Por Luís César Ebraico
Mais de uma vez recebi pacientes perturbados por 'previsões' de astrólogos incapazes de processar de maneira adequada as informações com que trabalham.
Recentemente, tive que lidar com a compreensível preocupação de uma mãe a quem foi dito, com base na análise do mapa astrológico de seu filho, que ela ou ele tinha que sair de casa, porque um dos dois iria matar o outro! Casos como esse levaram-me a ministrar, em um curso de formação de astrólogos, uma cadeira com o título de "Cuidados na Transmissão da Informação Astrológica". Assisti a algumas cadeiras ministradas nesse curso e, numa delas, ouvi um diálogo inesquecível:
Neurótico tem um só problema, os saudáveis têm vários
PROFESSOR (logo no início da aula): – O neurótico tem um problema, blá, blá, blá, blá, blá, blá.
ALUNA (passados já uns quarenta minutos do início da aula): – Mas, professor, afinal das contas, qual o problema que tem o neurótico?
PROFESSOR: – Não, minha filha, você não entendeu. O neurótico tem UM problema, as pessoas saudáveis têm vários…
Raramente eu tinha ouvido um comentário que recobrisse de maneira tão perfeita minha experiência clínica. Com efeito, quanto mais neurótica, mais a pessoa é escrava de UM problema, que ocupa tal espaço em sua vida que os demais problemas deixam de receber a atenção que merecem. Uma paciente, por exemplo, vem a uma primeira sessão e diz que se sente extremamente rejeitada porque não agüenta o fato de que seu ex-marido, mal separou-se dela, já tenha iniciado uma relação estável com outra pessoa, relação que, desconfia ela, talvez já até existisse mesmo antes da separação; vem a uma segunda sessão e diz que que se sente extremamente rejeitada porque não consegue suportar o fato de seu ex-marido, mal separou-se dela, já tenha iniciado uma relação estável com outra pessoa, relação que, desconfia ela, talvez já até existisse mesmo antes da separação; vem a uma terceira sessão e fala que se sente extremamente rejeitada porque é realmente inadmissível que seu ex-marido, mal separou-se dela, já tenha iniciado uma relação estável com outra pessoa, relação que, desconfia ela, talvez já até existisse mesmo antes da separação; vem a uma quarta sessão…
Pois é, o professor de astrologia tinha razão: a pessoa neurótica tem UM problema, as pessoas saudáveis têm vários. Se, um belo dia, essa paciente esquece como se sentiu rejeitada pelo marido e chega dizendo que se sentiu rejeitada pela irmã, já acho que está melhorando; se diz que tem a impressão de que talvez ela paciente rejeite o síndico de seu prédio, está melhor ainda; se diz que talvez tenha inveja de uma amiga, ainda melhor; se raiva de seu dentista, também. Daqui a pouco, vai ter tantos problemas quanto qualquer pessoa saudável.
Não é curioso que minha função, como psicoterapeuta, seja a de AUMENTAR o número de problemas das pessoas?