Por Angelo Medina
Marco Aurélio Dias da Silva
Todo Poder Às Mulheres – Esperança de Equilíbrio Para O Mundo – ED. Best Seller, 280 pgs, R$29,00
Envie esta entrevista para um amigo
Nesta entrevista ao Vya Estelar o médico Marco Aurélio Dias da Silva, autor do livro Todo Poder Às Mulheres, ED. Best Seller, desvenda as diferenças entre homem e mulher no campo amoroso, sexual, profissional e mostra o caminho para superá-las.
Marco Aurélio afirma que a fidelidade é um comportamento antinatural, fala do mito da beleza atual, contrapondo boazudas famosas e anônimas. Explica como é o "jeito feminino de comandar" e diz que as características positivas, do gênero feminino, são o caminho para a sociedade moderna. O autor sintetiza pensamentos de diversos autores. Entre eles: Byron, Nietzsche, Darwin, Engels, Beauvoir, Camile Paglia, Freud e Schopenhauer.
Vya Estelar – Por que o poder feminino está ocupando um espaço cada vez maior na sociedade?
Marco Aurélio – Quero ressaltar que o poder feminino, que não necessariamente precisa ser exercido pelas mulheres, mas o feminino no poder, ou seja, as características mais ligadas ao feminino, são importantes e devem ser estimuladas. Porque um dos grandes problemas de nossa época é a excessiva competição e a agressividade entre as pessoas, características tipicamente masculinas. O gênero feminino no comando, exercido por homens ou mulheres, implica em mais cooperação e menos competição, mais preocupação com as pessoas e mais afeto.
Vya Estelar – Como é este "jeito feminino" de comandar que pode ser exercido tanto por homens como por mulheres?
Marco Aurélio – É um modo no qual há afeto na relação de trabalho, cooperação, preocupação com o outro e sem competição. Um modo que faz com que as pessoas cumpram as coisas, porque acreditam que devam cumprir e não por medo. Não trata-se de uma questão das mulheres fisicamente terem o poder. Se os homens que assumirem o poder, se calcarem nestes valores femininos, o mundo melhora do mesmo jeito.
Frescobol x tênis
É a mesma coisa que acontece no jogo do frescobol e do tênis. No frescolbol, o esforço dos dois jogadores é para que o outro não erre, para que outro não perca. Faz-se todo o possível para devolver a bola bem devolvida, para que o outro possa mandar de volta. O jogo só tem sentido se os dois jogarem bem e ganharem. No tênis você quer "destruir" o seu adversário. A sua satisfação é ver o erro do outro. Isto marca filosoficamente a diferença entre o modo masculino e feminino.
Fidelidade é anti-natural
Vya Estelar – Porque a fidelidade é uma questão delicada?
Marco Aurélio – Porque ela não é natural, trata-se de uma questão cultural e de uma herança, de nossa forma infantil de amar. A criancinha quando ama, quer a mãe só para ela. Não é que as pessoas tenham que ser infiéis. Mas ninguém consegue preencher por toda uma vida, ou por anos a fio, todas as aspirações de uma outra pessoa. Neste sentido que eu falo que a fidelidade é uma questão anti-natural. Na medida em que as pessoas se fortalecerem, se amadurecerem interiormente, talvez possam viver no futuro, relações amorosas mais despidas deste sentimento de posse e de exclusividade.
Mesmo os casais avançados que tentaram o casamento aberto deram com os burros n'água, não mantiveram a relação por mais do que dois ou três anos, porque ainda estão imersos nesta cultura.
Vya Estelar – O que você sugere para um casal que passa por uma crise de infidelidade?
Marco Aurélio – Se a essência da relação ainda estiver inteira, acho que se deve repactuar a relação. A essência da relação é ver se ainda se tem prazer de estar na companhia da outra pessoa. Numa relação amorosa bem sucedida, além do tesão, tem que ser amigo da outra pessoa, ter o prazer de conversar com ela, de querer o seu bem e de estar em sua companhia. E isto é raro hein! – fala com ênfase.
Vya Estelar -A exploração excessiva do corpo não implica num retrocesso das mulheres, no fato de estarem se tornando novamente um objeto?
Marco Aurélio – Do ponto de vista de liberdade e da vida própria da mulher, não acho que houve retrocesso. As mulheres estão, cada vez mais, ocupando mais espaço e tendo a sua voz ouvida. Cada vez mais a mulher é reconhecida como sujeito da história e não mais como um mero apêndice do homem.
