por Roberto Goldkorn
O lado positivo da idade, é que podemos olhar em retrospecto e fazer estatísticas. Os estudos científicos mais relevantes para a humanidade são aqueles que observam grupos de pessoas por décadas. Nós não somos seres do momento, somos processo. Assim, voltando a falar de quão velho eu sou, tiro disso alguns aprendizados. Recentemente, fiz essa atualização: Descobri que na década de 80 a minha estatística cabocla mostrou que a maioria dos clientes que atendi, vinham com a problemática profissional.
Na década de 90 até o começo dos anos 2000, o amor e seus desencontros dominaram as sessões. Mas a partir de 2010 os casos de depressão e suas variantes foram engrossando o arroio que hoje se tornou um rio caudaloso. Mas esse não é um fenômeno que se restrinja à minha prática profissional – o mundo está diante de um pré-surto de depressão. Duvidam? A Organização Mundial de Saúde projeta para 2030 a depressão como "a doença de maior incidência no mundo". Mais que as diversas formas de câncer, de diabetes, de qualquer epidemia ou endemia, enfim a rainha má de todos os males. É claro que isso é muito, mas muito grave mesmo, não só pelo aspecto ainda misterioso da doença, mas por ser um mal da mente, e ainda assim tão incapacitante que pode afetar a economia de empresas e até de sociedades inteiras.
Laboratórios gigantes estão acelerando seus trabalhos tendo como foco a depressão, porque para eles este será um "mercado" fantástico em poucos anos. Mas alguns governos também se mobilizam a toque de caixa, porque a doença da alma pode matar, e matar em larga escala, e retirar a força de trabalho mais nobre de função, afetar a economia e fragilizar governos. Tudo isso!
Já sabemos que as altas taxas de suicídio estão de algum forma relacionadas à depressão, mas ainda não se contabilizou as mortes e acidentes causados pela depressão de pessoas que não tiveram a coragem de colocar um cano fumegante na têmpora e puxar o gatilho. Mas acreditem, muito do que consideramos apenas como fatalidades, ou acidentes, são obra de homenzinhos sombrios maquinando dentro da mente de depressivos para ir de encontro ao gran finale: a autodestruição.
Já se avançou muito no desvendamento desse mal cruel. Já sabemos que estados crônicos de depressão encolhem o cérebro, e isso é terrível. Já sabemos que tem muito a ter com a tal da serotonina, mas também não para aí. Já sabemos que tem fortes laços de causalidade com a culpa, com o desamor, mas isso também não termina a questão. Já sabemos que está de braços dados com distúrbios do sono, mas eu por exemplo, sofro de insônia desde os 16 anos e nunca desenvolvi depressão, portanto isso também não encerra a questão.
Minha formação eclética sempre agregando o conhecimento do mundo espiritual, me levou a cruzar a fronteira da ciência, para buscar na espiritualidade outras faces da depressão.
Terreno pantanoso
A partir daqui, aviso aos céticos e cientificistas: o terreno é pantanoso!
Sem negar nenhuma das evidências que até agora foram levantadas, desde a antiguidade, vejo que as energias espirituais que estão à nossa volta num universo paralelo, mas vinculado ao nosso, podem estar envolvidas, no processo de surgimento ou agravamento da depressão.
Minha experiência e observação (e vejam bem não sou espírita), mostra que a depressão pode atrair para o deprimido, energias espirituais que tenham afinidade com esse estado vibratório de melancolia, luto, desistência e perda de tesão.
Por outro lado, acidentes onde essas energias espirituais do "baixo astral", sofredoras, vingativas, trevosas, acabam trombando com alguém aparentemente sadio, pode acontecer. Quando isso acontece, existe sempre a possibilidade de num momento de fragilidade, de baixa imunidade física, psíquica ou espiritual (uma gripe forte, uma queda na rua, uma briga doméstica, o fim de um amor, a perda de um emprego), as energias que ficam rondando consigam penetrar e aí começam a fazer seu tenebroso trabalho. A via é sempre de mão dupla.
