por Antônio Carlos Amador
“… para ganhar certas liberdades é inevitável o sacrifício das outras“
Quando perguntamos a uma criança o que quer ser quando crescer, é bem provável que ela nos responda com alguma profissão caracterizada pela coragem, bravura e pelo espírito de aventura. É uma resposta até certo ponto lógica porque sua imaginação costuma estar repleta de fantasias e de modelos que ela gostaria de imitar, como policiais, bombeiros, astronautas, ou os grandes heróis e heroínas dos contos e dos filmes.
Outras crianças mais comedidas nos dirão que querem ser como seus pais, quando enxergam neles bons modelos a serem imitados. E uns poucos optarão com bastante segurança por qualquer outra profissão mais compatível com suas preferências.
Na adolescência e no início da vida adulta ocorre uma definição por um comprometimento com o futuro profissional; embora alguns jovens tenham ainda que experimentar vários estudos e formações, antes de decidir-se pelo caminho definitivo.
Por último, no auge da idade adulta se supõe que o indivíduo, em um ou outro trabalho, já alcançou certa estabilidade em que conhecimentos e experiências adquiridos o definem como profissional. Não se pode esquecer que o trabalho também significa dinheiro ganho pela própria pessoa. E é esse dinheiro que permite a liberdade de escolha das satisfações. Mas o trabalho também implica perda de liberdade, nem que seja apenas de tempo; para ganhar certas liberdades é inevitável o sacrifício das outras. Fazer compromissos é essencial para constituir um estilo de vida adulta. Aqui temos alguns exemplos de pessoas que, em conversa refletem isso: “Quando me tornei assistente social descobri finalmente que era feliz. Era eu mesma. Sentia-me satisfeita comigo pelo que fazia e as pessoas gostavam de mim. Não podia imaginar-me fazendo outra coisa na vida”.
Ainda assim muitas pessoas, apesar de terem alcançado um bom nível social e profissional, não sentem satisfação com o status que alcançaram ou com o trabalho que realizam. Algumas parecem mesmo carregar uma cruz diariamente, mesmo quando são bem remuneradas.
Infelizmente, nem todo mundo tem acesso a um posto de trabalho no qual seu desempenho seja bem-sucedido e gratificante, fazendo com que muitas pessoas se encontrem realizando tarefas que não lhes agradam.
Outras vezes, seja por tradição familiar ou por autoritarismo paterno, o indivíduo se vê obrigado a exercer trabalhos que não o satisfazem em absoluto e que, com o passar do tempo assumiram como próprios, ainda que inconscientemente o rechacem.
E por último, em algumas ocasiões tem lugar uma espécie de “crise vocacional”, desencadeada por frustração ou desgosto que sofre a pessoa que, embora realize aquela atividade que sempre desejou, não se sente capaz de continuar, ou pensa que talvez outra profissão lhe satisfaça mais.
Pode haver um grande número de outros motivos, mas praticamente se pode afirmar que, quando há liberdade na hora de escolher uma ocupação ou uma profissão e tem lugar a insatisfação profissional, não é pelo trabalho em si que se dá essa situação. Quer dizer: devemos considerar a profissão como um atributo a mais da personalidade. Se a pessoa é insegura ou apresenta traços neuróticos de perfeccionismo exagerado é possível que não se satisfaça, não só no plano profissional, mas em todos os outros níveis de sua vida pessoal. E pelo mesmo princípio de insegurança, se a pessoa valoriza a si mesma apenas por seu status socioeconômico e não por suas qualidades pessoais, sempre haverá ao seu redor outras pessoas com cargos profissionais melhor situados que o seu e que lhe farão duvidar de seu valor.
A autenticidade de uma pessoa não se mede pelo status social de sua profissão, nem por seus títulos acadêmicos. Todo ofício é respeitável e o verdadeiro profissional é aquele que desempenha seu trabalho com comprometimento e dignidade em qualquer categoria. A frase do psicanalista Erik Erikson define com precisão essa questão: “Nós somos o que amamos”.