por Cristina Balieiro
Não, não vou falar do best-seller, pois não o li.
Uma trilogia focada em um relacionamento amoroso, com uma “pegada” de princípe encantado: o cara é lindo, infinitamente rico, a ama perdidamente, cuida dela – e que ao mesmo tempo tem o desejo e a prática sado… confesso, da minha parte não há o menor interesse.
Mas vou aproveitar o sucesso e me apropriar do título, que acho ótimo, para falar de coisas totalmente diferentes.
Quero refletir sobre a enorme dificuldade que temos de lidar com a complexidade e a ambiguidade da vida e das pessoas (nós incluídos).
É tão mais fácil ter rótulos prontos e com eles ir separando experiências, sentimentos e pessoas em certos ou errados, bons ou maus, luminosos ou sombrios, valiosos ou sem valor.
Sempre de forma radical: se a pessoa, a experiência, o sentimento “assim” é certo, bom, luminoso e valioso. Se é “assado” é errado, mau, sombrio e sem valor. Tudo ou é uma coisa ou é seu contrário, tudo é branco ou é preto.
Assim a vida fica mais fácil e não temos que lidar com dúvidas, dilemas, paradoxos, contradições; nem pensar é preciso: basta rotular!
Mas a vida e nós, seres humanos, somos muito mais complexos que estas categorias estanques. Nada ou quase nada é totalmente certo, bom, luminoso, valioso ou totalmente errado, mau, sombrio e sem valor.
Quantas vezes aquela pessoa que parecia tão boa e incapaz de qualquer maldade, vai se mostrar capaz de ferir a nós ou aos outros até com crueldade. Quantas vezes achamos que estamos absolutamente certos e cometemos enganos absurdos. Quantas vezes acreditamos estar agindo com uma pessoa por amor a ela e no fundo estávamos pensando era na gente mesmo. Quantas vezes rotulamos o que estamos sentindo como errado, como se a gente tivesse controle do que sentisse! E pior, por que é errado sentir aquilo, negamos, reprimimos e nos desconectamos do que sentimos e acabamos agindo sob o domínio aquele sentimento, mas de forma inconsciente.
E, ao contrário, quantas vezes aquela pessoa que mais nos magoou foi aquela que mais nos fez crescer. Ou aquela de quem não esperávamos nada é a que se mostra mais solidária em nossas dificuldades. Quantas vezes o que a princípio considerávamos um tremendo erro, se mostra no final o maior acerto. Quantas vezes aquela experiência que foi a mais difícil de ser vivida se mostrou fundamental para chegarmos a um outro patamar na vida. Quantas vezes admitir que estamos sentindo algo que nos envergonha é o começo de um caminho de autoaceitação e amadurecimento.
Nós humanos, nossas experiências e a vida não são branco ou preto. Cinquenta ou muito mais tons de cinza as expressam muito melhor.
A vida, de fato fica mais fácil se optarmos pelo caminho linear de ver através dos rótulos, de rígidas categorias, mas fica também MUITO mais pobre.
É ao aceitar e aprender a lidar com a relatividade, a ambiguidade, a diversidade e a complexidade – nossa e da vida – que podemos viver uma vida plena, com todas suas alegrias e dores.
E só dessa forma podemos ser nós mesmos em todas as nossas ricas nuances de cinza. E de todas as outra cores também, por que não?