por Patricia Gebrim
É possível conviver com a timidez?
Creio que um dos grandes problemas hoje em dia é a facilidade com que agrupamos coisas diferentes em um mesmo balaio, criando generalizações que desrespeitam a diversidade da experiência humana. Não existem duas pessoas iguais, por mais parecidas que sejam. Mesmo gêmeos univitelinos têm suas diferenças, são pessoas diferentes e merecem que sua individualidade seja respeitada.
Pensando assim, não é de espantar que muitos se sintam incomodados no mundo de hoje, que tem uma tendência a criar padrões estéticos e de comportamento. Posso afirmar, superficialmente, que o bacana hoje em dia é ser “descolado”, animado, sociável, ter muitos amigos, ser bem-sucedido e “feliz”. Mesmo que seja uma felicidade fabricada, todos querem ser felizes, como se existisse uma obrigação da alegria a qualquer custo.
Usando esse panorama como pano de fundo, quero me dirigir a você, que chama a si mesmo de “tímido”.
Hoje em dia é difícil a gente não se sentir tímido, parece que nunca somos “descolados” o suficiente, já percebeu?
Sinceramente, o que vejo é muita gente cobrando de si mesma uma maneira de ser que não é a “sua” maneira de ser. Para entender melhor qual é seu caso, pergunte a si mesmo:
– Sua timidez o impede de fazer algo?
Uma coisa é se o que você está chamando de timidez está impedindo você de fazer coisas que gostaria. Nesse caso, podemos sim pensar que talvez você precise de ajuda para confiar mais em si mesmo, soltar-se, permitir-se experimentar mais da vida.
Muitas vezes, isso que chamamos de timidez costuma acontecer em situações especificas, por exemplo: quando temos que falar em público, quando estamos em um ambiente desconhecido, quando temos que nos relacionar com alguém que consideramos poderoso (pode ser um chefe, uma figura pública, alguém que admiramos). Nessas ocasiões, de repente, “travamos”.
A boca fica seca, a mente torna-se um branco total e você se sente como se tivesse cinco anos de idade e fosse completamente incapaz de lidar com aquela situação. Muitas vezes é exatamente isso o que está acontecendo. Você se desconectou do adulto em você e permitiu que sua criança viesse à tona. Você se torna essa criança e, sendo criança, irá sentir-se como tal: inseguro, sem saber o que dizer, o que fazer ou onde colocar as mãos, que de repente tornam-se enormes e desajeitadas como orelhas de elefantes! Ou ainda, na tentativa de disfarçar esse horrível estado de desamparo, você pode acabar tendo atitudes inadequadas para a situação, exatamente como uma criança faria.
Se esse for o caso, saiba que você terá que trabalhar a sua criança interna, essa parte do seu eu que insiste em surgir nos momentos mais inapropriados. Você terá que ajudar essa parte sua a crescer. Uma psicoterapia poderá ajudá-lo a compreender melhor porque isso anda acontecendo.
Por hora, a minha sugestão é que você converse com sua a criança, em sua mente, antes de expor-se à situação que o amedronta. Diga a ela que está tudo bem, que você é capaz de lidar com a situação. Tente acalmá-la e diga a ela que é você, adulto, quem será o responsável, e não ela. Use argumentos racionais, baseados em fatos e na realidade (a criança custuma perder-se nas suas fantasias).
Isso costuma ajudar, bem como lembrar-se de que você na verdade é um adulto plenamente capaz de lidar com a situação!
Mas nem tudo tem que ser mudado… Vencer um estado infantil que o aprisiona é mesmo necessário. Outra coisa, no entanto, é você cobrar de si mesmo uma postura que não tenha a ver com sua forma de ser.
Ouça: Nem todas as pessoas são iguais!
Algumas são mais discretas, mais recatadas, não gostam tanto de exposição. São mais introspectivas, apreciam mais o silêncio e conversas íntimas com poucas pessoas. Nem todo mundo chega “chegando” a uma festa. Nem todo mundo torna-se o centro das atenções, e nem teria que ser assim. Penso que precisamos aprender a valorizar também as pessoas que aparentemente fogem dos palcos e preferem os bastidores.
Você tem o direito de ser mais quieto, mais calado… não há nada de errado com isso!
Precisamos parar de nos obrigar a tantas coisas. UFA, ISSO CANSA… Às vezes precisamos apenas reconhecer que aquela é a nossa forma de ser. Cada pessoa lida com a vida da sua maneira. Precisamos nos respeitar mais, e respeitar mais as outras pessoas também.
Dalai Lama
Você consegue imaginar uma pessoa como o Dalai Lama entrando em uma festa todo animado, gritando para os garçons que está faminto e quer logo ser servido, dando grandes tapas nas costas dos amigos (homens, vocês não se machucam fazendo isso?), soltando piadinhas e fazendo todos rirem? Nem precisa ser o Dalai Lama… existem tantas pessoas consideradas como pessoas de muito valor que não teriam uma postura dessas, que são naturalmente mais recatadas e que têm o direito de ser assim!
A pior coisa que você pode fazer é ir contra a sua verdadeira natureza. Aí sim se tornará inseguro, pois só podemos nos sentir seguros quando estamos de mãos dadas com a nossa verdade, com o nosso Eu mais real e verdadeiro, seja ele como for.
– Como você pode sentir-se seguro se tentar ser quem não é?
– Então, pare de tentar ser outro alguém. O máximo que conseguirá é tornar-se uma caricatura mal traçada.
A timidez é geralmente associada à fraqueza. Só podemos ser fortes quando somos nós mesmos, assim, abrace a si mesmo da maneira mais completa que puder, isso sim lhe trará brilho.
Talvez não o brilho dos refletores que envolvem as celebridades…
Talvez o seu brilho seja mais parecido com a bela chama dourada de uma vela que traz à tona o amor dos amantes.
E quem somos nós para julgar qual deles é o melhor?
O importante é brilhar, cada um à sua própria maneira!