por Samanta Obadia
A morte de um mito é sempre assunto a ser comentado. E com Michael Jackson, não seria diferente. Contudo, a morte de um homem com cinquenta anos de vida, que não saiu da infância, é um evento pouco comum.
A fama é alvo de desejo de muitas pessoas, visto que ser famoso é, aparentemente, ocupar um lugar onde se é amado por todos. Mas a vida de Michael foi prova de que isto não é verdade.
Não há fama, dinheiro ou poder que leve à felicidade. Eles podem nos satisfazer temporariamente, mas não são suficientes para construir saúde psíquica.
Michael teve uma infância mutilada pelo pai, e esse tempo ficou preso em sua libido de tal maneira que se transformou em seu objeto de desejo, em sua obsessão.
Brincar, ser ‘angelical’, viver num parque de diversões, ter crianças brancas (seus filhos) ao seu lado, eram formas de recuperar o tempo perdido, de viver uma infância que, para ele, nunca existiu.
As inúmeras tentativas de se ver diferente, ‘ajeitando’ a aparência para atingir-se, foram frustradas.
Por que Michael nunca encontrou ajuda?
Por que se fechou em seu mundo de fantasias?
Por que fugiu de si mesmo?
Será que ele nunca foi feliz?
Estas questões não serão respondidas, porém, ainda devem ser pensadas, em prol de muitos que, inebriados pela ilusão da fama, perdem-se de si mesmos.
O ser humano, em sua fragilidade, busca meios diversos para sentir-se forte, e para ter este poder, estabelece padrões e parâmetros normativos de beleza, bem e felicidade.
É preciso lembrar que há um abismo entre ser amado e sentir-se amado. E a idolatria passa longe disto.
Michael foi ídolo, mas não foi menino, não foi amado pelo pai e pela mãe, não teve brinquedos, não teve o tempo da ingenuidade feliz, não viveu no paraíso da infância.
E hoje, para a humanidade, morreu o ídolo Michael Jackson, um grande compositor, dançarino e cantor, que fez diferença na história da música. Mas alguém viu aquele menino com o cabelo black power morrer há muitos anos dentro do homem Michael Jackson? Pois é, parece que Michael morreu procurando-o. Tomara que ele o ache fora daqui.