O olhar protagonista

por Roberto Goldkorn

Provérbios:

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A comida e a mulher devem entrar pelos olhos (México).
O olhar alimenta os olhos (Guadalupe).
O que não entra pelos olhos não chega a alma (Espanha).
O que os olhos não veem não nos toca o coração (Grécia).
A beleza está nos olhos de quem vê (Brasil e Portugal).
A melhor defesa contra a tentação é fechar os olhos (Hebraico).
A grávida não deve olhar para coisas feias (Moldávia).

O olhar por mais limitado que seja, é a medida com que medimos o mundo à nossa volta. Os antigos chineses descobriram que existia (e existe) uma energia sutil que tudo permeia e que flutua ao sabor das estruturas físicas, mas afeta a tudo e a todos, chamada CH'I. Apesar de ser invisível e não poder ser rastreada por equipamentos, o CH'I é influenciado por vários elementos, entre eles o principal é a luz. Como podemos medir o pulso do CH'I? Observando o que impacta o nosso olhar, o que o atrai, o que o repele, o que lhe transmite sentido.

Meus tios moraram durante quase quarenta anos num apartamento em Copacabana, no segundo andar de um prédio. Mesmo que na época eu não tivesse conhecimento do Feng Shui, da Medicina da Habitação, uma coisa sempre me incomodou: a única janela da sala dava para a quina de um outro prédio a uma distância ridícula de menos de dois metros. Ou seja, cada vez que se olhava através da janela víamos um ângulo reto de concreto cinza. Minha tia ficou cega. Já no final de sua vida conhecendo alguma coisa sobre os antigos conhecimentos chineses sobre o CH'I, cheguei à conclusão de que foi aquela situação "janela, e quina de prédio à curta distância" a teria cegado. Mas e o meu tio, por que ele também não foi afetado por aquela condição? A resposta pode estar na direção de seu olhar. Meu tio era um intelectual, um leitor compulsivo, foi dele o primeiro dicionário do Brasil para usuários de computadores: há quarenta anos. O seu olhar era para baixo, dirigia-se e parava, ora nos livros, ora nas telas dos computadores – meu tio nunca ou raramente olhava pela janela!

O nosso olhar captura conteúdos e leva para dentro de nossa mente (e daí para a nossa estrutura somática) os alvos aos quais está constantemente dirigido, lá essas imagens-energia, vão se associar com outras já lá radicadas e criar conteúdo e irão fazer "o seu trabalho".

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Para o antigo Feng Shui, a casa é uma réplica do corpo humano: as portas são a boca (por onde entram o alimento, e saem as "palavras" a nossa atividade social), as janelas são os olhos (abrimos as janelas e olhamos o mundo – o que vemos será determinante para a criação de conteúdo mental. Assim o vetor do nosso olhar vai ser significativo: se todos os dias ao sairmos de casa (para nos comunicarmos com o mundo) a nossa primeira visão é um lixão, ou um cemitério, ou uma casa deteriorada e em ruinas, isso se tronará uma "mensagem" que vai criar algum tipo de conteúdo negativo na mente individual.

Outro vetor é o inverso: a visão que o indivíduo tem ao entrar em casa (alimentação). Se ele ou ela vê um sofá de "costas" isso pode ser "lido" como se a família está dando as costas para quem entra, ou seja um comportamento pouco social, refratário aos convívio social. Se a primeira coisa que se vê é uma parede, isso limita e endurece a nossa visão da nossa casa ou da nossa família. O que vemos ao entrar em casa deve ser receptivo, alvissareiro.

Com as janelas acontece a mesma coisa e ainda mais intenso (a janela é a olho da casa lembra?). O que você vê através da janela de sua casa? Qual a energia-imagem (CH'I) que entra pela janela e o que está nos "dizendo"? Os "olhos" são iguais, ou seja, janela da sala é igual a janela do quarto? A resposta é não. Um transformador de energia num poste junto à janela do quarto faz um estrago muito maior que se estiver na janela da sala. Naturalmente no quarto dormimos, estamos em situação passiva, recebendo a energia mais massivamente e assimilando – mesmo que o nosso olhar real esteja de "janela fechada", a janela do quarto está lá, silenciosa, mas presente e sendo significada pela nossa mente profunda.

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Olhar diariamente para alguma coisa é captar o CH'I invisível daquela coisa. Existe o CH'I saudável, bom, positivo, e os CH'I doente, mortal – o nosso olhar captura ambos e as outras nuances do CH'I visual. Portanto, entre mirar um lixão ou um escombro, ou um jardim cuidado embelezador, prefira o que traz para dentro a beleza e a saúde.

O nosso olhar nos dirige mais que nós dirigimos o nosso olhar e isso cria a saúde e/ou a doença. As crenças populares antigas já alertavam: "Mulher grávida não pode olhar para coisa feia!" Apesar de superada pela nossa sapiência superior, essas "crendices" estão na raiz do ancestral conhecimento da força do olhar.

Os chineses antigos pareciam ter sido inspirados a ver o que estava invisível para todos: o olhar rastreava o CH'I e assim avaliava se aquele era um bom CH'I ou não e isso significava que o lugar era bom ou não. Uma árvore disforme que criava repulsão ao olhar poderia indicar um local de CH'I ruim que devia ser evitado ou curado. O olhar captura não apenas as imagens que a luz nos proporciona, mas acima de tudo o "clima", a atmosfera, o CH'I e os significados que aquela luz nos traz até à nossa mente.

Por isso que os antigos chineses valorizavam a luz como um dos remédios mais comuns e fortes para curar ambientes doentes. Por isso, que ambientes penumbrosos, sombrios, com pouca iluminação e pouca ventilação são considerados doentios – ali nossos olhos e nosso olhar têm pouco a fazer e o que traz para dentro são apenas sombras, sussurros, ameaças. Meu pai detestava o entardecer- aquele momento em que o sol já não ilumina, mas a noite ainda não se completou – porque ele dizia: "No lusco fusco, todos os gatos são pardos".

Nesse contexto onde o olhar é um personagem protagonista, o espelho é seu principal coadjuvante. Existe uma arte de usar espelhos em casa – assim como o olhar ele deve atrair para dentro boas visões, beleza, harmonia, estímulos positivos que estão lá fora. Um espelho que reflita a maior parte do tempo uma imagem melancólica, de solidão e pobreza só vai trazer tristeza e estímulos negativos.

Há muitos anos, descobri um pintor italiano que pintou um quadro imenso cheio, lotado de sorrisos de todos os tipos, de todos os dentes e bocas. Não havia como olhar para a tela e não… sorrir. A partir daí recomendei para a maioria dos meus clientes que encomendassem uma tela com esse motivo – milhões de sorrisos – para colocar num local da casa em que seriam obrigados a olhar cada vez que entrassem em casa. É infalível – ser recebido por um mundo de sorrisos, afugenta até o mais urubulino dos astrais.

O olhar deve ser alimentado sempre que possível, com banquetes visuais que celebrem a vida, o amor, a opulência e a alegria. Isso não quer dizer que devemos virar o rosto para o que é feio e indesejável, e nos trancarmos num mundo de fantasia. A regra aqui é clara, tudo que seja sistemático, rotineiro, deve ser da turma do positivo – olhar todos os dias? Olhe para as paisagens amplas, cheias de vida, alegres e estimulantes.

Para variar tire um tempo todos os dias para olhar para o céu azul, quando houver céu azul, se quiser garantir o seu pedacinho de céu, use papel de parede com esse motivo no teto de seu quarto, assim terá sempre o céu por testemunha da sua felicidade.