por Lilian Graziano
Mudar é bem difícil! É o único ponto em que todos concordam: psicólogos (Positivos ou não) e clientes, médicos e pacientes, chefes e subordinados, neurocientistas. De velhos e maus hábitos a pequenas transgressões, são incontáveis as tentativas de evitá-los que muitos empreendem sem sucesso. Em minha opinião, isso tem uma raiz importante. Ou melhor, ocorre por nossa falta de "raízes".
Em processos de coaching por exemplo, características positivas e outras potencialidades/oportunidades do indivíduo acabam sendo ignoradas num processo de transformação visando seu bem-estar ou melhor desempenho. "Raízes fortes" e nativas deixam de ser nutridas para serem substituídas por "mudas exóticas" que correm o risco de não vingar. E isso acontece quando as metas são ambiciosas demais ou mesmo quando o trabalho é exclusivamente focado no desenvolvimento de GAPs (pontos fracos).
Explicando as metáforas, falo de quando o que se busca não é moldar uma essência fundamentalmente boa, que muitas vezes só precisa de lapidação. Diversos coachees (indivíduos que se submetem ao coaching) procuram, na verdade, construir em si um novo ser humano, idealizado, com modelos distantes de sua realidade, recursos fora de si, nada que já tenham de bom ou promissor. Revolução?
Sim, pois a palavra "mudança" tem mesmo o poder de arrepiar o indivíduo ou provocar nele um ímpeto revolucionário que ofusca qualquer razão ou pragmatismo e, mesmo, desligam nossa escuta atenta para nossos reais desejos e emoções.
Porém, nada mais prático: abrigamos em nós 24 forças pessoais (veja aqui), cujas 5 mais fortes se configuram em nosso melhor recurso para a vida, é o que de melhor podemos oferecer ao mundo. Tais forças são intrínsecas à nossa essência humana, nos conectam com virtudes poderosas que, segundo a Psicologia Positiva, se convertem no caminho mais curto da felicidade.
É como na canção versada para o Português por Zizi Possi: "Seu coração… tem algo que nunca muda…". Gostando ou não da música ou da cantora, não se pode negar que essa natureza virtuosa nos é tão permanente quanto, como diz a canção, com seu pronome indefinido, "algo" desconhecido.
Por que ignoramos esse recurso? Talvez o pronome indefinido da canção se traduza na absoluta falta de autoconhecimento em que nos encontramos. Conhecer a nossa essência, nesse caso, define o que há em nosso coração. Nos conduz a um paradoxo inevitável, mas certamente receita de sucesso: apostar no imutável, esse nosso "algo" natural, para mudar.
Cultive seu "algo", suas "raízes", sua essência. Na excelência desse cultivo mora, por fim, a verdadeira transformação.