por Roberto Goldkorn
Três episódios entre tantos marcaram a minha vida profissional no atendimento de grafologia arquetípica.
Um deles foi com um cliente que ficou o tempo todo sério, e não abriu a boca para comentar o que eu estava descrevendo sobre a assinatura dele. Para desanuviar o “astral” olhei um traço de sua assinatura e brinquei: “Quantas pessoas você já matou?” Ele ficou vermelho e em seguida deu um tapa na mesa dizendo entre dentes: “Nunca tirei a vida de ninguém que não fosse em defesa da sociedade e da minha integridade física e de meus colegas.” Depois fui informado que ele havia sido soldado da tropa de elite da polícia militar por quinze anos.
E um segundo episódio, aconteceu quando analisando a assinatura de um cliente perguntei: “Você já atirou ou levou tiro?” Ele respodeu erguendo a camisa e mostrando uma cicatriz que, segundo ele, foi de um tiro que levou no peito. Pedi (na verdade implorei) que ele não andasse armado e ele me confessou que tinha uma arma em casa, mas me prometeu que iria se desfazer dela. Alguns meses depois, sua mulher me telefonou e disse que ele havia atirado num operário que estava fazendo uma reforma em sua casa e foi parar na polícia. Felizmente o homem escapou com vida e ele não foi preso.
Por último, na casa de minha irmã numa reunião social, veio o costumeiro pedido para eu “olhar” as assinaturas dos presentes. Uma nissei franzina e com feições delicadas, me estendeu a assinatura e eu imediatamente lhe perguntei: “Você trouxe a sua arma?” Ela ficou sem graça, sorriu amarelo e disse: “Não eu só uso no quartel”. Ela era capitã da aeronáutica! Eu obviamente não sabia de nada, nunca havia visto aquela mulher antes.
Na semana passada assisti pela televisão um documentário sobre o “gene guerreiro” cujo nome científico é (se não me engano) O1M1 Curto.
O apresentador coleu amostras de vários homens e as submeteu à análise genética para ver se encontrava o tal gene. Não foi encontrado em motoqueiros do tipo “Hell’s Angels” com longo histórico de violência e agressividade, nem nele próprio e nem num vocalista de banda de heavy metal com passado de violência e barra pesada. Mas o gene foi encontrado, “para surpresa de todos”, em alguns monges budistas.
Eu, porém não me surpreendi nem um pouco. O gene guerreiro não está presente obrigatoriamente em pessoas agressivas, que liberam sua agressividade, que dão demonstrações explícitas de violência.
Mas está naqueles grandes guerreiros que combatem o bom combate: a batalha interna, a luta gloriosa contra seus monstros interiores, aí o gene guerreiro estará sempre. Um monge não sai mais do mosteiro com a espada na mão, mas luta contra seus programas ancestrais de descontrole, de Ego, contra a cultura do macho guerreiro – essa guerra é titânica.
Da mesma forma que estamos explorando agora esses espaços misteriosos, não das imensidões do Cosmos, mas das estruturas microscópicas que no fundo comandam tudo, vamos encontrar outras manifestações sutis desses programas genéticos tão infinitesimais.
A assinatura pessoal, embora alguns ignorantes e falsamente sábios, duvidem, pode ser um outro mapa dessas minúsculas estruturas que decidem os caminhos de nossa vida, de nosso comportamento e de nosso corpo.