por Roberto Goldkorn
Gosto de filmes de terror. Principalmente aqueles que começam numa noite escura, em lugar ermo, desolado, com ventania e folhas de árvores caindo, bailando erráticas antes de tocar o solo impreciso, cheio de musgo e mistérios.
Se a música for lúgubre e ajudar a criar um clima de apreensão, melhor… que se abram as portas do submundo dos fantasmas que os sustos serão garantidos.
Sempre achei que era apenas coisa de cinema (e da ficção em geral) a criação de artifícios cênicos para tocar mais fundo nossos medos ancestrais. O "clima" de terror conseguido à custa de cenário e trilha sonora seria fundamental para a chegada dos fantasmas, monstros, zumbis e cia.
Aos poucos porém, fui descobrindo que não era bem assim.
No mundo real os fantasmas sejam eles o que forem, também precisam de cenário adequado para se manifestarem; a isso se chama contexto ou mais esotericamente sintonia vibratória. Nesse ponto a arte imita a vida.
No mundo espiritual, assim como no material, o contexto é fundamental, se bem que por questões opostas as que vamos ver na realidade física.
Enquanto no nosso mundo concreto o contexto reforça as mensagens, no espiritual (quando ele se manifesta no físico) o contexto cria as condições vibratórias para a sua existência e manifestação (e obviamente também as reforça).
Por exemplo, se desejo fazer um filme sobre surf, primeiro encontro uma praia com ondas surfáveis. Encontro moças e rapazes de corpos sarados, levo a câmera a mirar o sol cheio de aros luminososos refletindo na lente e as pranchas de surf alinhadas ao longo das areias brancas. Pronto está criado, através de uma linguagem contextualizada, a tela para meu filme sobre surf.
Mas para o mundo das energias espirituais, a criação de um contexto apropriado é muito mais que um reforço ou uma introdução ao tema: é a sua sustentação energética, o canal vibratório para sua manifestação.
Lembro-me das recomendações dos médiuns nas sessões espíritas da minha juventude, para que se diminuisse a luz, acendessem as velas e cessassem as risadinhas e atitudes descontraídas.
Lembro também das orações sendo repetidas, ou dos cânticos entoados de forma cadenciada, invocações para serem ouvidas bem longe num lugar que não se situa em lugar algum.
Lembro de como fui assombrado pelo medo depois de assistir ainda pequeno – desobedencendo meus pais – uma história de terror na sessão da meia noite na televisão: A Mão do Macaco, e depois mesmo lutando contra o orgulho pré-adolescente, fui obrigado a pedir abrigo no quarto deles. Se tivesse assistido a esse teledrama num domingo de manhã certamente teria ido à praia em seguida e o terror se desmancharia como a espuma branca das ondas.
Sim, as manifestações espirituais, pricipalmente aquelas que nos perturbam precisam de um conjunto de pré-condições para se manifestarem.
Não costumo lidar com fantasmas, aparições ou fenômenos mediúnicos nos domingos de sol em Ipanema, e mesmo os orixás baianos, irão evitar o agito de *Forte de São Paulo num belo dia de sol, axé music e acarajés.
Essa regrinha de ouro vale em todas as situações, para quem vai lidar com as diferentes faces desse mundo sombrio e misterioso.
Um velho ex-amigo que lidava com energias do "baixo astral" tinha para tanto um barracão de terra batida, sempre na escuridão apenas animado pelas sombras tremeluzentes da luz das velas. Ele "cultivava" a umidade, o limo esverdado nas pedras (que ele chamava de limbo num erro de português que espiritualmente estava mais certo do que ele podia imaginar), as teias de aranha, o cheiro de mofo e de matéria morta, que ele aspirava estalando os dedos como se inspirasse o buquê mais refinado do perfumista mais competente. Mas era alí que as energias que ele invocava se sentiam à vontade, mais que isso se sentiam fortes.
"Os afins se afinam!"
Assim, quando criamos ou frequentamos ambientes, precisamos saber que o conjunto de "coisas" que formam esse espaço, estará tecendo um circuito receptivo ou não às vibrações espirituais que desejamos atrair ou repelir, consciente ou inconscientemente.
Porém, quando me refiro a ambientes físicos, preciso ressaltar que esses ambientes são primordialmente plasmados por mapas mentais. Se seu mapa mental estiver sintonizado nos "fantasmas mais horripilantes" (sejam internos ou externos) você acabará remodelando o ambiente à sua volta para estar confortável a esses "fantasmas"- e como dizia o título daquele filme: Construa que eles virão!
A palavra "médium" significa meio, o intermediário entre algo e alguma coisa, e isso todos nós somos em certa medida. Portanto, precisamos ajustar nossos mecanismos mediúnicos (e o espaço criado por esses mecanismos) para que possamos ter o tipo de companhia e presença que realmente queremos.
Muito mais gente do que se imagina, sofre pelo assédio de energias espirituais nefastas e acabam criando mecanismos adequados para a manifestação dessas energias.
O processo de "cura" dessas manifestações em geral, passa por uma mudança radical desses mecanismos mentais e (o que parece ser até mais fácil) pela reforma dos espaços físicos que dão suporte – contexto – à presença dessas energias.
Conheço histórias de famílias inteiras que precisaram mudar de casa para tentar parar esse assédio espiritual. Mas quando não mudam os mapas mentais de TODOS os integrantes das famílias elas os levarão junto. Assim serão verdadeiros GPS a serem localizados na nova casa, que em pouco tempo será adaptada às necessidades das energias espirituais intrusas e obsessivas.
Portanto, nada de fazer rituais de necromancia num domingo de sol em Ipanema, nem promover um Luau com música eletrônica numa encruzilhada mal iluminada, junto a um cemitério na sexta-feira à meia-noite.
Dizem que na vida amorosa os opostos se atraem, não sei se isso é verdade, mas sei que no plano espiritual só os afins se afinam.
* Forte de São Paulo da Gamboa localiza-se na chamada Gamboa de Baixo, no centro histórico de Salvador, no litoral do estado brasileiro da Bahia.