por Patricia Gebrim
Uma das percepções mais básicas que precisamos ter para tornar possíveis os relacionamentos é a de que somos diferentes uns dos outros. Eu arriscaria dizer que 90% dos conflitos existentes nos relacionamentos se devem a uma negação dessa realidade.
É muito comum que façamos ao outro o que gostaríamos que ele fizesse conosco. Logo, se gosto de ficar sozinho, tendo a deixar o outro só. Se, por outro lado, adoro carinho, tendo a sufocar o outro com abraços e beijinhos. Parece óbvio não é?
– Ora, se eu quero tanto, tanto, tanto, receber isso, por que o outro não iria querer também? – pensamos. E não termina por aí…
Ainda achamos que, se fizermos isso para o outro, ele perceberá aquilo pelo qual ansiamos tão profundamente, e finalmente nos dará o que tanto queremos. E eu lhe pergunto. Nesse caso, você realmente acha que fez algo pelo outro? Ou no final das contas tudo se tratava de você?
Que tal um pouco de biologia???
Algumas pessoas são como um cactus! É verdade!!! Um tanto espinhudas, não gostam muito de contato. Para as pessoas-cactus bastam míseras gotinhas de água para que se sintam alimentadas. Para um cactus, nada de cascatas de lágrimas, nada de emoções intensas, muito menos abraços melados demais! Você pode se relacionar superficialmente com um cactus e, para ele, esse grau de intimidade já está mais do que satisfatório. Para um cactus não são necessárias conversas profundas ou olhares de alma. Nada mais exasperador para um cactus do que você querer contar a ele o que você sente ao se deparar com os seus espinhos!
Ah… se todos fossem cactus até que tudo sairia bem…
Agora vou falar de algo diferente. Eu não sei se você conhece essa flor, e espero que você me perdoe porque eu não vou saber lhe dar o nome técnico… só sei que a chamam popularmente de maria-sem-vergonha. É uma florzinha silvestre, pequena e bem colorida. Existem as brancas, as rosas, as laranjas e as vermelhas. Costumam alegrar os jardins como se fossem pequenos sorrisos que se espalham pelos lugares mais simples. Bem, se você já sabe de que flor eu estou falando, tente algum dia ter uma em um vaso. Eu já vou me adiantando em dizer… é enlouquecedor. Você rega a florzinha e depois de umas horinhas lá está ela, toda murcha, pedindo água de novo. Você lhe dá água, e mais… e mais… e mais… e ela continua querendo mais. Eu nunca conheci flor mais sedenta!!!
Existem pessoas que são assim. Muito sensíveis e delicadas, requerem muita atenção e cuidados. Precisam ser constantemente alimentadas. Precisam de muitas conversas, e também de beijos e abraços. Choram com facilidade, são capazes de mergulhar em profundas discussões sobre os sentimentos, sejam seus ou do outro. Precisam sentir-se conectadas em profundidade com a vida e com as pessoas. Para se sentirem íntimas de alguém precisam de uma grande proximidade emocional.
Quando marias-sem-vergonha se relacionam com marias-sem-vergonha, até que tudo vai bem. Mas o que você acha que aconteceria em um encontro entre um cactus-espinhudo-do-deserto e uma maria-sem-vergonha????
Reproduzo um diálogo abaixo:
Maria-sem-vergonha – Você anda tão distante…
Cactus – Como assim? Estou do seu lado agora mesmo!
Maria-sem-vergonha – Está aqui mas não está. Não está prestando atenção em mim!
Cactus – Como não? É que você não entende que eu tenho o direito de querer estar sozinho de vez em quando
Maria-sem-vergonha – Está vendo? Não tem paciência comigo… (começa a chorar)
Cactus – Ah! Lá vem você com essa choradeira de novo!
Maria-sem-vergonha – Você não me ama!
Cactus – É claro que eu amo! O que você quer que eu faça???
Maria-sem-vergonha – Você é um insensível!!!
Cactus – Você é que é uma derretida e sente tudo demais!
Maria-sem-vergonha – SEU GROSSO!!!
Cactus – SUA LOUCA!!!!
Bem, acho que vocês já presenciaram algo parecido com isso em algum momento de suas vidas.
Eu só queria lhes dizer que não existe nada de errado com um cactus, muito menos com as lindas marias-sem-vergonha. Eles apenas são diferentes!
Se você estiver vivendo um relacionamento com alguém muito diferente de você, entenda que é preciso que você reconheça e aceite essa diferença, sem julgamento, sem querer que o outro seja igual a você.
É preciso que cada um de vocês tente perceber o ponto de vista do outro, com compaixão.
É preciso que o cactus entenda que, sem água, as delicadas marias-sem-vergonha podem morrer.
É preciso, por sua vez, que as florzinhas entendam que um cactus pode apodrecer se for inundado o tempo todo.
Cada um deve ceder um pouco, na busca de um equilíbrio que torne a convivência possível. Não é culpa de ninguém!
Eu repito… não existe a pessoa certa e a pessoa errada e enquanto você não perceber isso, as diferenças continuarão sendo razão para intermináveis discussões.
Seja você um cactus, uma maria-sem-vergonha, uma palmeira, um tomateiro, uma bananeira ou um pé de laranja lima, torne-se flexível e busque um espaço comum com a pessoa que está vivendo um relacionamento com você!