por Roberto Goldkorn
Seria muito original se após o título desse artigo não houvesse nada escrito. À primeira vista seria muito coerente já que o tema é o silêncio. Mas poderia soar debochado, e inútil para os mais pragmáticos. Portanto, o Poder do Silêncio chega já fazendo barulho e usando palavras.
Em quase todas as culturas existem ditados populares que enaltecem a capacidade das pessoas de ficarem caladas e se manterem em silêncio ou serem bem econômicas com as palavras. Lembro-me do meu pai repetir a frase mais amada de meu avô: “Falou custou dinheiro!” Naturalmente ele só me lembrava disso quando eu gerava algum “custo” com minha “boca grande”. “O silêncio é de ouro”, isso é repetido através de gerações por culturas tão diferentes como a anglo-saxônica e a mongol.
O silêncio não como ausência de ruído, mas como economia de palavras, pode sim ser uma boa fonte de sabedoria, um escudo contra as armadilhas das palavras sem controle e um espaço de autopreservação. Palavras são como espermatozoides, andam em bando e competem entre si para ter o privilégio de fecundar seu alvo. Quando falamos em silêncio sábio, a imagem que me vem à mente é a dos monges orientais sentados diante de alguma paisagem majestosa em longos períodos de silêncio criativo.
Mas por outro lado o silêncio também pode ser perverso. Um antigo colega de faculdade era considerado por alguns professores como um aluno superinteligente e aplicado. Mas era um ignorantão. Um dia ele me confessou a sua “técnica”: ele não abria a boca e ficava olhando os profesores balançando a cabeça e sorrindo de leve “aprovando” as afirmações dos mestres. Um dia ele me disse: “Tem aulas que eu não entendo 90% do que eles dizem…”
O meu ex colega usava uma face sombria do silêncio que é a “cortina de fumaça”. Outra face terribilis do sliêncio é o seu uso como “arma de tortura” por parte dos psicopatas. Essa é uma “técnica” que tem a função de enlouquecer o outro. Muito usada pelos homens em seus relacionamentos misóginos (ódio à mulher) com suas parceiras. A “técnica” consiste em usar uma linguagem gestual (balançando a cabeça negativamente, dando sorrisos irônicos, fazendo cara de espanto, etc) para criticar comportamentos da parceira e quando ela reclama ele diz: “Eu não falei nada. Não disse uma palavra. Você é que está ficando louca, paranoica!”
Alguém já disse que o silêncio é eloquente e é mesmo. É uma forma de comunicação, que ao contrário do dito popular “quem cala consente”, pode ser negador também.
Mas mesmo com as faces negativas do silêncio, ele ainda é preferível às torrentes de palavras vãs.
Quando perguntados sobre o que mais influenciava a decisão de não telefenar no dia seguinte, um grupo de homens respondeu (73%) sobre seus encontros com mulheres: “ela fala muito”.
Falar demais, sofrer de doença verborrágica esvazia a energia e o magnetismo pessoal. Além do mais, isso nunca é sedutor. Entremear momentos de silêncio inquiridor pode ser um fator de incremento de magnetismo pessoal. O silêncio na comunicação interpessoal contribui para não só preservar a energia magnética, mas também para criar mistério. Ao criar mistério ao seu redor, você estimula o interesse do outro por você. Naturalmente que adotando a prática do silêncio também evitamos falar demais. Quem fala demais em geral (estatisticamente falando) fala mais besteira, se compromete mais e perde grandes oportunidades de ficar calado.