O mito da beleza
Agora se você me pergunta se a "coisificação" que se faz da mulher, se o mito da beleza, não é um retrocesso para a humanidade como um todo, eu não tenho dúvida. A hipertrofia do componente físico e erótico da mulher, do jeito que vem acontecendo, é ruim para a humanidade, mas não configuraria isto como um retrocesso da luta feminina. Porque isto está restrito a um seguimento minoritário da sociedade. A imensa maioria das mulheres não depende, do seu aspecto físico para vencer e nem explora este aspecto como você vê na mídia.
Boazudas famosas e anônimas
Não deve se confundir artistas e modelos, que estão na mídia, com o grosso das mulheres. O que se passa na mídia são as mulheres que são prendadas fisicamente e que, por encanto passam, a ganhar muita fama e dinheiro. É uma coisa muito parecida com o que acontece com pagodeiros e jogadores de futebol. Isto é uma distorção e você não pode considerar que isto vá perdurar por muito tempo em termos de valorização de salário e etc…
Vya Estelar – A mulher comum não pauta um padrão de beleza em cima deste padrão?
Marco Aurélio – Acho até que ela pauta, mas esta beleza idealizada faz um mal tanto ao homem como a mulher. Ela quer ser bela como as da televisão e da mídia para conseguir afeto, atenção e prestígio, mas não necessariamente de uma forma distorcida como um meio de vida e como uma "coisificação".
Vya Estelar – O que você tem a dizer sobre a competição entre as mulheres em relação à sedução?
Marco Aurélio – Nesse particular as mulheres competem muito. Imagino que esta competição em grande parte se deve ao modelo masculino de dominação e à escala de valores que os homens impuseram. Quando o mundo for regido pelo modo feminino de comandar esta competição deverá desaparecer.
Vya Estelar – Qual seria o perfil da mulher moderna?
Marco Aurélio – Faria primeiro uma ressalva, um dos grandes receios que eu tenho é de que a mulher para vencer na vida pública imite o comportamento masculino e abandone os valores mais intrinsecamente femininos, porque têm muitas mulheres modernas se comportando como os homens. A mulher moderna, que deve ser estimulada, é a mulher que consegue ter vida própria, não utiliza o homem como intermediário para o poder, a riqueza e a vida pública no mundo. É uma mulher que não renuncia ao feminino tendo a necessidade de competir.
A mulher e o Porsche
Por que nós [os homens] desejamos tanto um Porsche preto? Porque nunca vimos uma mulher feia descendo de um. Warren Farrel, psicólogo e escritor norte-americano.
Vya Estelar – Como você analisa esta frase?
Marco Aurélio – O homem, como regra geral, não estou falando de todos os homens, é emocionalmente muito mais frágil do que a mulher, por razões ligadas à cultura da mãe e etc… Por conta desta fragilidade interior ele tem uma necessidade muito grande de recompensas do mundo exterior, para preencher esta sensação de fragilidade e de inferioridade.
Competição
A competição é um comportamento padrão dos machos da nossa espécie, talvez sejam também das outras, mas na nossa espécie isto é crucial. Então, os homens sentem uma necessidade muito grande de se mostrarem melhores do que os outros homens. O modo mais fácil e evidente de mostrar esta superioridade em relação aos outros homens, é mostrar que possuem uma mulher mais bonita e mais desejada do que a dos outros.
Vya Estelar – Por está ótica como fica a questão da beleza num relacionamento?
Marco Aurélio – A beleza e o dinheiro são as duas faces de uma mesma moeda. Ambos são reducionistas e nocivos ao relacionamento homem e mulher. Porque as mulheres, como regra geral, nãi todas, querem ser belas para terem acesso aos homens que têm dinheiro e os homens, não todos, querem ter dinheiro para terem acesso às mulheres que são belas.
Reducionismo
Isto é reducionista. Porque as pessoas não são queridas e amadas pelo que elas são e nem pelo prazer que elas proporcionam, mas pela utilidade que elas possam ter, isto torna a pessoa um objeto. Tanto as mulheres belas como os homens ricos são "coisificados". Ambos carregam a angústia de não saber se são amados pelo que são ou pelo que têm.
Vya Estelar – Mas como se pautar então para um relacionamento?
