Por Arlete Gavranic
Com muita frequência escuto mulheres preocupadas com sua solteirice.
Isso me preocupa, pois vejo esse sentimento de inadequação mesmo em adolescentes preocupadas, porque ainda são bv (boca virgem= não beijaram); outras porque não tiveram sua primeira transa. Se não foi assediada por nenhum colega ou namoradinho, vem um sentimento de tristeza profunda, como se não transar até os 15, 16 ou 17-18 anos fosse uma inadequação para a vida.
Observomulheres de 22/23 anos preocupadas, pois estão terminando a faculdade e ainda não encontraram uma parceria "apaixonante e estável", como se essa busca antagônica fosse muito fácil!
Mulheres jovens se perguntando se não deveriam aceitar aquele parceiro "quase legal", pois… e se dispensar esse e não achar outro que a queira? Essas incertezas e inseguranças são de umas poucas mulheres com baixa autoestima ou uma autoconfiança frágil? Infelizmente, não.
Temos uma cobrança cultural que mobiliza nas mulheres uma ansiedade em relação ao tema. O temor de "ficar para titia" ou de "encalhar" se perpetua no inconsciente coletivo dessas mulheres que ainda não encontraram "um príncipe"!
Mulheres recém-separadas também podem entrar nesse sentimento de inadequação em busca de nova parceria. E aí observamos mulheres – de todos os níveis sociais e culturais, tanto na faixa dos 30-40 anos que saem em busca de beijar, ficar, transar, como num resgate de adolescência.
Algumas mais afoitas em buscar um novo parceiro têm atitudes de exposição a riscos; saem sozinhas, com o novo "candidato a príncipe", sem saber para onde e sem conhecer nada do outro e nem avisam nenhuma amiga. Outras se descuidam após o segundo ou terceiro encontro e trasam sem preservativo. Algumas trazem esse "príncipe" para dentro de casa; o que muitas vezes também coloca em risco sua segurança e a dos filhos.
Apesar dos discursos modernos, e de uma grande parte dessas mulheres ser financeiramente independente, parece que realmente incorpora a ideia de que é preciso correr atrás da outra parte ('a outra metade da laranja'). Isso traria autoconfiança.
É preocupante ver o sofrimento que muitas mulheres vivem por não terem uma parceria fixa, como se isso significasse que ela não tem valor; e não fosse atraente ou interessante.
Faço algumas leituras nessa temática.
Algumas mulheres assustam os homens pelo seu jeito possessivo, grudento e possivelmente dependente. As mulheres que são financeiramente dependentes assustam (até apavoram!) muitos desses homens. O discurso e algumas atitudes dessas mulheres dependentes são o suficiente para fazer muitos homens fugirem.
Já a dependência afetiva de querer o outro sempre junto, querer contar tudo, saber de tudo, pedir apoio ou opinião para tudo, pode ser muito aversivo para alguns homens que apreciam liberdade ou não gostam de 'dar satisfação', mas pode ter uma conotação positiva para homens inseguros, e portanto mais controladores, que terão nessa dependência afetiva a impressão de sua importância e valor para o outro.
Por outro lado, alguns homens ainda têm muita dificuldade em se relacionar com mulheres que vivem uma trajetória de autonomia: seja de opiniões, seja financeira ou na forma de viver o lado afetivo-sexual.
Para alguns homens, essa autonomia pode significar insegurança ou desconfiança. É um grupo de homens 'interessantes'. Eles não gostam de mulheres dependentes, mas querem que ela peça opiniões quando têm necessidade de tomar decisões, seja para decidir uma viagem para o fim de semana ou férias, comprar um carro ou buscar ajuda para abrir um vidro de palmito. São homens que podem se sentir ameaçados em seu poder e importância pessoal quando veem essa mulher independente.
Há também o temor de comparações com outros parceiros. Para esses homens, não tão confiantes quanto à sua performance na transa, esse é um fantasma terrível.
Já outras não se contentam em ter apenas um cara para ficar e se divertir quando está com vontade de transar, ou em ter 'namorados' que vivam a vida deles, na casa deles. Estão sempre querendo mais, querendo junto, querendo exclusividade em tempo quase integral. Muitas dessas mulheres precisam rever conceitos de solidão e de companheirismo, e aprender a viver bem com elas próprias e com sua existência!
Opções
Terapia, academia, fazer amigos, eventos culturais, esportivos, gastronômicos, ou um jogo de trana, pif-paf ou pôquer com amigos, sair para dançar, viajar só ou com amigas ou parentes, bons livros, paquerar nas livrarias em SP, é sempre uma possibilidade. Teatro, cinema, stand-up, caminhadas, assistir a jogos em bares, andar de bike nos parques da cidade… quantas possibilidades para fazer amigos(as) e talvez conhecer gente interessante … Relação fixa ou não!