-se de gestores ou de terceiros, a quem delegam suas decisões financeiras. Dessa forma elas viajam pelo mundo dos investimentos no banco do carona e não do motorista. Isso atrapalha o aprendizado e contribui para as estatísticas de conservadorismo, porque são raros os gestores que colocariam os investimentos das mulheres em instrumentos arrojados.
Os motivos para isso são diversos, mas entre eles certamente está o da própria pré-concepção de que as mulheres são conservadoras, e que, portanto eles não devem arriscar o dinheiro delas. Isso acaba alimentando um círculo estranhamente vicioso.
6º) E, para nocautear o mito do conservadorismo, basta lembrarmos que as mulheres são tão arrojadas (desprendidas?) que não titubeiam em esvaziar suas carteiras, assinar um cheque em branco, resgatar seus investimentos, mesmo que tenham que incorrer em penalidades, se a melhor amiga pedir emprestado, se os pais idosos ficarem doentes, se um filho precisar para pagar a faculdade ou um neto ficar doente.
As mulheres dificilmente colocam seu próprio futuro em primeiro lugar, na sua longa lista de prioridades. E essa é, sem dúvida, uma prerrogativa feminina.