por Eliana Bussinger
Ninguém sabe afirmar ao certo porque as mulheres vivem mais do que os homens. Aliás, muito mais do que eles: no nosso país a média é de 7.8 anos a mais segundo o IBGE.
Estudos nos EUA da Alliance for Aging Research mostraram que o hiato entre vida e morte dos homens e mulheres sempre existiu (era cerca de 2 ou 3 anos até o início do século XX). Mas tornou-se progressivamente maior após avanços tecnológicos da medicina garantirem maior qualidade na forma como as mulheres dão à luz.
A redução da mortalidade durante os partos, nas primeiras décadas do século XX, permitiu que esse hiato chegasse a 7 anos. E assim permanecesse até os dias de hoje.
Os partos matavam as mulheres de maneira impiedosa, assim como, até hoje, as doenças coronárias fulminam os homens.
É bem verdade que um parto jamais matou um único homem, curiosamente no entanto, o estresse da vida moderna, hábitos destrutivos de alimentação e vícios perniciosos talvez venham a ser uma das razões para que o gap de longevidade volte a se fechar – de forma negativa – dado que mais e mais mulheres estão sofrendo de doenças coronárias.
A menos, é claro, que as poções mágicas da medicina e da ciência venham nos salvar, reduzindo a mortalidade por doenças do coração: a principal razão de morte no mundo inteiro (segunda é o câncer).
Por enquanto, por terem uma longevidade 10% superior a deles, as mulheres acabam, no final da vida, muito vulneráveis a vários doenças e a muitos problemas financeiros.
Não! Não são apenas as despesas com médicos e remédios, por falta de serviços sociais decentes, que as tornam mais vulneráveis, mas sim a acumulação financeira que quase sempre é precária durante a vida produtiva da mulher.
'Cavalo de Tróia'
É por isso que não é difícil afirmar que esse presente de maior longevidade acaba se tornando um verdadeiro 'Cavalo de Tróia'. Aliás, é uma pena que assim seja considerado. Viver é bom e sempre deveria ser assim. Mas as mulheres, por viverem mais, além de ficarem sozinhas na terceira idade (aumento das taxas de divórcio e menor longevidade dos parceiros), adoecem com facilidade e acabam precisando de cuidados especiais, que incluem acompanhamento médico, cirurgias, remédios (caros) de uso contínuo e um número sem fim de exames laboratoriais.
Isso exige facilidade de locomoção e, às vezes, um acompanhante (você sabia que em alguns hospitais as pessoas idosas só são atendidas se estiverem acompanhadas? E o critério é idade e não habilidade física ou sanidade mental, como se um simples número significasse alguma coisa? Ora, nem todo mundo está incapaz e nem todo mundo tem alguém a seu lado, ou dinheiro para pagar um acompanhante ou um táxi, por isso muitos idosos acabam desistindo de procurar atendimento médico.
O meu discurso para as mulheres que são jovens ou estão em processo de pré-menopausa é que observem as mulheres idosas de suas famílias: quanto vivem, como vivem, de quem dependem, quão saudáveis elas são, quanto elas se divertem, como elas agem, quem gosta delas. Enfim, observe se é assim que você quer envelhecer, porque aí está algo inevitável. Sinto muito. Se acharmos que viver é bom, inevitavelmente envelheceremos.
E se você optar por qualidade na terceira idade, então isso só dependerá de você.
Do que você faz hoje para ser mais exata!
A pessoa que você será no futuro está sendo construída hoje, no presente.
Envelhecer com qualidade custa caro. É preciso juntar pequenas fortunas para que isso aconteça. Não espere por ninguém. Filhos ou governos, principalmente.
Os filhos porque precisam cuidar das suas próprias vidas e os governos porque não são confiáveis e isso você já sabe.
Ainda que seja difícil, pense em cada gasto e investimento que você faz hoje, porque isso pode estar prejudicando esse futuro (possível) de qualidade.