por Guilherme Teixeira Ohl de Souza – psicólogo componente do NPPI
Nós, seres humanos, usamos ferramentas desde que surgimos na Terra, muito antes mesmo de assumirmos a forma moderna do Homo Sapiens.
Elas sempre estiveram presentes, ao lado de nossa evolução biológica e de nosso desenvolvimento cultural, mesmo que no início desse processo se constituíssem em artefatos que hoje nos parecem muito rudimentares, como galhos de árvores que nos permitiram alcançar os frutos, ou as pedras pontiagudas que nos serviram como armas ou instrumentos de corte.
Apesar de existirem outras espécies capazes de utilizar ferramentas, nenhuma teve tanta intimidade com esses artefatos quanto os humanos. As ferramentas nos permitiram sair de nosso "estado natural" para manipular nosso ambiente até o ponto, por exemplo, de impulsionarmos a evolução de estruturas do nosso corpo. Exemplo desse processo é a evolução do cérebro humano, que ampliou a capacidade de estabelecer conexões a partir do momento que nossa espécie dominou o fogo e passou a utilizá-lo para preparar alimentos cozidos; fato esse que propiciou melhor absorção dos alimentos e a consequente evolução de nosso cérebro.
Desse modo, passo a passo, desde os primórdios buscamos ir além de nossos limites para suprir nossas necessidades, sejam elas provindas do ambiente ou as que nós mesmos criamos. O humano moderno dispõe de tecnologias diversas, ou melhor, está completamente cercado delas. Esses artefatos reproduzem de alguma forma nossa realidade "natural", mas são construídas de maneira a otimizar suas potencialidades e servir melhor aos nossos interesses. Isso pode ser visto mais claramente pensando em um carro como extensões dos nossos músculos ou pernas, muito mais potentes que nos permitem percorrer distâncias que seriam sacrificantes a pé, ou ainda em uma velocidade impossível para nosso limite físico. O telefone também pode ser entendido como um instrumento que amplia os limites naturais da nossa comunicação verbal (a fala e a audição) que passa a alcançar distâncias continentais; há ainda as câmeras, que podem ser entendidas como extensões dos nossos olhos, mas que não só "enxergam" mas também registram os fatos aos quais poderemos ter acesso, mesmo que posteriormente à sua ocorrência, e assim por diante.
Tecnologia informatizada permite ao cego ultrapassar limites físicos
No contexto atual, há um grupo de seres humanos que pode se beneficiar de maneira peculiar do uso da tecnologia informatizada: os cegos. Os artefatos desenvolvidos nessa área permitem aos deficientes visuais ultrapassarem seus limites físicos de forma inédita na história humana: ajudam muito aos cegos em sua busca por autonomia – especialmente em uma sociedade que, em grande parte, foi construída para e por quem tem a capacidade física de enxergar de forma normal.
Em 2003 já escrevíamos sobre as tecnologias que podiam auxiliar cegos em seu dia a dia. Porém, os recursos existentes à época sequer seriam comparáveis aos novos artefatos hoje já disponíveis a essas pessoas. Com tudo o aparato existente hoje – como reconhecimento de fala, gesto e rosto, *QR code, sensores de distância e muito mais -, não há motivos "técnicos" para não se ampliar a inclusão social dos cegos. O que existe, ainda, é o antigo preconceito de considerar uma limitação física como impossibilidade de se viver uma vida plena, e a falta de informação ampla da sociedade, tanto por parte dos videntes (os quem têm a capacidade de ver) como por grande parte dos cegos, e/ou de suas famílias.
É verdade que já se observa uma pequena melhora no que se refere à inclusão social do cego, por conta de iniciativas públicas e de um espírito do tempo que a prega. Mas, ainda há muito esforço a ser feito e, falando de maneira específica, é fundamental levar essa inclusão para além das grandes cidades, pois na medida em que as instituições de apoio a deficientes visuais concentram nesses locais, os residentes em outras áreas permanecem desatendidos. É importante ainda lembrar que muitos desses recursos que beneficiam os deficientes visuais são também aplicáveis ou adaptáveis e válidos para outros tipos de deficiência ou limitação física.
* Uma pessoa com baixa visão poderia enxergar o quadrado do QR code e assim se beneficiar dele, como por exemplo, extrair informações e transformá-las em áudio.
Para aqueles que desejam saber mais sobre algumas dessas tecnologias básicas, recomendamos a leitura do nosso artigo de 2003 "O Deficiente Visual frente às novas tecnologias", disponível em: http://www.pucsp.br/nppi/coluna_eletronica/2003/artigo_novembro_o_deficiente.html, pois mesmo antigas, as ferramentas ali mencionadas ainda são utilizadas.
Para quem deseja conhecer alguns exemplos de tecnologias mais modernas aplicadas à ajuda aos cegos, oferecemos aqui alguns links:
Novas tecnologias ajudam cegos a ver
http://blogs.estadao.com.br/link/novas-tecnologias-ajudam-cegos-a-ver/
Samsung cria acessórios de celular para ajudar e guiar cegos
http://tecnologia.terra.com.br/samsung-cria-acessorios-de-celular-para-ajudar-e-guiar-cegos,d7b7e4e1620c4410VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html
Tecnologia permite que cegos "enxerguem" por meio de sons
http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2014/03/07/tecnologia-permite-que-cegos-enxerguem-por-meio-de-sons.htm
Tecnologia permite que cegos "enxerguem" por meio de sons
http://linguagensmultisensoriais.blogspot.com.br/2011/05/wicab-permite-que-cegos-vejam.html
Primeiro celular que exibe imagens em Braille pode chegar às lojas em 2013
http://tecnologia.ig.com.br/2013-04-24/primeiro-celular-que-exibe-imagens-em-braille-pode-chegar-as-lojas-em-2013.html
Óculos biônicos podem ajudar cegos a enxergar
http://www.modismonet.com/2011/07/oculos-bionicos-podem-ajudar-cegos-a-enxergar/
Criada bengala com etiqueta eletrônica para ajudar cegos
http://sergiosg1959.wordpress.com/2009/09/29/criada-bengala-com-etiqueta-eletronica-para-ajudar-cegos/