O drama do pênalti

Por Renato Miranda
   
Um dos grandes desafios para o atleta de futebol é a cobrança de pênalti, considerada a penalidade máxima no futebol. Desde as categorias iniciantes no futebol esse desafio chama atenção por suas diversas particularidades. Em destaque o fato de a cobrança ser feita sem que nenhum adversário atrapalhe aquele jogador que executa o chute a onze metros de distância do gol. Apesar de o mesmo ter todo o possível controle da execução, uma carga (pressão!) psicológica faz com que esse “tiro direto ao gol” se torne um verdadeiro drama.

Ao considerar os vários fatores intervenientes na cobrança de pênalti, seja durante o decorrer de uma partida ou em uma decisão por pênaltis, eu em conjunto com dois jovens estudiosos no assunto, Rodolfo Souza e Marcelo Junior, construímos uma estratégia pedagógica para o treinamento e orientação para a cobrança de pênaltis no futebol.

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Primeiramente, é necessário fortalecer a consciência do atleta a respeito dos detalhes da cobrança do pênalti. Isso significa que o atleta precisa treinar especialmente e planejar o mais precisamente possível seu sistema de ação.

Em outras palavras, todo o foco de atenção estará voltado somente para a ação esportiva a fim de o atleta sentir que tem o controle sobre o seu corpo e a própria ação. Em consequência, um sentimento de confiança se fará presente, já que suas habilidades concretas dissiparão os pensamentos negativos.

Com a mesma importância do passo anterior, o controle emocional por sua vez diz respeito à harmonia da excitação psicofísica, para se evitar emoção exacerbada, agitação excessiva ou apatia! Simbolizados pelos níveis de ansiedade do atleta. Aqui, há uma consistente relação sistêmica com o controle mental, ou seja, ter consciência precisamente do que fazer e como fazer facilita o controle das emoções para a realização de uma tarefa o mais precisamente possível.

Todavia a estrutura básica para que aquilo que possa vir a ser controlável é condicionado pelo estado físico do atleta. Assim sendo, um atleta com vigor, sem apresentar sinais de esgotamento (cansaço intenso!), consegue melhor planejar mentalmente suas ações e equilibrar positivamente suas emoções. Em síntese, um atleta cansado ou com dores excessivos não deveria cobrar pênaltis.
       
Ademais nossa proposta pedagógica para a execução de pênaltis investe principalmente nos treinamentos específicos para produzir habilidades boas e concretas. Isso se relaciona especialmente com o aprendizado, aperfeiçoamento e especialização de técnicas de chute a gol.

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O desenvolvimento da técnica é acompanhado ao mesmo tempo às diversas possibilidades de execução da ação diante das características pessoais do atleta que executa o pênalti e do goleiro adversário em questão. Em outras palavras, a tática individual do atleta atacante se relaciona diretamente a uma escolha do melhor plano de ação (controle da consciência) entre aqueles dispostos em sua mente e definidos claramente, no momento da execução não deixando espaço para dúvidas e incertezas.

A tática individual está diretamente ligada às estratégias de ação. A estratégia é o aspecto geral da aplicação tática escolhida, obviamente a mesma também está relacionada aos alcances ou possibilidades técnicas do atleta. Em exemplo, poderíamos dizer que quando o atleta em disputa de pênaltis decide correr ativamente do meio de campo até o local da cobrança e planejar bater o mesmo o mais rapidamente possível, após o apito do árbitro, nós estamos falando de estratégia.

Nas diversas possibilidades de execução de pênalti, tais como: chutar forte no meio do gol, chutar a bola mais colocada nos lados inferiores ou superiores do gol, esperar ao máximo a reação inicial dos movimentos do goleiro e outros que repercutem tanto na técnica como nas táticas de execução do chute do atleta, é fundamental um bom nível de percepção.

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Ao considerar que a percepção, como a interpretação e/ou a tradução de nossas sensações, é fundamental que o atleta treine uma grande variedade de possibilidades de execução de pênaltis tal como discrimine uma mesma variedade de comportamentos de defesa dos goleiros de modo que a velocidade entre o registro dos estímulos físicos (sensação) e a interpretação dos mesmos (percepção) seja a mais promissora possível. Uma ação adequada depende do quanto mais correto é a percepção.

Ao reunir tudo que o atleta tem de melhor no aspecto, físico, mental e emocional e de forma controlada (consciente!) temos então o que se convencionou chamar de mobilização psicofísica, que reflete a força interior do atleta, desde sua clarividência no plano de ação até a execução propriamente dita.

Em conclusão, pode-se considerar fundamental nessa proposta pedagógica o estabelecimento de um nível profundo de atenção para que não haja uma clara separação entre a atenção e a ação. É como se fossem coisas únicas de modo que na consciência não tenha espaço para nada mais a não ser para a própria ação, tornando o desafio (o pênalti!) em uma oportunidade de vivenciar algo que se relaciona à fluidez de movimento. Ou seja, o atleta experimentar situações como se estivesse no “fio da navalha” (pressão emocional), com alegria, intensidade e controle absoluto das ações.