por Patricia Gebrim
Temos muita dificuldade em expressar nossa verdade de forma equilibrada.
Ou a cuspimos na cara das pessoas, como se fosse um fogo grudento, ou a engolimos, e a bola de ácido nos queima e corrói por dentro.
Os cuspidores de fogo em geral são pessoas impulsivas, que têm dificuldade para controlar as próprias emoções. Basta ficarem com raiva e se transformam em dragões irados, e as palavras saem de suas bocas sem edição, agressivas como lâminas cortantes. Ou irônicas, atirando sobre os outros uma fumaça maldosa que destrói o caminho por onde passa. De tanto guerrear, os cuspidores de fogo um dia entram em colapso, muitas vezes seus corações simplesmente param, forçando-os a parar à força.
Os engolidores de fogo, por sua vez, costumam ser pessoas que buscam sempre agradar o outro, temem qualquer ato que possa causar conflito. Custe o que custar, impedem a si mesmos de manifestar sua verdade. Calam-se e escondem, às vezes até de si próprios, seus verdadeiros sentimentos e impressões. Engolem a dor, a raiva, a frustração. E de tanto engolir, um dia explodem por dentro, e seu estômago arde em gastrites e úlceras, revelando a dor, quer queiram quer não.
Tudo isso porque não sabemos que existe um lugar precioso bem entre o cuspir e o engolir. Existe o mastigar. Um mastigar atento que aos poucos transforma o que quer que esteja nos afetando em uma sabedoria que pode ser compartilhada. Assim, quando estamos tristes ou com raiva de alguém, quando estamos frustrados, decepcionados ou desiliudidos, a primeira medida que deveríamos tomar é a de mastigar aqueles sentimentos e fatos. Devemos, em nosso íntimo, compreender exatamente o que está acontecendo, tentar discriminar as coisas, separar qual é a nossa parte na criação daquela situação e qual é a parte do outro. Com calma, sem pressa, sem impulsividade, sem evitação.
Comunicação assertiva
E quando acreditarmos ter chegado a algo que nos pareça verdadeiro, o exercício é o de comunicar ao outro, calmamente e com segurança, o que sua atitude nos fez sentir. Não se trata de culpar o outro sem checarmos nossa participação, tampouco de assumirmos toda a culpa. Trata-se de buscar o ponto de justiça, o ponto de verdade e inteireza.
– Você agiu assim e assim, e isso me fez sentir dessa maneira.
Comunicação assertiva. Sem agressividade, sem falsas máscaras de bondade. Sem atacar o outro, sem "dourar a pílula". Simplesmente dizemos ao outro o que sentimos e pensamos, de forma clara. Assim, permitimos que o outro veja e saiba o que nos causou.
Energeticamente, quando agimos assim, revelando a nossa verdade, sem agredir o outro ou a nós mesmos, quando simplesmente comunicamos nossa percepção de forma centrada e harmoniosa, em busca do justo, uma enorme quantidade de energia é enviada em nossa direção e na direção da pessoa envolvida. Essa energia é guiada por uma sabedoria superior e, acreditem, através dela algo será revelado.
Pode ser que aquela pessoa realmente o tenha ferido intencionalmente, que seja uma pessoa identificada com seu próprio eu inferior, com sua parte sombria e ignorante. E talvez, nesse caso, a pessoa apenas tente se defender ou atacar ainda mais. Não importa. A partir do momento em que você revelou a verdade dessa forma, você enviou ao outro aquilo que lhe pertence. E o outro terá que lidar com o que criou, quer admita ou não, quer queira ou não. Podemos então seguir em paz e confiar que o Universo dê andamento ao que é justo.
Mas se aquela pessoa o feriu sem ter a real intenção, seja por imaturidade ou falta de visão, talvez ao receber a sua verdade possa despertar, dar um passo em consciência, se elevar, reparar o erro, crescer, se transformar, se desculpar.
E assim você saberá separar o joio do trigo, e com o tempo limpará seu caminho de forma que as pessoas que por ele transitem tenham cada vez mais harmonia a lhe oferecer.
Assim, não cuspa sua versão emocional da verdade sobre as pessoas. Não se cale sempre na busca de evitar conflitos. Expresse seus sentimentos da maneira mais assertiva que puder.
Não é fácil, eu sei. No começo vamos nos enganar, escorregar desajeitadamente mais para um lado ou para o outro. Mas com o tempo iremos nos aprimorando e nos tornando comunicadores capazes de equilibrar razão e emoção na expressão que busca a verdade.
Os relacionamentos então se tornarão cada vez mais divertidos, harmoniosos e pacíficos. E ao invés de lutar entre cuspir ou engolir fogo, provaremos um doce néctar, o nectar do encontro, da troca, do crescimento mútuo. Que alívio…