O fator espiritual nem sempre está presente, assim como bloquear os recaptadores de serotonina nem sempre funciona para manter-nos inundados desse neurotransmissor, assim como diminuir o nível da "perigosa" acetilcolina, nem sempre funciona, o fator espiritual é real (na minha visão), mas não é a resposta definitiva.
Trabalhar no campo espiritual, fortalecendo a mente do indivíduo para que ele mesmo crie um campo hostil a essas energias sofredoras, pode ser tão eficiente quanto as novas drogas, a psicoterapia e uma academia de ginástica.
Na verdade , a psicoterapia que acolhe a variável espiritual, deve trabalhar com um olho na sardinha e outro no gato. Um dos exemplos mais claros e brilhantes dessa estratégia foi ilustrado por um psiquiatra (que não me lembro o nome), que fazia exorcismos em pacientes que se acreditavam possuídos. Ele dizia: "Aprendi a fazer exorcismos eficientes, embora não acredite em demônios. Mas se o meu paciente acredita, sente que eu trabalhei bem expulsando o demônio, e se cura, isso para mim está OK. Meu compromisso é com a cura do paciente. Mas não descarto a possibilidade de no fim das contas ter mesmo expulsado algum demônio, afinal eu não creio em bruxas, mas…"
A minha posição é não perder muito tempo tentando descobrir se existe alguma energia espiritual envolvida. Afinal, na depressão o tempo tem outra dimensão – ele corre mais rápido. Mas acredito que, se existir um casamento com uma "alma penada" qualquer, essa "alma penada" vai se nutrir do sofrimento do doente, de seu estado de morbidez, de seu flerte com o escuro e com a morte. Se eu consigo deixar entrar luz no quarto, fazer o doente se exercitar, dar risada, se interessar num hobby ou em ajudar alguém que está pior que ele, se eu tiver sucesso em reintroduzi-lo na arena onde o jogo da vida não para, isso vai certamente criar um ambiente hostil à energia espiritual lamentosa.
A cura da depressão, mais que em qualquer outra doença, é uma batalha sem tréguas contra Thanatos, o instinto de morte e destruição. Mas temos de nos apressar, o contágio também acontece a nível psíquico, o materialismo e o imediatismo em busca de satisfação rápida de desejos e prazeres fugazes não contribui para a saúde mental das massas. As imensas facilidades que a nossa civilização tecnológica está nos ofertando, infelizmente, também nos fragiliza, nos torna mais molengas e emocionalmente mais fracos – outro fator que abre as porteiras para os "inimigos" sejam eles neuroquímicos, sejam afetivos sem espirituais.
Lembro que aos dezessete anos escrevi uma redação que ficou famosa no Colégio André Maurois onde estudava, que dizia em seu final: E no Vietnã, ninguém se suicida! ". Era uma referência à luta do povo vietnamita (do norte e vietcongues do Sul) contra o ataque do grande império. Hoje já se sabe que um grande esforço coletivo em prol de uma causa, mobilizando mentes e corações (e corpos) bloqueia a depressão e seus aliados. Mas quando a causa é apenas individual, egoísta, a pessoa perde conexões com o tecido social e humano, e sozinha, apenas com suas sacolas de shopping ou com suas contas a pagar, ela também se torna uma vítima preferencial desse cavaleiro do Apocalipse.
Se a sua dor é a maior do mundo, se a sua solidão é única, se você é a única pessoa não amada do planeta, a depressão está espreitando, e pior, quanto mais ela se aproxima, mais você se acha a mais dolorida, a mais solitária e a mais desprezada pelo amor.
A luta contra a depressão precisa nos mobilizar a todos, a cada momento, com todas as nossas armas e multitalentos, sem ideologias que nos separem, sem preconceitos. porque eles alimentam o inimigo insidioso. A vida no planeta espera de nós, a reação. Essa talvez seja a última e grande batalha pela qual todos podemos nos unir para lutar e vencer!