por Ceres Araujo
As crianças crescem, começam a se transformar em adolescentes, o que nem sempre os pais percebem, razão pela qual surgem novos conflitos. Dentre os mais frequentes estão os relativos às saídas noturnas para festas e “baladas” e os relativos à hora de voltar para casa.
Não devem os pais evocarem a época em que começaram a sair à noite e a conduta de seus próprios pais em relação a eles, pois o mundo mudou, os tempos e os costumes são outros.
Os jovens de hoje, conectados ao mesmo tempo em vários canais de comunicação, donos da possibilidade de se ligarem e de se desligarem quase que simultaneamente de milhares de outras pessoas, desejam “abraçar” o mundo. Fantasiam ter o poder da ubiquidade, isto é desejam estar em vários lugares ao mesmo tempo, o que se concretiza na quantidade de programas para a mesma noite, muitas vezes. Comprometem-se com várias programações e deixam para escolher as melhores na última hora, com receio de não escolher bem. Acreditam que conseguem ter o controle de todas as variáveis e que nada irá lhes acontecer de ruim. Isso está relacionado a uma inflação do eu, que é frequente na adolescência e que tem um caráter de mecanismo de defesa. A insegurança, própria à idade, muitas vezes é compensada por posturas de onipotência.
Caso os pais adotem uma postura repressiva, uma postura de controle rígida em relação aos pedidos de saída de seus filhos, com quase certeza, os levarão a revolta, que pode ser manifesta em reações agressivas por parte deles ou que pode não ser manifesta externamente, gerando ressentimentos, simulações e mentiras.
Pré-adolescentes e adolescentes precisam de proteção, pois ainda não se desenvolveram o suficiente para conseguirem tomar conta de si e, portanto, necessitam da atenção de seus pais. Eles ainda estão adquirindo e formando os primórdios de uma ética pessoal e nem sempre sabem o que é bom para eles, o que não lhes faz mal. Descobrirão isso pela própria experiência, mas precisam ser acompanhados à distância por seus pais.
Escutar o filho com paciência, deixá-lo expor todos os seus argumentos, manter o dialogo aberto com ele, parecem ser as condutas mais apropriadas. Os pais jamais devem diz “não” de imediato a um pedido de seu filho adolescente. A conduta mais adequada dos pais quanto a tipos de festas e de “baladas” que os filhos podem ir e quanto à hora de voltar para casa é: ouvir, conversar sobre o tema, se permitir um tempo para pensar com calma, voltar a escutar os argumentos, contra-argumentar, escutar a tréplica, justificar seus pontos de vista e só depois de tudo isso comunicar sua resolução. Se a resposta for “sim”, é necessário então, combinar as condições da saída e da chegada.
O adolescente precisa ser ouvido e precisa compreender as justificativas de seus pais para os eventuais “nãos”. O “não” para a criança pequena é o “não ponto!”. Eu percebo que os pais justificam tanto o “não” para suas criancinhas e parece que, quando essas criancinhas crescem se transformam em adolescentes, eles, pais, já estão cansados de tanto justificarem, que utilizam do “não” ponto, frente às solicitações de seus filhos crescidos. Escutam demais as crianças pequenas, com medo de reprimi-las, e não desenvolvem uma comunicação aberta e uma relação de confiança irrestrita com seus adolescentes, podendo torná-los, aí sim, seres reprimidos e/ou revoltados.
Vivemos em cidades perigosas, em tempos violentos e nossos filhos precisam ser protegidos. Essa é uma função inalienável dos pais. É triste quando o poder público precisa assumir tal função, como o que ocorreu, há pouco tempo, em uma cidade do Estado de São Paulo, quando foi estabelecido, por lei, o toque de recolher para os adolescentes. A necessidade de tal lei testemunha a falta de competência dos pais e, portanto, a desvalorização deles, enquanto figuras de autoridade.
Protegidos por limites saudáveis e por olhares atentos, os adolescentes, tendo a confiança de seus pais, devem fazer as experiências que o mundo lhes oferece. Apenas as experiências concretas lhes darão o conhecimento sobre si e sobre as situações.
O adolescente ao frequentar festas e “baladas” está de certa forma partindo para uma aventura, acompanhados de seus iguais e acompanhados à distância de seus pais. Esses, sempre precisarão saber onde seus filhos de verdade estão, a cada momento, e que poderão ser conectados, se necessário.
É saudável e, mesmo, indispensável que uma atmosfera de confiança irrestrita seja estabelecida e mantida entre pais e adolescentes. Os acordos são contratos, que não podem ser rompidos e que levam a sansões, caso não sejam cumpridos. Os limites bem definidos, pelos pais, fazem parte do crescimento do adolescente para a vida adulta. Os adolescentes sabem muito bem disso.