por Antônio Carlos Amador
O medo é uma emoção intensa, causada pela percepção de uma ameaça iminente, envolvendo uma reação imediata de alarme, que mobiliza o organismo pondo em marcha uma série de alterações fisiológicas, voltadas para sua defesa.
Praticamente todas as pessoas já sentiram medo alguma vez na vida e podem lembrar dos objetos geradores de medo a que estiveram expostas em vários momentos. Por sua universalidade e frequência o medo é considerado uma emoção normal e até mesmo útil para nossa sobrevivência, mas é preciso distinguir diversos níveis de intensidade.
Quando se trata de uma ameaça real é lógico sentir temor, é o medo normal. Mas quando se trata de uma reação excessiva, que não guarda relação com a causa desencadeante, ela se torna anômala. Por exemplo, alguém pode sentir medo de ser assaltado na rua, sobretudo à noite, mas se isso o impede de sair de casa assim que anoitece o medo passa a ser anômalo.
O medo deixa de ser normal quando altera ou bloqueia a conduta habitual, a estabilidade psicológica e nossas relações com o ambiente e as pessoas. Manifesta-se como uma perturbação do estado de ânimo, no qual perdemos a confiança em nossos próprios recursos para enfrentar situações concretas, que são percebidas como perigosas para nós. O perigo pode ser real ou imaginário, presente ou projetado no futuro, mas sempre ocasiona uma diminuição na sensação de segurança.
As crianças aprendem a ter medo muito cedo, pois ele é usado pelos adultos para modificar o comportamento infantil. Existem vários geradores de medo nesse processo: o "homem do saco", os "fantasmas", a "cuca que vem pegar se a criança não nanar" e outros mais. O medo tem fortes raízes culturais e cada cultura tem seus próprios geradores de medo (por exemplo, os vampiros, os lobisomens etc).
O medo infantil é relativamente fácil de reduzir, basta criar ao redor da criança um ambiente de segurança e confiança. No adulto o medo se relaciona com a situação que o origina. Se ela ceder, o medo cederá também.
As experiências traumatizantes também podem gerar o medo. Quando vivenciamos situações desse tipo, podemos temer que elas se repitam. As pessoas que sofreram agressões sérias, ou que sobreviveram a desastres e catástrofes podem sentir medo de que elas se repitam. Esses medos poderão desaparecer ao longo do tempo, dependendo da gravidade do dano causado.
O medo pode ser detectado não só no aspecto psicológico, mas também tem uma importante sequência de sintomas neurovegetativos, como sudorese, taquicardia, tremores, necessidade de urinar, crises diarreicas, arrepios, que acompanham a ansiedade e a angústia e que podem ser mais desagradáveis do que a própria emoção.
Medo de ter medo
Tanto as manifestações psicológicas como as físicas podem ser precedidas de um curioso fenômeno: o medo de ter medo, que é como uma ansiedade que prevê o sofrimento que pode aparecer. Trata-se de uma emoção dolorosa que bloqueia quem a sofre e a incapacita de desenvolver-se normalmente. A curto e a longo prazo acarreta duas condutas fundamentais: a esquiva e a fuga. Quem sofre de medo excessivo elude e evita todas as situações em que esse possa aparecer, de forma que bloqueia sua própria atividade: por exemplo, quem tem medo de reuniões com muita gente não vai a festas e atos sociais e pouco a pouco vai se isolando na solidão. Outros fogem quando aparece o medo e sua conduta se torna incongruente, não podem controlar o medo, perdem a confiança em si mesmos e nos demais. Casos assim necessitam de tratamento psicoterápico intensivo e adequado.