por Angelo Medina
No mundo globalizado de hoje, onde as informações e o desenvolvimento tecnológico, acontecem em grande profusão e em velocidade acelerada, é fundamental estar fazendo, regularmente, uma avaliação do desempenho profissional.
Nesta entrevista ao Vya Estelar, José Carlos Figueiredo, diretor da divisão de consultoria, em soluções globais para RH, da PricewaterhouseCoopers, ensina como conduzir a carreira profissional. Ele oferece dicas de como preparar um currículo e proceder numa entrevista. Afirma que o autoconhecimento é peça fundamental na hora de fazer um check up da carreira. Fala sobre competência, talento e inteligência emocional. Explica que o segredo de uma carreira promissora, é trabalhar com qualidade, fazendo bem o que gosta.
Quando você estiver procurando trabalho, lance mão de todos os recursos: redes sociais, agências, bibliotecas, Internet. Considere o próprio processo de procurar o emprego de tempo integral, como um verdadeiro trabalho de tempo integral. Mensagem extraída do livro – Terapia do Trabalho – Editora Paulus
Vya Estelar – O que você aconselha para quem está desempregado?
José Carlos – A sensação que a pessoa tem ao perder um emprego, é a de tirarem o chão dos seus pés. É preciso eliminar este paradigma de que, quem perdeu o emprego, está com uma doença mortal. Não ter vergonha de ligar para as pessoas e pedir ajuda. Eu aconselho a procurar alguém que dê uma assessoria e um aconselhamento profissional adequado e redes socoais é claro. Contrata-se uma empresa que se chama out placement – empresa de recolocação. Estas empresas preparam o profissional que sofreu o choque, para assimilar esta nova situação. Em segundo fazer o seu currículo e divulgá-lo.
Vya Estelar – Como se prepara um currículo?
José Carlos – Existe todo um folclore na preparação do currículo. Na verdade, o currículo é um veículo de comunicação, que tem a finalidade de gerar uma entrevista e não um emprego. Portanto, deve ser preparado pelo próprio profissional que vai participar da entrevista. O currículo deve ser claro, objetivo, conciso e despertar o interesse para a sua leitura integral. Uma regra básica é não ser prolixo. Eu gosto de no máximo duas paginas.
Currículo
Primeiro bloco: de identificação pessoal, nunca negue a idade. As consultorias especializadas às vezes recomendam que se omita a idade no currículo, ou que seja colocada no final dele, em uma frase isolada. A segunda proposta é a mais assertiva, pois a idade será revelada, somente após o recrutador ter lido todo o histórico pessoal e profissional do candidato.
Segundo bloco: é a formação acadêmica, sem mais uma vez mentiras. Há muitas pessoas que citam cursos que nunca fizeram e quando são admitidas pela empresa e pede-se a cópia do diploma, não têm.
Terceiro bloco: é a experiência profissional, de fato, citando mês de início e mês de encerramento, em todas a empresas, em ordem cronológica decrescente. Dá ultima para a primeira. Colocando o cargo e uma breve descrição do que fez.
Outra opção é colocar, logo depois da formação acadêmica, em tópicos, a experiência profissional. Principalmente, o que a pessoa conseguiu como resultado através da sua atuação. Aí então, nas empresas, a pessoa cita o nome e o cargo. Não há necessidade de falar de empresa em empresa, o que a pessoa fez. Isto fica para a entrevista.
Vya Estelar – Como deve-se agir numa entrevista?
José Carlos – A pessoa tem que estar muito bem preparada, com respostas rápidas, diretas e sem rodeios. Responder apenas o que a pessoa perguntou. Ser prolixo mata uma entrevista. Não querer mostrar conhecimento além do necessário. A pessoa tem que estar tranqüila, ser ela mesma e agir principalmente com muita naturalidade. Vendo aquilo apenas como mais uma entrevista e não como sendo a última que vai fazer na vida.
Vya Estelar – Qual é o peso de uma entrevista na hora de arrumar um emprego?
