por Patricia Gebrim
Outro dia fui a uma livraria, gosto do cheiro de livrarias, de passar a mão pelas capas dos livros, da expectativa que cada título sacode dentro de mim.
Tirei um livro da prateleira ao acaso, creio que era “A História da Loucura”, de Michel Foucault. Abri em uma passagem que contava sobre uma máquina inventada na Idade Média, uma máquina para curar a loucura!
Ouçam que interessante. Certos de que o trabalho era a cura para esse mal, a máquina era feita da seguinte forma: cavava-se um buraco bem grande, um poço… colocava-se o “louco” lá dentro e uma máquina para bombear água… ia-se enchendo o poço de água e o coitado tinha que bombear o tempo todo, jogando a água para fora, caso contrário morreria afogado!!!
Quando ouvimos esse relato nos parece absurdo, sem sentido, cruel.
_ Como podiam fazer algo assim? _ pensamos.
Mas vejam… tanto tempo se passou, uma nova visão de tudo se formou, é verdade… mas quando olho ao redor muitas vezes vejo uma reprodução caricata dessa tal máquina, ainda nos dias de hoje!
Quem somos nós?
Pense naqueles momentos da sua vida que são praticamente enlouquecedores. Aqueles momentos nos quais somos tomados por sentimentos contraditórios… ou quando não sabemos por que caminho seguir… não sabemos com o que queremos trabalhar… não sabemos em que relacionamentos queremos ou não estar… não sabemos para onde ir… ou quem somos. Isso parece loucura!
Como assim? “Não saber”? Em uma época onde temos acesso a tantas informações?
_ Como assim, você “não sabe”? _ dizemos a nós mesmos, sem dó.
A verdade é que temos medo do caos, temos medo do que não sabemos, temos medo e sentimos angústia frente à falta de respostas que tantas vezes nos assombra. Tememos o que parece ser a nossa própria loucura, tudo o que foge dos controles que aprendemos a associar à razão.
Não raro, quando isso acontece, perdemos a compaixão por nós mesmos… como cruéis capatazes, nos sentamos ao nosso lado exigindo respostas! E caso estas não venham rapidamente, no tempo determinado por sei lá quem… caso a gente olhe em volta e se dê conta do caos, simplesmente entramos em nossas próprias máquinas de curar loucura!
_ Ah, não aguento mais isso!!! _ dizemos a nós mesmos.
_ Vá trabalhar que isso passa! (você já ouviu um ditado que diz que “cabeça vazia é a oficina do diabo”?)
E a voz dentro de nós não desiste: _ Vá se divertir! Ou… vá comer! Ou… FAÇA QUALQUER COISA… entre na droga da máquina de curar loucura! Faça qualquer coisa… menos ficar no meio desse horrendo lugar de não saber. Fuja do vazio! Faça! … Faça! … Faça! …Faça! … Faça! … assim é o som da nossa máquina… como se assim, a cada ação, bombeássemos um pouco de loucura para fora de nossos assustadores poços … (será?)
Assim, nos catapultamos para fora de nós mesmos, fugimos do que acreditamos ser o “vazio enlouquecedor” e mergulhamos no mundo externo dos “fazeres”. E , infelizmente, saímos do único lugar onde as respostas poderiam nos encontrar … Lá mesmo, naquele lugar de dúvida e caos, naquele lugar de não saber, no fértil vazio onde brotam as sementes da alma. Naquele lugar que muitas vezes é uma mistura assustadora de sentimentos e percepções não organizadas… como inúmeras peças de um quebra-cabeças flutuando em uma daquelas câmaras onde os astronautas treinam para ir ao espaço. Está tudo lá!
Se pudéssemos ficar, e juntar as pecinhas aos poucos … Ah, se pudéssemos nos aquietar um pouco a mente, sem tantas cobranças, sem tanta tortura, sem tanto peso. Se pudéssemos conviver com a nossa angústia, um pouco que fosse, se a pegássemos no colo como pegamos a um bebezinho assustado, até que ela se acalmasse encontrando nosso peito… E se pudéssemos escutar os batimentos de nosso coração, até que aquele ritmo de vida nos acalmasse, em breve saberíamos… não há como não saber.
Se conseguíssemos transformar a cobrança rígida por respostas em uma oportunidade de descobrir algo novo, de desvendar um mistério… com aquela excitação gostosa que temos quando crianças… tudo seria mais fácil, eu sei que seria.
Então, se você estiver em meio a um problema não resolvido, se estiver sem saber para onde ir, ou o que fazer… se tiver esquecido quem você de verdade é … permita-se sentir isso. Sente-se no meio do não saber e observe. Observe a si mesmo, observe o mundo ao seu redor, e tranquilize-se.
Em breve algum sentido há de surgir … inicialmente como um alívio, o alívio de não ter que fugir de si mesmo…
O resto … bem o resto você terá que experimentar por si mesmo!