por Roberto Santos
É muito comum ouvirmos em entrevistas de emprego, dinâmicas de grupo e outras situações, a tradicional pergunta: Quais são seus três pontos fortes e seus três defeitos, ou sua forma eufemística: suas oportunidades de desenvolvimento? E aí vem aquela dúvida mais fácil – quais, de minhas infindáveis qualidades, eu escolho para responder e aquele dilema bem mais atroz – que defeito eu poderia falar que me prejudicaria menos no processo em questão?
Por um lado, o problema com esta questão é técnico pois o selecionador que toma a autodescrição do entrevistado – sejam suas qualidades ou seus defeitos – como verdade para basear sua decisão, já está errando, pois é muito fácil inventar qualidades e esconder os verdadeiros pontos fracos que temos.
Esta pergunta pode até ter certa validade se, por outros meios, o selecionador já detectou os pontos fortes e fracos da pessoa e quer checar o nível de autoconsciência sobre eles – base para o contínuo autodesenvolvimento.
Contudo, isso não resolve o dilema de quem precisa responder à pergunta num processo onde ele (a) depende da opinião favorável de quem faz a pergunta e criticar a deficiência técnica da abordagem não resolve.
Assim, numa apresentação pessoal, lidamos com duas questões: ética e prática. A primeira tem a ver com o quanto queremos falar a verdade e a segunda, o quanto posso ou devo focalizar os aspectos da “verdade” que mais se aplicam à vaga ou às competências que estão sendo avaliadas num processo de assessment interno.
Quando falseamos as informações sobre nossos pontos fortes e a desenvolver corremos dois riscos:
(1) o selecionador tem bases suficientes para avaliar a realidade sobre aqueles aspectos do entrevistado(a) e a “mentira” pesará contra em sua decisão ou
(2) o entrevistador aceita como verdade as invenções do candidato e, depois de algum tempo, a verdade emerge e perde-se o emprego.
Quando optamos pela verdade, podemos destacar os pontos que são mais relevantes para a situação em que estamos sendo avaliados. Se estamos sendo considerados para uma posição comercial, destacar como qualidades, nossa facilidade com números e habilidades interpessoais e mencionar como defeitos, nossa impaciência com certas burocracias processuais comuns em todas as empresas, estaremos falando verdades que podem até ser vistas como positivas para o processo.
Uma condição necessária para definirmos esta abordagem é o conhecimento prévio, ou pelo menos uma boa estimativa, do que é importante para a vaga ou empresa em que poderemos ouvir a famosa pergunta. Para ser também suficiente, a condição para planejarmos nossa resposta é termos exemplos de comportamentos passados que demonstramos em situações reais, pois um bom selecionador vai investigar comportamentos passados que permitam predizer os mesmos comportamentos no futuro.