por Marta Relvas
Aprender qualquer assunto leva tempo, existe o tempo do amadurecimento e da assimilação do conteúdo, inclusive se o assunto for gênero e sexualidade.
Enquanto eles caçavam, elas cuidavam da prole. Vem dessa divisão de tarefas dos nossos ancestrais boa parte das explicações sobre as diferenças comportamentais entre homens e mulheres. Hoje já se sabe, porém, que os motivos vão além. Desde o feto, apesar de não ser um fator determinante, a atuação de hormônios no cérebro influencia o desenvolvimento de habilidades específicas em cada gênero. Tais substâncias fazem com que, em geral, meninas sejam mais comunicativas, cuidadosas e preocupadas com estética e detalhes, e garotos gostem de competir, testar a relação de causa e efeito e dispensar grandes rodas de amigos, essas características se manifestam em diversas situações.
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre os aspectos do ponto de vista da sexualidade biológica, psicológica e social que envolve o humano. Importante o professor, educador reconhecer que não é ministrando uma aula de anatomia e de fisiologia da genitália masculina e feminina que todas as dúvidas serão resolvidas. E as questões que regem o imaginário, as sensações e percepções humanas, como ficam as questões sobre sexo, sexualidade e gênero na escola.
Conversas, escutas e diálogos
Como desatar as amarras, se os adultos somente conhecem a identidade sexual (genitália) e muitas vezes desconhecem sua sexualidade e acabam desempenhado seus gêneros e papéis sociais impostos pela sociedade?
Dessa maneira, torna-se difícil estabelecer a escuta e o diálogo entre os pares. O assunto é enfrentado com tabus, ficando então todos vulneráveis às informações apelativas no que se diz respeito à temática proposta.
Destaco algumas vivências como professora de Ciências em uma escola que lecionava no Ensino Fundamental.
Um aluno me perguntou:
“Professora, até quando vamos falar sobre sexo, usando um mapa anatômico ou recursos de peças anatômicas que existe na escola? Assim é fácil basta abrir o livro e lá está tudo explicado, precisamos de informações subjetivas, “coisas” que sentimos e queremos saber e que não estão nos livros”.
Naquele instante, percebi que estava conduzindo a orientação da sexualidade humana da classe de maneira que eu não respondia seus anseios. Foi então, que adotei a postura da escuta e do diálogo mais ético. “O que você quer saber sobre sexo, sexualidade e gênero?”
Dias atrás uma mãe me perguntou:
“Qual o melhor momento para se conversar sobre sexo com meu filho?” Respondi fazendo-lhe outra pergunta. ”Quantos anos têm seu filho”? Ela disse-me: Tem 8 anos. Então respondi, mãe você já está atrasada na conversa com seu filho há 8 anos, pois, não existe um tempo certo e sim, sempre, desde que não se banalize informações e tenha à ética humana como alicerce fundamental para dialogar sobre essa responsabilidade biológica, psicológica e social que o humano está inserido nesse contexto do cotidiano.
Uma professora me relatou:
“Tenho na sala de aula um aluno com nome masculino na ficha de chamada e o mesmo tem sua identidade corporal e sua sexualidade feminina. Como lidar com a diversidade?”
Novamente entendo que nós professores deveremos assumir a ética da relação, respeitando e entendendo que os diferentes não existem, o que significa que devemos repaginar, rever conceitos pré-estabelecidos e moldados em nossos cérebros, que nos deixaram tão rígidos diante da essência humana.
Para refletir
Quando crianças, podemos reconhecer, brincar e apreciar todas as partes do nosso corpo, nariz, boca, pernas, mãos, menos as genitálias.
Consulta bibliográfica:
Relvas, Marta P. Neurociência e Educação – Potencialidades e Gêneros na sala de aula, Ed. WAK, RJ, 2012