por Antônio Carlos Amador
Na sociedade contemporânea, em que ser jovem e manter a juventude é quase uma obsessão, muitas pessoas enfrentam dificuldade de enfrentar a simples ideia de que estão a envelhecer. Ocorre que elas não percebem que, mesmo idosa, uma pessoa continua a ser o que sempre foi. Se ela sempre valorizou a vida nos anos anteriores, se foi flexível, aberta às mudanças, sabendo ajustar-se aos desapontamentos, reveses e perdas, provavelmente assumirá a mesma atitude ao envelhecer.
Se, pelo contrário, sua atitude foi de negação da vida, empregando esforços e energia para se debater contra ela, isso significa que há rigidez e ausência de disposição para se curvar ao fluxo de acontecimentos. Tudo indica que ela envelhecerá com essa mesma atitude, talvez mais acentuada.
Um modo de vida rígido não dá margem a mudanças, espontaneidade, flexibilidade ou variedade; em consequência, o estresse é maior. Se não podemos nos curvar ou considerar e avaliar novas ideias, métodos, descobertas e fórmulas, à luz de mudanças e de revelações, esse tipo de rigidez afeta diretamente o processo de envelhecimento.
Algumas pessoas idosas se surpreendem quando, ao tentarem coisas novas, descobrem recursos interiores cuja existência ignoravam. Não importa quão idoso seja alguém, há sempre algo novo que pode tentar, experimentar, explorar pela primeira vez. Nossos novos meios de passar o tempo (e afagar nós mesmos) são importantes, mesmo que possam parecer exóticos para os outros. Afinal de contas, as mudanças sempre podem causar estranheza.
O envelhecimento pode também afetar nossa identidade, quando passamos a ser enquadrados numa categoria genérica. Passamos a ser um dos velhos, dos veteranos. Muitos idosos se ressentem profundamente disso, principalmente quando se sentem tratados como se fossem entidades de menor importância, ou então, como se queixou um velho ainda vigoroso, com um tipo de gentileza irritante, semelhante àquele que é feito com as crianças, usando diminutivos. Ser chamado pelo nosso nome também é importante, mesmo que vivamos até os cem anos. É recordar nossa individualidade, distinta e única. As pessoas idosas apreciam ser tratadas como todos os demais, sem qualquer preocupação especial decorrente da idade.
Elas necessitam, como todos os seres humanos, de atenção e afeto. Mas acontece que muitos idosos na população são simplesmente esquecidos, postos de lado sem nenhuma razão objetiva. Certamente isso não ocorre por que a família ou a sociedade sejam intencionalmente cruéis. Não é isso; apenas são esquecidos, abandonados, descartados como objetos que já perderam a sua utilidade e propósito. Nem todas as pessoas idosas se arriscariam a dizer isso, mas a verdade é que foram esquecidas.
O problema não é apenas o esquecimento dos idosos pelas pessoas mais próximas. Muitas vezes, devido à real situação dos idosos, as fontes de atenção podem ser praticamente inexistentes. É comum os filhos estarem muito longe, o cônjuge doente, incapacitado ou morto – assim como muitos antigos amigos íntimos e colegas de trabalho. Os problemas de saúde restringem a mobilidade que permitiria à pessoa idosa procurar companhia. É possível alguém morrer por causa de um coração ferido e os corações podem sucumbir quando todas as fontes anteriores de atenção e amor desaparecem.
Para outros, no entanto, a situação não é tão desesperançada. Alguns nunca renunciam ao amor. Sem as fontes costumeiras de amor e afagos, eles recorrem a outros métodos de obtenção de afagos; como escrever ou se comunicar pela internet, por exemplo. Isso lhes possibilita não apenas obter afagos, como também preencher as horas do dia, que poderiam ser extremamente vazias.
Segundo o psicanalista Erik Erikson, na terceira idade é importante que possamos desenvolver um senso de integridade, uma realização baseada na reflexão sobre a nossa própria vida. Precisamos avaliar, resumir e aceitar nossas vidas, obtendo um senso de coerência e integridade, ao invés de ceder ao desespero pela incapacidade de reviver o passado de forma diferente. Se aceitamos a vida que vivemos, sem maiores arrependimentos, sem nos alongarmos no “como poderia ter sido”, ou no “que deveríamos ter feito”, poderemos aceitar nossa morte como um fim inevitável de uma vida vivida tão bem quanto soubemos vivê-la.