José Carlos – A entrevista é 100% para eu encaminhar um candidato para o cliente. O candidato passa por aqui e eu mando o relatório dele para o cliente. E via de regra os três ou quatro relatórios que eu passo para o cliente são entrevistados. A escolha do cliente vai ser decidida na empatia, porque todo o lado técnico eu já fiz aqui. Um dos três ou quatro serão selecionados.
Vya Estelar – A questão do figurino, como fica?
José Carlos – A pessoa tem que ser ela mesma. Se a pessoa nunca vestiu terno, ela vai entrar brigando com a roupa na entrevista. A pessoa tem que ser o que ela é. Uma dica é a pessoa ir com a roupa que ela está habituada a trabalhar.
Vya Estelar – Um mau figurino pode matar uma entrevista?
José Carlos – Tive um caso. Estava contratando um advogado para um grande grupo e esse advogado chegou para entrevista com uma calça laranja, um paletó xadrez, uma camisa branca e uma gravata laranja. Ele não passou da minha entrevista. Porque a roupa não condizia com o cargo para o qual ele estava sendo indicado.
Provavelmente, este indivíduo deve ser assim e deve usar este tipo de roupa constantemente. Foi assim que interpretei a situação, porque ele estava muito à vontade com aquela roupa. Se eu tivesse contratando um diretor de uma agência de publicidade ele seria o homem indicado.
Vya Estelar – Como fazer um check up profissional?
José Carlos – A pessoa deve refletir sobre o que ela já fez. Se ela gosta de fato do que faz e ter esta certeza através dos instrumentos da psicologia. Gosto dos estilos de personalidade do Carl G.Jung. A grafologia é um instrumento científico que mede profundamente toda a sua personalidade. Geralmente este check up é feito somente na hora de uma necessidade, mas a pessoa deve cuidar periodicamente do emprego, da mesma forma que cuida da saúde. A forma mais conhecida de demostrar insatisfação com o emprego é verbalizar que seria mais feliz, se ganhasse mais dinheiro pelo que está fazendo; ou sentir grande mal estar quando ouvir música do Fantástico domingo à noite.
Somatizações
Veja se está realmente preparado para desempenhar o que faz. Evite as somatizações. É fundamental trabalhar com qualidade e fazer o que gosta. Caso contrário a pessoa se mata biologicamente, porque somatiza as angústias.
Vya Estelar – Como desenvolver a auto-estima em relação ao trabalho?
José Carlos – Desenvolver a auto-estima não é um passe de mágica e requer força de vontade e perseverança. É fundamental gostar do que faz, ser honesto consigo mesmo. É necessário colocar em prática a humildade, aceitar como nós somos para mudar o que for necessário. Seja determinado para alcançar as suas metas. Descubra seus talentos e trabalhe eles. Descubra suas competências e habilidades. Faça o seu próprio marketing. Valorize-se!
Vya Estelar – O que é ser competente?
José Carlos – Do inglês competence ou competency . O termo é usado para definir as habilidades, aptidões e capacidade do indivíduo de fazer e saber usar os meios suficientes para alcançar seus próprios objetivos e os da organização para a qual estiver trabalhando.
Vya Estelar – O que é ser talentoso?
José Carlos – Quaisquer padrões recorrentes do comportamento que se assume com freqüência e que possam ser aplicados de maneira produtiva são talentos. A chave do desempenho excelente, é claro, consiste em combinar seus talentos com seu papel.
Vya Estelar – Quais serão as profissões do futuro?
José Carlos – Na realidade existem ondas. Há momentos em que umas áreas se valorizam e depois tornam a cair e posteriormente podem se valorizar de novo. Mas acho que a área de recursos humanos, marketing, financeira e tecnologia terão um maior crescimento.
Vya Estelar – Qual é o perfil ideal para o profissional do Terceiro Milênio?
José Carlos – Ter equilíbrio entre razão e emoção, falar outro idioma, de preferência o inglês, e estar atualizado sem medo de enfrentar as novidades.
