por Carlos Hilsdorf
Terminou o Carnaval deste ano. Durante este período de festa que inclui arte, tradição, turismo e descontração, ocorrem também muitos outros processos, todos muito profundos e menos evidentes.
O Carnaval, a festa das máscaras, das fantasias, revela muito sobre a nossa personalidade e os estados emocionais aos quais estamos vinculados.
Personalidade é uma palavra derivada da forma grega “persona”, denominação das máscaras utilizadas pelos atores no teatro grego, que além de favorecerem o reconhecimento de uma personagem, também facilitavam a projeção da voz nos grandes ambientes e ao ar livre.
Se o Carnaval é a festa das máscaras, é, por analogia, também a festa das personalidades…
Muitos acreditam que as pessoas se revelam durante festividades como o Carnaval, mas frente às diferentes “personas” disponíveis, como será que as pessoas se revelam?
Será que elas se revelam como são? Como gostariam de ser? Ou como, de fato, jamais seriam?
Será que todas as pessoas que “pulam” o Carnaval, estão de fato felizes? Ou estariam tentando extravasar uma tristeza e um vazio enormes, disfarçado de alegria e descontração?
Os pássaros são felizes por que cantam, não cantam porque estão felizes!
A felicidade só é possível quando o ser realiza a sua essência. Será que as fantasias, espécies de “segunda pele”, que nos “protegem”, revelam ou ocultam a nossa verdadeira essência?
Qual seria a nossa “persona”, a imagem que corresponde à nossa verdadeira face?
Não há dúvidas que “máscaras” e “fantasias” auxiliam temporariamente às ilusões que aparentam tornar a vida mais leve, mais fácil e mais alegre. Ninguém questiona que as fantasias podem revelar fatores inconscientes e arquetípicos do universo demasiadamente humano. Mas, afinal, quando nossa verdadeira pele e nossa verdadeira face estarão de fato expostas, nus em sua pureza autêntica e essencial?
Por trás de “tanto riso e de tanta alegria, mais de mil palhaços no salão, o arlequim (que no ano passado havia sido pierrô) continua chorando pelo amor da colombina…”
Que amor é esse?
As “máscaras” e “fantasias” tão essenciais para a ambiguidade entre drama e comédia da vida humana, deveriam ser removidas no “camarim”, onde voltaríamos a ser nós mesmos, nus e autênticos revestidos apenas de nossa essência e frente a frente com um espelho que reflete a verdade da imagem mais íntima de nossas vidas…
Terminou o Carnaval deste ano, mas as “máscaras e fantasias” continuam…
Você é feliz?
Finge ser feliz?
O mesmo tempo que desfaz “máscaras e fantasias”, envelhece as possibilidades de vivermos nossa própria essência e expor a nossa tão frágil epiderme ao contato direto com a vida. Temos muito medo de nos machucar e por isso nos recobrimos de “máscaras e fantasias” e, sem perceber, nos machucamos muito mais, porque as dores do mundo se sentem do lado de dentro das “máscaras e fantasias”. Tanto a felicidade como a dor são estados internos que a maquiagem externa disfarça, mas jamais elimina.
No Carnaval de nossas vidas, em algum momento teremos que exercer o ato de coragem de rasgar a fantasia, despindo as máscaras e “vestindo” a difícil tarefa de sermos autênticos.
Que assim como a ave mitológica Fênix, você renasça das cinzas desta quarta feira pós-Carnaval e possa viver sua essência na plenitude, porque SER é mais importante que ESTAR…