por Roberto Goldkorn
Toda a minha vida escolar fui um péssimo aluno de matemática. Mesmo no curso de psicologia, já “burro velho” empaquei na cadeira de estatística, por causa da forte presença da matemática. Sei que não estou sozinho nesse bloqueio com os números, mas essa “deficiência” sempre me deixou mal. Foi por causa da necessidade de dominar a matemática que desisti do antigo curso “científico” que me levaria invariavelmente à medicina: e isso foi um fantasma na minha vida. Dizia para mim mesmo “viu matemática, que grande médico você fez o mundo perder?” Quis o destino que eu viesse a me interessar por uma técnica que também tem o número como base: A numerologia. Porém, ao contrário da matemática, aqui os números não expressam quantidades ou conteúdos virtuais, e sim qualidades e arquétipos.
Minha mente eternamente em busca da lógica interna, teve muita dificuldade inicial para se entender com tantas versões e confusões dos numerólogos que encontrei no caminho. Mas alguma coisa mais forte me dizia para ir em frente. Foi um longo caminho até compreender que nada havia de místico nos números, que não refletiam valores universais, não eram como muitos pretendiam parte integrante do esquema cósmico. Por isso havia tantas versões, e interpretações, que variavam com a cultura a qual pertencia o especialista e com as suas limitações. Finalmente relaxei ao perceber que a força dos números tratados pela numerologia estava justamente em seu caráter cultural/psicológico, a mesma gênese que alimenta o conceito junguiano do arquétipo.
A numerologia funciona?
Sim, porque a nossa civilização convive com os arquétipos numéricos há pelo menos 5 mil anos. Os estudiosos afirmam que nos primórdios da humanidade, nossos ancestrais não conheciam os números como descrição exata das quantidades. Eles usavam o que se convencionou chamar de “sensação numérica”. Era uma coisa do tipo: “Quantos carneiros você tem?”
“Um monte pequeno. Já o meu tio tem um monte grande”.
A sofisticação das relações de produção (geração de excedente) e a acumulação de capital levaram de forma inexorável ao desenvolvimento de sinais que expressassem de forma mais exata a riqueza emergente. Aí surgiram os números. Mas ao mesmo tempo em que eles foram sendo consignados a quantidades cada vez maiores e manipulados de forma a realizar operações matemáticas, começaram a ser descobertos em seu potencial para expressar qualidades. Assim, aquele pastor de 5.000 anos atrás, que tinha um monte pequeno de carneiros, num determinado momento sentiu a necessidade de controlar de forma mais minuciosa o seu pequeno rebanho. Todos os dias à noite ele anotava com uma faca, num osso de lobo, cada animal que entrava na caverna para passar a noite.
No dia seguinte, à medida que iam saindo da caverna, recorria com o dedo cada marca em seu “osso de contabilidade”. Nessa primitiva operação matemática, não lhe passou despercebido, o fato de ser sempre a mesma, a mesma cabrita a sair na frente, a galope e saltando cheia de energia. Aí ele pensou, “essa aí é a minha nº. 1, a primeira que sai”. Logo atrás vinha outra a seguindo, tentando tomar conta da entusiasmada cabrita, e evitando que ela corresse para longe onde havia perigo. O pastor pensou: “essa é a número 2,” (a apoiadora, a seguidora).
Saco de gatos
Sem perceber o nosso hipotético pastor estava agregando aos números conteúdos psicológicos, atributos qualitativos que seriam desenvolvidos ao longo dos séculos e fixados na mente profunda, ou como designou Jung, no Inconsciente Coletivo de uma grande parcela da humanidade. Da mesma forma que os arquétipos sofrem variações culturais e temporais, pois estão em evolução constante, os significados dos números também passa por esse processo. Mas nem por isso a numerologia é um “saco de gatos”. Há bases comuns onde se apoiar, desde que não exijamos dessa técnica (assim como não devemos esperar das tantas “psicologias”, e das medicinas) um desempenho matemático, exato, infalível, absoluto.
Como todo começo de ano, as previsões místicas e “científicas” inundam a mídia, satisfazendo uma curiosidade muito humana, compreensível, de querer antecipar o que vem pela frente. De minha parte não acredito na eficácia de previsões tão amplas como a de um ano, que abrigará sob as suas areias toda uma humanidade, mesmo que os judeus tenham outra cifra para ele, e também os chineses, coreanos, os muçulmanos, etc.
2008 e Obama
Não estamos falando de um evento natural, e sim cultural, e portanto psicológico. Mas embora não aposte duas fichas em previsões universais, esse ano tem algumas características incomuns. É o primeiro ano 1 (2+0+0+8= 10=1) do século XXI, e do 3° milênio. Por isso pode sim ter alguma coisa comum a ser partilhada pela humanidade. Como todo ano 1 pessoal, 2008 pode trazer a nossa humanidade eventos únicos, inaugurais em diversas partes do mundo, mas sempre com influência planetária. Diante disso se vocês me pedissem para exemplificar eu diria: há uma grande chance de nos EUA, pela primeira vez na história, haver um presidente do sexo feminino ou negro, no caso agora só Obama, já que Hillary está fora do páreo. Isso terá uma influência forte em nossas vidas. Pode ser o ano em que o padrão dólar seja substituído por outra moeda ou por uma “bolsa de moedas”, e caso aconteça será também inédito. O período 1 costuma brindar seus “donos”, com acontecimentos inusitados (bons e/ou maus), e trazer pessoas que surgem do nada (Obama?) para exercer uma forte influência por um longo período.
Pode ser um ano ideal para manobras radicais na vida pessoal, fazer coisas que nunca fez antes, iniciar processos, que se espere que tenham longa duração, como abrir uma empresa, começar um estudo, aprender a dirigir, etc. Mas atenção, período 1 é iniciante, é uma criança, um adolescente, e como tal imaturo, ousado, e apressado. Isso pode levar a um retrocesso, muito entusiasmo sem reflexão pode desabar logo adiante.
Se conseguirmos adicionar ao ímpeto do 1, a ponderação e o planejamento, se conseguirmos ter a audácia criativa, modulada pela sabedoria que tempera com sensatez as nossas ações, não queimaremos a língua comendo o prato quente demais. Porém os medrosos serão punidos com paralisia, a estagnação, e como naquele jogo infantil de circuitos, ficarão várias jogadas sem mexer seus carrinhos. Não esqueçam de um detalhe, um ano passa muito rápido, e esse é justamente o desafio do ano que agora se iniciou. Agir sim, planejar sim, ter coragem sim, mas olhar para frente para não tropeçar nas próprias pernas.
Se você não acredita em numerologia não faz mal, essas dicas também lhe servem, ou não?