Vya Estelar – Atualmente qual é o conceito de empresa e trabalho?
José Carlos – A empresa hoje oferece trabalho e não oferece mais emprego. O emprego vitalício acabou. O empregado é aquela pessoa que só se preocupa em marcar o ponto na entrada e na saída. Mesmo estando infeliz acaba permanecendo no emprego. A pessoa não se preocupa em se preparar e se informar; estando up to date (atualizado) com que ocorre na sua área de atuação. O trabalho, ao contrário, é quando o profissional está capacitado para oferecer o que a empresa precisa. É preciso gostar do que faz para se ter motivação. As empresas de fato são globalizadas, porque o mundo e a economia estão globalizados.
Exigências
A empresa hoje faz novas exigências. Na era industrial se contratava os braços e as pernas. A empresa desta nova economia precisa de conhecimento. Se a empresa precisa de conhecimento, precisa contratar o cérebro das pessoas.
Inteligência emocional
Portanto, entra em pauta um novo assunto que é a inteligência emocional. Hoje as empresas precisam de um profissional que tenham um elevado nível de inteligência (QI) e o equilíbrio entre o (QI) e o (QE) que é o Quociente Emocional. Enfim, o profissional precisa ter o equilíbrio entre a mente emocional e a mente racional. Isto vale para qualquer tipo de empresa.
Vya Estelar – Como é este casamento entre quociente emocional e quociente inteligente?
José Carlos – A pessoa que só usa o (QI), trabalha só com a razão e não possui habilidade para trabalhar com outras pessoas. E como se o indivíduo fosse uma máquina e só trabalhasse com máquinas. No momento em que entrou a era do conhecimento, principalmente a partir da década de 80, ficou evidente que existem pessoas nas áreas de produção e são elas que fazem a qualidade.
Vya Estelar – O que é este conhecimento?
José Carlos – É a capacidade de trabalhar com o que a tecnologia coloca no mercado. Se você não se informar todos os dias, você não se torna capacitado. Você tem que absorver toda informação disponível do mercado em que atua.
Vya Estelar – Qual é o tempo que uma pessoa deve permanecer numa função dentro de uma empresa?
José Carlos – Hoje por exemplo, um executivo deve permanecer num cargo, no máximo cinco anos. Ele deve então se preparar para um cargo maior, dentro da própria organização, ou um cargo fora em outra organização.
Vya Estelar – O grande volume de informação propagado por todas as midias gera stress?
José Carlos – A pessoa deve segmentar e selecionar a informação que está voltada para a sua área de atuação. Caso contrário, entra em paranóia. Gosto muito de basear nos estilos de personalidade do Jung. Você tem pontos fortes e pontos fracos da sua personalidade. Você tem que estar muito atualizado em relação a eles, para ser cada vez mais forte. O profissional deve sempre atuar com seus pontos fortes e competentes e simplesmente manter, em termos de informação os pontos fracos, sem se aprofundar, porque sempre serão fracos. Não perca tempo com os pontos fracos.
Habilidades
Se eu não tenho habilidades para a venda e preciso vender alguma coisa eu contrato alguém para fazer isso para mim. Não que eu desconheça todo o processo de uma venda, mas eu não sei negociar, então contrato alguém para vender para mim.
Personalize seu local de trabalho a fim de criar um ambiente que o enleve e agrade. Fotos de pessoas queridas, obras de arte, plantas e frases favoritas podem tornar o espaço todo seu. Mensagem extraída do livro Terapia do Trabalho – Editora Paulus
Vya Estelar – Qual o local ideal de trabalhar?
José Carlos – É aquele aonde o dia-a-dia proporcione qualidade de vida, um ambiente de amizade e de coleguismo. Aliado ao que a pessoa gosta de fazer. Então, deve-se procurar a empresa na qual a pessoa possa sentir prazer em trabalhar. Esta empresa existe. É só procurar.