Por Bayard Galvão
Qual a diferença entre um carro de R$20 mil e um de R$70 mil?
E qual a diferença entre um de R$70 mil e um de R$300 mil? Qual a diferença entre uma bolsa de R$ 20 e uma de R$ 300? E uma de R$300 e outra de R$2 mil? Qual a diferença de um apartamento de 30m² e outro de 120 m²? E qual a diferença entre um de 120m² e um de 400m²?
Todo e qualquer produto terá uma ou mais funções. Um anel pode ter a função de beleza, status ou casamento; um carro pode ter a finalidade de levar alguém de um lugar para outro, com mais ou menos conforto, beleza ou status; uma viagem pode se remeter a status, conhecer culturas diferentes ou compras. Assim, a pergunta ao comprar qualquer coisa, é: qual a real finalidade dela? Status, beleza, saúde, carregar coisas, transporte e/ou outro(s)?
A maioria das compras se refere não a uma necessidade e sim a um capricho, paladar, segurança ou status. Quase não há compras necessárias da classe média em diante (com exceção de remédios e tratamentos), porque tudo que for realmente importante, já é possuído. As compras se referem a mais conforto, beleza, mais do mesmo, mais tecnologia e/ou outros.
O normal é as pessoas perderem de vista as reais causas de qualquer compra, pois se parassem para pensar sobre o quanto gastam de vida na compra de coisas pouco úteis, elas provavelmente gritariam. Uma Ferrari comprada com um mês de trabalho é uma coisa, mas comprada com 10 anos de economia é outra. O mediano é as pessoas comprarem benefícios sem pensarem nos custos. Qualquer compra poderia ser permeada pela ponderação sobre qual o real benefício que isso traria e quanto da própria vida teria que ser usada?
Gosto de conforto, boas comidas, agradáveis vinhos, música com boa fidelidade e filmes em alta resolução, mas se tornar refém dos próprios gostos, é escravidão. Libertar-se dos próprios prazeres, tolerando a sua falta, mas não se submetendo a ela, é uma necessidade para épocas de crises financeiras na vida.
A pergunta mais importante que qualquer pessoa precisa fazer ao comprar ou decidir qualquer coisa na vida é: qual a verdadeira relação custo/benefício que a compra (ter filho, casar, se separar, escolher determinada profissão ou emagrecer) tende a ter a curto, médio e longo prazo? Vive-se reclamando do que falta ou fora perdido, mas a verdade é que os amigos e amantes não se vão por termos menos, mas sim o nosso status. Afinal, as únicas pessoas que realmente se preocuparão com o seu status são pessoas mais interessadas no que elas ganharão através de você do que por você mesmo.
Um belo vinho “Brunello di Montalcino” com um suculento bife de “chorizo” uruguaio são excelentes, mas se eu focar no real custo deles, numa época de crise, ficarão amargos. Melhor uma costela bem assada e uma cerveja boa e barata qualquer, se o sono for melhor.
Fonte: Bayard Galvão é psicólogo clínico formado pela PUC-SP e autor de cinco livros