Marco Aurélio – Precisa ficar claro que o fato de se querer ter uma mulher bela, não será uma distorção, se o móvel para ter esta mulher, não for somente, pura e simplesmente, exibi-la. O indivíduo pode amar uma mulher muito bela. Independente de dotes físicos todos os seres humanos têm "n" atributos. Nada contra as belas, pois são lindas de se ver, de curtir e etc… Por um outro lado, uma mulher pode gostar de uma vida confortável.
O bom relacionamento
Deve-se buscar no relacionamento uma espaço para que você não tenha que vivenciar um papel, mas que você possa ser você, com seus defeitos e qualidades. O outro deve aceitá-lo como você é, para que você não encarne um papel para corresponder às expectativas do outro. Um ponto importante num relacionamento amoroso é o respeito à individualidade das pessoas. Respeitar o espaço na maneira de ser e de pensar. Outra questão fundamental é a da comunicação, deve se falar uma linguagem inteligível para ambos num papo aberto e sincero.
Vya Estelar – Neste sentido o amor seria seletivo em termos de estratificação cultural e social?
Marco Aurélio – Acho que qualquer grande defasagem, em qualquer parâmetro, compromete muito a relação. Não digo que torne a relação inviável, mas dificulta para que seja uma relação bem sucedida. Porque compromete essa comunicação. Isto vale para padrões de cultura, idade, estratificação social, nacionalidade…
Vya Estelar – Como anda a sexualidade da mulher hoje em dia?
Marco Aurélio – O grande problema da mulher hoje é se obrigar a ter prazer. É transar e não ter prazer. Então o sexo continua não sendo livre. Se as mulheres se convencerem de que não é tão essencial atingirem o orgasmo, por si só, que elas conseguem se gratificar com toques de carícia e afetividade e consegem se livrar da angústia, da ansiedade e da obrigação de ter sexo e orgasmo, as coisas irão melhorar. O caminho é a naturalidade. O sexo é perfeitamente natural, mas não é naturalmente perfeito na nossa espécie, o que não acontece no reino animal.
Vya Estelar – Como ter uma sexualidade sadia?
Marco Aurélio – Não se preocupar com o desempenho como se estivessem promovendo um espetáculo para uma platéia. Não pode ser por exibição e nem por obrigação. Até mesma aquela coisa burocrática de ter saído com alguém e, no fim da noite, transar por obrigação.
Vya Estelar – Como é vista a relação amorosa entre ambos os sexos?
Marco Aurélio – O homem põe a relação amorosa na vida dele como uma coisa que vem depois do trabalho, depois do sucesso e às vezes até depois do papo com os amigos. Para a mulher o amor é uma das coisas mais importantes da vida.
Crônica policial
Vya Estelar – Como é esta história mencionada em seu livro sobre o gênero feminino ser um antídoto para a guerra e a violência?
Marco Aurélio – A violência, como regra geral, é um atributo masculino. Na crônica policial o mais comum é: 1º um homem matar outro, 2º Um homem matar uma mulher, 3º Uma mulher matar um homem e 4º Uma mulher matar uma mulher. Se o mundo fosse só de mulheres, provavelmente seria um mundo sem violência. A própria guerra é uma coisa masculina porque está muito ligada a um conceito de honra. Os homens matam e morrem para defender a sua honra. Dificilmente você vai ver uma mulher agredir exclusivamente por causa da honra. Não é que ela não tenha honra. É porque ela não tem esta preocupação, que a fragilidade masculina tem, em se afirmar defendendo a honra, matando e morrendo por causa disso.
Vya Estelar – Como você vê a questão da prostituição e da pornografia?
Marco Aurélio – Prostituição é uma distorção do sexo. O encontro sexual deveria ser um encontro de duas pessoas e não simplesmente de dois corpos vazios. Não é preciso que haja amor, mas uma interação humana para que a sexualidade sadia possa se colocar. No dia em que os homens mudarem a sua visão em relação à mulher e ao sexo a prostituição irá acabar. O que sustenta a prostituição masculina são os homosexuais, difícilmente uma mulher pagaria para transar com o Paulo Zulu. Talvez até por curiosidade, mas jamais ficariam freguesas.
Mau gosto
A pornografia é uma polêmica. Incita a violência sexual ou dá vazão aos impulsos sexuais? Eu pessoalmente não acho que a pornografia seja nociva. Considero-a apenas de mau gosto.