No futuro só haverá solteiros e bem casados

Por Arlete Gavranic

A observação dos relacionamentos e suas crises é uma constante, não só para nós que estamos em consultórios psicológicos, basta olhar para as relações de amigos, parentes, e às vezes, para as de dentro da sua casa e você irá observar muitos conflitos.

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Estar solteiro pode ser muito gostoso, pois você tem a possibilidade de conhecer muita gente nova, sair, ficar… É comum as pessoas se arrumarem, se cuidarem mais, nos mais diferentes estilos, dos descontraídos, esportistas, ao perfil sensual ou chic casual. Você  percebe homens e mulheres mais atentos e cuidadosos com a aparência e costumeiramente mais bem-humorados, dispostos a curtir mais.

Nem sempre esse perfil de solteirice agrada a todos por muito tempo, as pessoas vivem em busca de gostar e se sentirem queridas. Por isso, encontramos muitas parcerias ocasionais; são ficantes, pessoas que se gostam, mas não assumem um relacionamento fixo e nem um modelo de fidelidade.

Isso ocorre por algumas razões:

– por medo de se envolver e de reviver possíveis frustrações de outras experiências;

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– por não gostar o suficiente para assumir um namoro;

– veem nesse modelo ‘tradicional’ de relacionamento uma restrição de oportunidades que desagrada.

Por outro lado, temos o perfil caçador(a), em que estar bonito(a) alegre e disponível tem o objetivo de encontrar outra pessoa para namorar, tão logo se conhecem, já chamam de amor, falam de viver juntos, sonham viagens…

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Mas é grande o número de pessoas solteiras com ficantes ‘frequentes’. Amizade colorida era o nome que se dava nos anos 90, hoje ficam com dois, três ou até mais pessoas com uma frequência semanal, quinzenal ou mensal para transar, fazer um programa. Sem estresse de cobrança ou controle. Observar esse modelo descontraído de relacionamento nos faz pensar se essas pessoas não desejam viver juntas.

Acredito que algumas sim. Mas o desejo de casamento nem sempre é mobilizado apenas pelo afeto e querer viver bem com o outro, muitas vezes pode ser por carência e por insegurança. Nunca deveríamos nos ligar a alguém motivados pelo medo da solidão, de não conseguir se manter ou por carência. O ideal seria aprender a viver bem, mesmo sozinho. Outro aspecto importante ressaltado pelo psicanalista Flavio Gikovate desde os anos 90, é o seguinte: “Mulheres que passam um tempo solteiras podem dar sequência a seus projetos profissionais e ter uma vida mais rica e variada do que as que se casam precocemente.”

Essa riqueza de experiências e de tempo para estudar e se desenvolver profissionalmente permite um ganho de autoestima e confiança para essa mulher, o que auxilia a se desenvolver e buscar relações mais equilibradas, sem tantas cobranças ou dependências.

Pessoas mais maduras emocionalmente tendem a fazer escolhas mais sensatas, passam a ser mais competentes para estarem consigo mesmas e podem fazer escolhas mais tardias, sem medo da solidão ou sem a impulsividade jovial, que busca na parceria mais uma complementariedade e por isso, muitas vezes, se aproximam de pares opostos acreditando que esse pode ser o amor da diferença, que faz crescer. Mas nem sempre essa receita tem sucesso, pois as diferenças podem se tornar entraves para o crescimento pessoal, profissional e até do grupo familiar; além de inúmeros conflitos conjugais pela convivência com múltiplas diferenças que podem afastar mais do que aproximar. Por isso, tenho visto pessoas mais maduras emocionalmente com tendência maior a fazer buscas de relacionamento tendo por base uma afetividade com afinidades, com projetos que não se chocam e com respeito verdadeiro à caminhada do par.

As afinidades são um excelente pré-requisito para as boas relações. Acreditar, gostar, desejar coisas afins traz às parcerias um fluxo de afetos motivacionais que pode ser o combustível apaixonante para os desafios e superações de obstáculos. Por isso, acredito que teremos ainda muitas mudanças nos padrões relacionais, além das relações de poliamor que começamos a ter de aprender a conviver.

Acredito que teremos um número maior de solteiros vivendo prazerosamente sua sexualidade com trocas de afeto e casamentos mais tardios e, possivelmente, mais consistentes em suas relações de afeto.

Receita?

Viver bem, experimentar-se, se conhecer – para muitos casos a terapia pode ajudar muito!

Amadurecer para fazer escolhas por amor a você, a vida é a quem for bom de amar!