Namoro a distância: como se adaptar?

Namoro a distância: o fato dele estar em outra cidade, não prova que ele te ame menos, ou que tenha outra namorada lá, ou tenha interesse em alguém

E-mail enviado por uma leitora:

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“Olá, namoro há dois anos e durante um ano e meio tudo correu bem, mas ele precisou ir trabalhar em outra cidade. E a partir de então, não consegui mais me adaptar… Tenho crises de ciúme por ele estar longe e ficarmos duas semanas sem nos encontrar, e assim brigamos no WhatsApp, quando estamos longe. Isso tá desgastando o nosso relacionamento. Por favor, me ajude. O que preciso fazer? Obrigada.”

Resposta: Olá. Se a gente considerar os últimos dois anos, podemos dizer que seu namoro foi se moldando em meio à pandemia, dentro de situações de restrições sociais e contato com outras pessoas. Não sei se o seu namorado teve a oportunidade de trabalhar na modalidade home office, mas se sim, isso pode ter agravado a sensação de insegurança e de controle quando foi trabalhar em outra cidade. Isso não é exclusividade somente da sua relação. Vários casais estão passando por essa situação nessa retomada de “vida”, indiferente do tempo e modalidade de relacionamento amoroso.

Além disso, o ciúme é um sentimento comum entre as pessoas. Porém, quando temos situações que não conseguimos controlar, isso gera mais ciúme. Temos a sensação que a pessoa estando por perto, ou debaixo de nosso olhar, isso ‘faz’ com que ela nos ame mais ou até mesmo que seja mais fiel. No entanto, só podemos mesmo constatar esse amor e a fidelidade quando estamos dispostos a diminuir esse controle e perceber que a pessoa sente a nossa falta, porque nos ama e não que o nosso controle esteja dando certo; e o outro sente vontade e saudade de estar na nossa presença.

Por que a palavra MAIS fica na frente de qualquer verbo

Tudo isso é complexo, pois quanto mais amamos, mais queremos viver esse amor, e sempre a palavra MAIS fica na frente de qualquer verbo, substantivo, adjetivo ou sentimento que proclamamos dentro da relação: “você está MAIS distante”; “você valoriza MAIS seu trabalho do que a nossa relação”; “se você me amasse, ficaria MAIS tempo comigo”; “sinto que o seu amor não é MAIS o mesmo” etc.

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Quanto MAIS o outro dá, mesmo podendo dar ou não, MAIS queremos, e isso não tem fim, pois nos desgastamos, desgastamos o outro e os dois desgastam a relação.

Como você mesma disse: “não consigo mais me adaptar”. Talvez a sua relação tenha ficado MAIS distante (fisicamente) e isso significa na sua cabeça MENOS amor, ou tem MENOS importância, ou que ele vai encontrar algo ou alguém MAIS interessante que você. Porém, isso tudo pode ser fruto do medo e consequentemente do comportamento de tentativa de controle.

Como se adaptar ao namoro a distância?

Sobre o que fazer, não podemos arrancar ou exterminar o sentimento de ciúme, isso é impossível, já que o ciúme é um sentimento humano. Na verdade, o que você pode fazer, é não deixar o ciúme tomar o controle de você e da sua relação. Apesar de você não ter dito o conteúdo da briga, imagino que possa ser algo assim: “vou sair para jantar com o pessoal do trabalho”; ou então, “olha eu não consegui responder àquela mensagem porque estava ocupado”; “não vou conseguir voltar para a nossa cidade no dia que te falei porque sairei tarde” etc. Todas essas frases comuns, que todas as pessoas passam, situações triviais, podem promover sentimentos e pensamentos distorcidos, como por exemplo:

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Namorado:

  • Vou sair para jantar com o pessoal do trabalho.

Na sua cabeça pode passar:

  • Ele vai sair com as pessoas do trabalho, as pessoas do trabalho são MAIS interessantes do que eu, ele não me ama MAIS; é bem provável que ele encontre uma mulher MAIS bonita e assim vai preferir ficar com ela etc.

Então a sua resposta pode ser:

  • Tá bom, vá lá com o pessoal do trabalho, eles são MAIS importantes do que eu, você nem fica MAIS comigo e agora nem quer falar MAIS comigo.

E assim começam as brigas, porque jantar e ter convívio social é algo comum. Isso independe de se estar na mesma cidade ou a quilômetros de distância, a situação é a mesma, se formos avaliar friamente. Entretanto, o fato de você não ter o controle, por conta da distância, ou não conhecer as pessoas que estarão do lado dele, isso gera desconforto. Apesar de entender que agora vocês se veem com menos frequência, isso pode ter agravado um pouco a insegurança.

Brigar aumenta o distanciamento e traz insegurança para quem deseja controlar o par

Então, discutir pelo WhatsApp só vai aumentar o distanciamento entre vocês e consequentemente aumentar a insegurança. Porque depois da briga vem uma “prova” que realmente tem coisas e situações MAIS importantes que você ou que a relação. Se ele deixa de ir para o jantar por conta de uma briga, isso faz com que de certa forma você, por alguns momentos, reassuma ‘o controle’, mas amanhã é um novo dia, e outros jantares virão. E se você precisar fazer isso todas às vezes, só vai desgastar MAIS e MAIS.

Namoro a distância: dicas antes de conversar pelo WhatsApp:

  • O fato dele estar em outra cidade não prova que ele te ame menos, ou que tenha outra namorada lá, ou tenha interesse em alguém;
  • Sair para jantar ou trabalhar até tarde é uma situação que ele faria perto ou distante, pois faz parte do convívio social humano, se ele estivesse aqui, também faria as mesmas coisas;
  • Diga sobre o que sente quando estão distantes e como é difícil para você, ao invés de questionamentos e cobranças;
  • Planeje coisas virtuais juntos, como por exemplo: jantares, assistir a uma série simultaneamente ou a um filme para diminuir essa distância;
  • Aproveite seu tempo com você mesma, como por exemplo: atividade física, ler, estudar, conversar com amigos e familiares.

Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de uma psicóloga e não se caracteriza como sendo um atendimento

Psicóloga Clínica, Psicodramatista pela Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama (ABPS), cursando nível II e III na Sociedade Paulista de Psicodrama e Sociodrama (SOPSP) e Terapia de Casal no Instituto J L Moreno. Pesquisadora no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas FMUSP no PRO AMITI no setor de Amor Patológico e Ciúme Excessivo. Vice-presidenta da Associação Viver Bem