por Thaís Petroff
Percebo que a cada dia as exigências para o fazer e o ter aumentam mais e mais.
Em contrapartida, o ser parece ficar em segundo plano. Há uma cobrança por ser o (a) melhor e o resultado muitas vezes são inúmeras preocupações quanto a não atingir esse patamar, gerando sofrimento (medo, ansiedade, tristeza) em diversas situações e comportamentos como: vícios, trabalhar demasiadamente, automedicar-se, etc.
Não há problema algum em desejar melhorar. No entanto, se nos prendemos a isso, podemos acabar nos alienando de nós mesmos, de nossos valores pessoais, de nossas verdades, de estarmos realmente em contato com quem somos. Entramos em um automatismo de preencher praticamente todos os momentos de nosso dia com inúmeras tarefas, em cumprir com nossas obrigações, bem como buscar suprir as expectativas das pessoas à nossa volta.
Parece que estamos em uma corrida contra o tempo e às vezes até contra nós mesmos, pois independente de estarmos doentes, cansados, tristes ainda, assim precisamos cumprir um "check list" de coisas, caso contrário, nos sentiremos mal conosco, como se não tivéssemos feito o suficiente. Buscamos demonstrar que sempre está tudo bem e dificilmente mostramos aos outros, e também a nós mesmos, quem realmente somos.
A partir disso, acredito que as perguntas abaixo auxiliem e facilitem uma reflexão sobre como se dá atualmente sua atitude perante a vida e você mesmo:
– Quem foi que me disse que eu sou ruim e que não acerto sempre?
– Quando aprendi que não dar para o outro o que ele precisa é porque não sou bom/boa o suficiente para isso?
– Por que me fechar é a estratégia preferida do que mostrar minha vulnerabilidade?
– Autodepreciação funciona melhor do que admitir que tenho limites?
Quando seguimos pensando que não somos adequados, que somos incapazes, que precisamos nos proteger das pessoas, que precisamos sempre performar; transformamos esses pensamentos numa espécie de mantra repetido diariamente e assim passamos a fazer uma lavagem cerebral negativa em nós mesmos. O resultado não poder ser outro, ficaremos deprimidos, ansiosos e com baixa autoestima.
Já que podemos emanar diariamente pensamentos negativos, podemos também optar por perceber as coisas de outra maneira e ter pensamentos mais positivos.
No início os pensamentos automáticos negativos ainda virão com bastante frequência mas, ao percebê-los, optar voluntariamente para perceber a situação sob outro aspecto, fará com que pouco a pouco eles diminuam a frequência e esse exercício se tornará cada vez mais fácil.
Saia do piloto automático!
Seguem algumas sugestões de pensamentos alternativos que são mais funcionais, nos colocam em acordo com a realidade, bem como com nosso processo de crescimento e desenvolvimento:
– Percebo que estou em um processo, o passo que dou hoje me faz avançar e estar um pouco melhor do que ontem.
– Não me sinto culpado (a) por não atingir as expectativas dos outros, que na verdade não existem; só existem dentro de mim mesmo (a).
– Não dá para ser bom em tudo, ser 100% em tudo.
– Faço as coisas não mais por que os outros vão me achar bom (a) ou legal, mas por que quero fazê-las.
– Parabéns pelo meu esforço. Consegui isso em função dele.
– Quando coloco as expectativas muito altas, passo a me exigir demais e recorro ao perfeccionismo. A consequência será sofrimento.
Todas essas frases e muitas outras podem ser criadas e nos fazem perceber o quanto muitas vezes somos desleais conosco e que podemos ser mais colaboradores, caso percebamos as situações sob uma ótica mais ampla e global.
Reflexões sobre as frases acima
Quando estamos dando respostas certas, já estamos em uma zona de conforto. Quando damos respostas erradas, é por que estamos nos desafiando, estamos aprendendo.
Penso ainda que aprendemos mais com nossos erros do que com nossos acertos, uma vez que quando acertamos muitas vezes, nem pensamos mais sobre aquilo. Já quando erramos, temos a oportunidade de destrinchar a situação e nossa atitude como um todo, ou seja, o que pensamos naquele momento, como nos sentimos e que comportamento tivemos. A partir disso, podemos fazer uma análise do que houve para então testar outras possibilidades em situações futuras.
Outro ponto importante é ressaltarmos o passo-a-passo para se alcançar algo, ao invés de focarmos somente em nossas capacidades inatas.
Em nossa cultura é comum ouvirmos as mães dizendo aos filhos quando, por exemplo, tiram notas boas: "Parabéns! É muito inteligente", ao passo que há relatos que na China as mães, nessa mesma situação, dizem aos seus filhos: "Parabéns pelo seu esforço. Você mereceu sua conquista".
A mensagem que fica nessa segunda fala é: "Preciso me esforçar para obter bons resultados", diferentemente da primeira que subentende: "Não preciso me esforçar para ter bons resultados, o que sou já basta".
O risco disso é que quando as notas começam a não ficar tão boas, a criança além de não saber o que fazer para resolver o problema, começa a pensar que não é mais inteligente. Desse modo o que a princípio era um reforço positivo, torna-se uma armadilha.
Como lidar com situações novas e difíceis?
Na TCC, para lidarmos com situações novas ou difíceis, muitas vezes orienta-se o paciente para construir cartões de enfrentamento; que são nada mais do que pequenos cartões (como os de visita, por exemplo) nos quais se escreve frases de efeito para si mesmo (a) de acordo com a situação que se irá enfrentar ou ainda outras mais gerais para diversos momentos. Pode-se escrever algumas das frases acima, bem como outras como:
– Quando sou gentil com os outros, me sinto feliz.
– Poderei usar aquele biquíni bonito no final do ano se eu continuar com a reeducação alimentar.
– Fico orgulhoso (a) de mim quando estudo um pouco diariamente.
– Cada dia é uma oportunidade para fazer as coisas de modo diferente.
– Se eu não juntar dinheiro, não poderei fazer aquela viagem que tanto quero.
Perceba que todas essas frases subentendem que há um esforço, dentro de um processo para se atingir algo, seja por prazer ou pela dor. Será que esse ponto de vista não gera mais aprendizado e desenvolvimento de nossas capacidades do que acertar sempre ou pensar que somos incapazes?