por Samanta Obadia
Cada vez mais me deparo com pacientes jovens com síndrome do pânico. Que fenômeno é esse que os aborda?
Seria fácil conduzir a ideia de medo à fobia social, às agressões aparentes (assaltos, sequestros etc), e muitas vezes, são esses que os levam ao consultório, como indícios do trauma.
A experiência clínica vai além de um olhar superficial. Há um lugar de covardia maior, que foge do simples prazer de ser, de buscar a felicidade visceral e dionisíaca, como aponta Nietzsche. De sair desse lugar comum, rotineiro e disciplinado, Apolíneo. De romper com o esperado, de exercer o seu brilho individual, desvinculado na maioria das vezes do projeto familiar, esse lugar supostamente seguro.
Aos poucos, essa prisão vai os enfraquecendo, os levando a não mais sair da gaiola, mesmo quando a porta se encontra aberta. Há uma imensa depressão nisso: ver a liberdade e a alegria e não mais desejá-la, por covardia. O medo passa a ser o seu melhor companheiro, o seu protetor.
O conhecido é quem o ampara. Não lhe traz a novidade nem lhe surpreende. É chato e sem graça. É falso porque não tem vida, não o desafia nem o renova. É entediante e familiar. Assim, o medo cresce e se instala de vez, os paralisando.
Os caminhos serão diversos, mas, em geral, compulsivos. Direcionar o desejo para fora de si é um caminho mais fácil, linear. Comer demais, estudar demais, trabalhar demais. Deixar a vida passar ao lado. Ficar em lugar seguro. Não rir, não chorar, não se aventurar. Assim está caminhando a humanidade para um falso movimento exterior, que a deixa sem movimento, em pânico.