por Patricia Gebrim
Amar é ser capaz de plantar estrelas… e nutrir a terra, e regar a semente, dia após dia, e confiar na luz que virá, mesmo quando a terra permanece quieta e aparentemente morta.
Não é para qualquer um. Estamos todos ainda engatinhando em relação ao amor.
Vivemos em tempos onde tudo é instantâneo, superficial e descartável. Conhecer uma pessoa pela manhã, acreditar que ela é a mulher ou homem da sua vida pela tarde e declarar seu amor eterno no começo da noite, não é amor. É carência, desespero, cegueira, pode dar o nome que quiser, MAS NÃO É AMOR!. É querer encaixar à força aquela pessoa nas suas fantasias de criança que ainda não se sabe grande.
Não estranhe se o outro fugir quando você agir assim, pois vista de fora, essa atitude se parece com uma enorme boca vindo em nossa direção para nos engolir. Uma baleia branca faminta e cega. Quando alguém age assim, eu me lembro de Jonas e o imagino prestes a virar comida da Moby Dick. De fora não faz o menor sentido alguém agir dessa maneira, se nem sabe ainda quem o outro é. Quem age assim, ainda se encontra tão imerso em si mesmo, que é incapaz de sequer enxergar a existência alheia. Existe alguém do outro lado, entende? Alguém que você precisa conhecer antes de sair por aí criando expectativas, essas predadoras de sonhos, que transformam o que poderia ser lindo em um pesadelo assustador que espanta as pessoas para longe de você (e, acredite, elas estão certas em fugir!).
O Amor é uma linda construção e requer maturidade e tempo para brilhar na beleza da sua luz. Existem etapas a serem cumpridas, não como um protocolo, mas como movimentos da própria natureza, necessários para que a semente do amor possa florescer. Não se chega ao amor sem determinação, persistência e disponibilidade em cuidar. Amor não é flecha que cai do céu, embora o cupido não goste de ouvir isso. É fruto de uma semente de luz que foi plantada, nutrida, cuidada e amada, até que um dia floriu. Por isso, é preciso antes ter amor em si mesmo, para que se tenha com o que regar a luz. O resto é paixão, ilusão, ou medo, ou desespero, tudo com alto potencial para terminar em dor e lágrimas, como acontece nos filmes românticos que idolatramos nas noites solitárias.
Uma pena, todos nós fomos ensinados a buscar a paixão, os arroubos, o fogo transbordante que se agita dentro de nós, como a lava prestes a ser expulsa do vulcão. Não aprendemos a valorizar a candura da vela, a cuidar da pequena faísca e dar-lhe oxigênio para que se faça grande, a entender que explosões têm curta duração e costumam deixar um rastro de destruição por onde passam. Não sabemos velar o fogo e mantê-lo aceso, apesar de termos tido que aprender isso para sobreviver neste planeta, creio que esquecemos. Talvez seja culpa dos fornos de micro-ondas, da civilização, da falta de natureza em nossas vidas. Falta contato com a parte de nós que sabe. Todos sabemos amar em nossa essência, e é para lá que precisamos voltar se quisermos manifestar esse amor na forma de um relacionamento.
Em tempo… Aos que gostam de escalar vulcões flamejantes, nada tenho a criticar. Apenas não chamem isso de amor e não esperem que o fenômeno os acompanhe por muito tempo. Cada um vive sua vida como quer e todas as experiências, absolutamente todas, são igualmente válidas. Alguns caminham por esta vida para domar vulcões, outros são jardineiros de estrelas, o importante é saber quem somos e sermos honestos com relação ao que buscamos. A partir daí, basta seguir pela vida e tentar encontrar reciprocidade em um parceiro.
Se você quiser surfar nas lavas de um vulcão, procure encontrar alguém que esteja nessa mesma vibração.
Mas se você deseja aprender a amar, a soprar a brasa da fogueira com um cuidado atento e sutil, sonhando com o calor do fogo, confiando na beleza que possa surgir dali, tente encontrar um parceiro disposto a ser também um guardião do fogo. Fuja dos alpinistas de vulcões, maravilhosos e fugazes como são, e procure por aqueles que espantam a escuridão da noite mantendo acesa a sutil chama dourada de seus próprios corações.