por Elisandra Vilella G. Sé
No texto anterior (veja aqui), vimos como a música tem um papel importante na atenção à saúde em vários níveis. Neste artigo descreverei os benefícios que os idosos podem usufruir com a musicoterapia numa variedade de aplicações.
A música tem um papel importante na vida moderna, em que as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a sobrevivência e em acompanhar a velocidade com que os acontecimentos ocorrem e cada vez menos estão em contato com suas famílias, seus afetos e suas emoções.
A música possibilita sentir, recordar, expressar, criar e autorrealizar. Várias doenças mentais (depressão, demência, epilepsia, transtornos ansiosos, psicóticos, autismo… ) estão vinculadas a deficiências e desintegrações da capacidade comunicativa, a qual pode ser estimulada e facilitada através da musicoterapia.
No Brasil, o musicoterapeuta, profissional da saúde, já conquistou ampla área de atuação, na qual se obtém cada vez mais e melhores resultados.
Do ponto de vista neurofisiológico a música tem influência no nosso córtex temporal, importante região para a decodificação dos estímulos auditivos e da memória.
O córtex temporal exerce também importante função musical. O córtex temporal esquerdo é indispensável para a composição e escrita da música, enquanto que o córtex temporal direito tem a função do reconhecimento de uma música que esteja ouvindo. O reconhecimento da música, portanto sua identificação, constitui uma função cognitiva, a gnosia musical. Também é função do córtex temporal direito executar a música cantando-a.
Ao córtex temporal direito cabe o reconhecimento da música, assim como a execução das melodias e da prosódica musical: o ajuste das palavras à música e vice-versa, a fim de que a sucessão de sílabas forte e fraca coincida com os tempos fortes e fracos dos compassos.
Melodia é a sucessão rítmica, ascendente ou descendente de sons que encerram o sentido musical.
Um nível elementar de conhecimento musical todos nós possuímos, devido aos processos de aprendizagem que ocorreram durante nosso desenvolvimento.
Portanto, algumas características do paciente são de suma importância o profissional conhecer para favorecer a aplicação da musicoterapia. A pessoa com conhecimentos musicais pode trazer experiências prévias positivas, mas também poderá entrar em confronto com o musicoterapeuta por ser difícil romper as *defesas musicais que já foram estabelecidas e consolidadas ao longo da vida.
Numa primeira fase o musicoterapeuta procura identificar o histórico sonoro-musical da pessoa com uma ficha musicoterapêutica e depois com testes e numa segunda etapa trabalhar ativamente com música em sessões de musicoterapia. As atividades também poderão ser incluídas em outras atividades, tais como a Educação Física, a Educação, oficinas didáticas, dinâmicas de grupo. Trata-se de estabelecer canais de comunicação, mediante a identidade sonora da pessoa para a atividade em questão, para a integração em grupos ou em outras terapias.
As sessões de musicoterapia constituem a parte ativa e terapêutica, colocando em prática as estratégias para a abertura de canais de comunicação, utilizando instrumentos musicais, sons diversos, músicas de repertórios variados e a comunicação não verbal.
No processo musicoterápico, a música é utilizada como um instrumento valioso e facilitador da relação terapeuta-paciente. Por meio da abordagem da musicoterapia, o profissional poderá estimular o indivíduo a se comunicar mais abertamente, sem medos, de maneira mais adequada, desinibido, ajudando-o a se expressar, a perceber o outro, a partilhar. A abordagem da musicoterapia trabalhada em sessões pode ser com instrumento musicais trabalhando vários ritmos e intensidade de sons, acompanhando o ritmo com sons vocálicos; músicas de várias origens e diversos estilos; músicas que estimulem reminiscências; sons e vibrações do corpo humano etc.
Benefícios da música
A música pode influenciar os estados físicos, de comportamentos, estado de humor, atitudes etc. Aumentar a vigilância, a eficiência, a produtividade, a moral e a segurança nos locais de trabalho; reduzir a tensão, a fadiga, o tédio, a melancolia ou a solidão durante qualquer atividade; modular o humor das pessoas em áreas públicas (hospitais, consultórios, aeroporto); estabelecer uma atmosfera convidativa para a conversação.
Com a musicoterapia, é possível também, estimular a prática de valores como, por exemplo, o respeito, a disciplina, colaboração, união, compartilhamento…
A musicoterapia utiliza a música como ferramenta para facilitar a conscientização do cuidado com a saúde e o fortalecimento dos núcleos sãos do indivíduo, levando as pessoas a descobrirem, por elas mesmas, como se cuidarem e a cuidarem dos demais. Dessa forma, o musicoterapeuta utiliza a música como um instrumento capaz de propiciar o crescimento pessoal, estimulando seu desenvolvimento global.
* Defesas musicais são os vícios que a pessoa pode ter com relação ao uso da música. A pessoa pode ficar resistente em utilizar outros ritmos ou outros estilos musicais porque ela tem consolidado o que ela sempre escutou.