por Roberto Shinyashiki
Há pouco tempo, após uma palestra, uma senhora me olhava meio encabulada, naquela típica postura de quem se pergunta: falo ou não falo. Percebendo que ela queria perguntar algo, me aproximei e disse: fala menina! Não precisei repetir a frase. Ela foi logo dizendo:
– Roberto, eu sou feliz, mas não tenho felicidade, por isso estou aqui de novo.
Confesso que fiquei um pouco surpreso, mas logo me recuperei e perguntei se ela podia me mostrar com palavras exatamente o que estava querendo dizer. Ela sorriu e começou: é o seguinte, Roberto, eu sou feliz. Ganho bem, posso me dar ao luxo de comer o que gosto no restaurante que eu quiser. Não sou vítima do descaso com os aposentados. Moro bem. Tenho um marido que sempre compartilhou as lidas da casa e a educação dos filhos. Deu um longo suspiro e completou: o que me falta é felicidade.
Aquele suspiro me fez lembrar uma frase de Osho "Esqueça essa história de querer entender tudo. Em vez disso, VIVA, em vez disso, DIVIRTA-SE! Não analise, CELEBRE!".
Quando eu ia falar a frase ela retoma a conversa.
– Pois então, Roberto, tenho tentado entender a razão de eu não ter felicidade. Como te disse, sou uma mulher feliz, consigo alcançar os objetivos traçados, dedico meu tempo e atenção para minha família, tenho amigas com as quais posso contar. Só não tenho felicidade. E eu observando, ouvindo na minha típica forma de analisar.
Quando ela deu uma pausa, perguntei:
– Você pode me dizer o que, para você, é ser feliz? O que é felicidade?
E ela, prontamente:
– Ser feliz é ter tudo o que se quer. Felicidade é explodir em alegria. Antes de começar a falar, lembrei novamente de Osho que, não lembro em qual livro, ensina que "quando um homem tem tudo, subitamente um despertar acontece, dentro dele, de que tudo é inútil". E era bem isso que estava acontecendo com aquela senhora: sensação de inutilidade.
Convidei-a para sentarmos e fui falando:
– Minha senhora, muitas pessoas têm conceitos sobre ser feliz ligados ao verbo ter não compreendendo a diferença entre ter e ser. Como esse tipo de pessoa pode ser feliz se tudo o que percebem e querem da vida é ter?
Ela me olhou de forma interrogativa, mas continuei explicando que o ter traz uma falsa sensação de ser feliz porque está diretamente ligado ao que vem de fora. E ser feliz é um estado de alma, é uma sensação que brota de dentro, do âmago do coração.
– Como assim? Ela perguntou. É simples minha cara: ser feliz depende exclusivamente da pessoa se permitir ser feliz e, para que isso aconteça, o início está no amor e no respeito. Amor por si, pois quando a pessoa se ama passa amar os que lhe cercam e respeito por si e pela forma de ser do outro. E quando a gente é feliz, a felicidade brota como uma bela rosa que supera os espinhos para exalar o seu perfume e mostrar sua beleza e fragilidade.
– Ah… Roberto! Sou grata por nosso encontro. Agora entendi! O que eu pensava sobre ser feliz e não ter felicidade, na realidade nada mais era do que minha visão materialista das coisas, minha possessividade: tenho dinheiro, tenho marido, posso tudo. E o que eu pensava sobre não ter felicidade nada mais era do que a ausência de harmonia de minha alma.
Ouvindo você, descobri que o explodir em alegria, meu conceito de felicidade, nada mais é do que se permitir curtir momentos, sem cobranças, pelo simples prazer de ser eu mesma. Eureka! Esse deve ser o despertar de que tudo é inútil que o Osho fala. Descobri também que viver não é analisar a vida, mas, sim, celebrar a vida.
Despedimo-nos. Ela feliz pela descoberta e eu tranquilo por, mais uma vez, ter cumprido com minha missão de ajudar as pessoas. Existe felicidade maior do que ser útil?
E você? É feliz? Descobriu a felicidade?
Pense sobre isso!