por Renato Miranda
No último dia de competição do Campeonato Mundial de Atletismo em Moscou (2013), a prova do revezamento 4X100 feminino era a última esperança de o Brasil conquistar uma medalha.
Era a última esperança porque como sabemos e divulgado amplamente pela mídia, a quarta atleta brasileira participante do revezamento, Vanda Gomes, deixou cair o bastão ao recebê-lo de Franciela Krasucki, quando a equipe estava em segundo lugar, e com isso, o Brasil foi eliminado da prova.
Se o Brasil tivesse ganhado algumas medalhas possivelmente esse fato não teria tanta repercussão, mas como era a última e única oportunidade a reverberação do acontecimento foi potencializada.
Esportivamente é notório que tal evento (o erro!) é parte de um cenário recheado por pressões por todos os lados e expectativas pelo reconhecimento de todos os envolvidos com o esporte. Basta verificar que dificilmente o torcedor brasileiro, antes da prova, reconheceria (ao menos o nome) qualquer uma das atletas participantes do revezamento.
Por extensão, é fácil imaginar o que passa pela cabeça dessas atletas: é a chance de serem vitoriosas, recompensadas, de entrarem para a história do esporte nacional e outras tantas possibilidades. Soma-se a isso o sacrifício despendido nos treinamentos, ausência do país – foram 40 dias de treinamento na Europa – e naturalmente certo isolamento social. Portanto, almejar o sucesso como recompensa é um desejo mais do que justo.
Acontece que as circunstâncias da prova, em pressuposto, fizeram com que houvesse uma exacerbação das tensões, principalmente da atleta Vanda Gomes.
Tais circunstâncias se resumem no fato da referida atleta não ter corrido nenhuma etapa eliminatória antes da final, na semifinal o Brasil bateu o recorde sul-americano com Rosângela Santos (que veio a ser substituída na final pela própria Vanda) e a grande possibilidade real de ganhar uma medalha histórica.
Por tudo isso e talvez por outros motivos silenciosos dos bastidores, a atleta Vanda, logo depois da prova e, portanto, ainda no "calor da frustração" cometeu um deslize clássico no esporte: não assimilar a frustração pela derrota e em conseqüência não assumir os erros próprios.
No canal SporTV, reclamou da diminuta quantidade de treinos específicos, da alimentação, do desconforto para dormir e afirmou que o erro não era de ninguém especialmente e sim de toda a equipe.
Como sabemos, embora o revezamento seja a única prova coletiva do atletismo, as ações individuais (acertos e erros) são distinguidas como fatores decisivos. Por exemplo, nessa mesma prova as outras atletas, salvo melhor juízo, tiveram um desempenho muito bom. Portanto, me parece que talvez por estar de "cabeça quente" a atleta brasileira se excedeu e atribuiu a causa da derrota de forma inoportuna.
No esporte de alto nível pequenos detalhes fazem toda a diferença e são muitas vezes (os detalhes!) o motivo da derrota ou da vitória. Já escrevemos também que o atleta Tipo Vencedor sabe atribuir as causas do sucesso ou do insucesso, e nesse caso, uma derrota serve para aprendizado e progresso.
Agora a Confederação Brasileira de Atletismo, pretende punir Vanda Gomes por suas declarações, por entender sua entrevista como um ato de indisciplina.
Independentemente de avaliar se a punição é justa ou não, acredito que atleta e comissão técnica devam refletir e aprender a respeito do acontecido. Em outras palavras, reconheçam que o aspecto psicológico em um programa de treinamento é primordial. Treinar o controle da ansiedade, administrar o estresse, preparar a mente para se concentrar, saber se automotivar… Enfim, fluir na atividade (tarefa), são condições para se atingir o sucesso pleno.
Vanda e nossas outras atletas do revezamento merecem nosso conforto, reconhecimento e afinal, nossos parabéns, porque no esporte de alto nível fracasso e sucesso caminham lado a lado, e por isso, é preciso aceitá-los com nobreza e tranquilidade!