por Patrícia Gebrim
Enquanto escrevo este artigo, meu gatinho se acomoda, como gosta de fazer, entre mim e o teclado. Ele faz isso numa espécie de disputa de território, e quem perde sou eu, que tenho que escrever com os braços incomodamente levantados sobre essa bola de pelos com quem convivo há 13 anos. Ele está doente e não sei quanto tempo ainda estaremos juntos, então cedo, deixo que fique, o mimo um pouco; e assim acabamos nos entendendo, eu, o gato e o computador; resultando nestas linhas que você lê, aí do outro lado da tela.
É um enorme aprendizado lidar com a impermanência. Aprender a deixar ir é sempre uma lição para “gente grande”. Deixar ir um animal, uma pessoa, uma ideia, um desejo, uma crença… Temos essa tendência de nos agarrar a tudo, numa estranha busca por segurança. Buscamos a segurança do conhecido, amparados pela falsa ideia de que controlamos melhor o que conhecemos. Isso faz com que permaneçamos atados até mesmo àquilo que nos faz mal. Quantas pessoas não morrem aos poucos em empregos ou relacionamentos falidos e destrutivos, apenas por não serem corajosos o suficiente para virar a página?
– O que nos assusta tanto em uma página em branco a ponto de nos manter aprisionados dessa maneira?
Enquanto não aprendermos a confiar e abrir mão dos controles, seremos nós a permanecer aprisionados nos laços da vida. É preciso aceitar, não há como sabermos o que está por vir. Não podemos congelar a vida. Não podemos impedir a passagem do tempo, as mudanças, a partida daqueles que amamos, os términos, as bruscas viradas de direção. E se temos tanta dificuldade de confiar, o motivo é apenas um: não confiamos na vida.
Não compreendemos que fazemos parte de uma teia maior em que tudo está interligado de maneira absolutamente precisa e perfeita, de forma que cada mínimo evento provoca exatamente aquilo que era necessário para que toda essa rede de relações se beneficie. Nada chega ou sai de nossa vida sem que exista um sentido maior para esse evento. Tudo o que acontece é uma oportunidade para que nos tornemos mais conscientes, mais sábios e mais amorosos do que somos.
Se confiássemos nisso, não resistiríamos tanto às mudanças da vida. Não que não sentiríamos dor em alguns momentos, como a dor de ver a partida de alguém querido. Mas logo compreenderíamos que, sendo essa a natureza da vida, tanto o nascimento quanto a morte são partes do processo natural que mantém em movimento tudo o que existe. Essa compreensão nos ajudaria a abreviar o sofrimento, envolvendo-o em entrega e aceitação.
O antídoto para a dor prolongada é aprender a viver no agora. Viver plenamente o que nos traz cada momento, sem nos perdermos em nostalgias ou antecipações. Apenas desfrutar da oportunidade de aprender com o que está bem diante de nós, sem qualquer julgamento de valor, e assim seguir, um passo por vez, nos tornando mais conscientes a cada passo dado. Qualquer um de nós pode fazer isso. Ao nos permitirmos essa entrega, nos deitamos no colo da vida e em breve tudo vai sendo levado de volta ao seu lugar.
Eu sugiro que você não acredite em minhas palavras. Faça suas próprias experiências. Sinta por si mesmo. Por uma hora. Um dia. Um dia sem tentar controlar tudo que lhe acontece. Um dia lidando com o que quer que lhe ocorra como uma oportunidade de crescimento. Um dia com menos esforço e mais consciência pode ser o suficiente para mudar o resto de sua vida!