por Regina Wielenska
Muita gente estrila se o médico propõe medicação de uso contínuo ou mudanças de hábitos para ajudar no tratamento de hipertensão, diabetes, transtorno depressivo, epilepsia etc. Há pessoas que inicialmente se assustam com o diagnóstico e temporariamente procuram seguir as recomendações.
Mas, na medida que tudo parece estar se normalizando, passam a negligenciar os cuidados. Um sem-número de desculpas são usadas. Para que tomar remédio se eu me sinto bem? Ahhhh, uma escapadinha não haverá de me prejudicar (e escapa quase todo dia). Esqueci de tomar só hoje, amanhã eu tomo (se lembrar). Não tomei porque o remédio acabou ontem e não deu tempo de passar na farmácia (mas deu tempo de ficar no Facebook). Eu melhorei, já estou bem, pra que continuar fazendo tudo aquilo? (uai! melhorou porque segue o tratamento, mas se abandonar…). Odeio ficar dependente de remédio, fico parecendo um viciado. Não vou virar um monge, sem me divertir e beber umazinha no bar com os amigos (a tal umazinha vira um porre daqueles).
Tem jeito para isso? A análise do comportamento pode dar algumas ideias.
As pessoas tendem a reagir muito mais sob influência de consequências imediatas do que sob controle das remotas. O acidente vascular cerebral (consequência de longo prazo, apenas provável) derivado de uma hipertensão não controlada, compete com o prazer (certeiro e imediato) de sair com os amigos e comer petiscos bem salgados e gordurosos.
Como curtir os amigos e preservar a saúde?
Treinar com a pessoa uma comunicação assertiva pra conversar com os amigos, contato frequente (não punitivo, mas afetivo e efetivo) com médico e enfermeira especializada, para monitoração da pressão, glicemia (ou outras medidas) e adesão às mudanças de comportamento, tudo isso pode ajudar. Discutir se vale a pena arriscar o futuro, com risco de invalidez ou óbito, por uma noitada com o que lhe faz mal. Buscar ampliar o acesso a prazeres não tão conectados ao sal, álcool, gorduras e outros excessos também tem seu valor, bem como orientar e dar apoio contínuo ao paciente e à sua família.
Ambulatórios especializados podem organizar grupos de apoio, com orientação de psicólogos e outros profissionais para promoção de mudanças de hábitos e percepção clara dos ganhos gerados pelos novos comportamentos.
Viver é fazer escolhas, analisar consequências de curto e longo prazo, rever valores que nos norteiam, definir metas e descobrir caminhos. E a Psicologia tem muito a contribuir em casos desse tipo.