Por Jocelem Salgado
As Olimpíadas são um laboratório para o corpo. Os atletas que ali se encontram são os mais preparados, os que superam limites, e os que querem surpreender os recordes futuros. É um campo de provas cujo protótipo testado é o próprio corpo. As Olimpíadas contagiam pelo vigor e pelo sentimento de confraternização. E de patriotismo. Em princípio, os competidores estão ali por amor ao esporte, não são profissionais, são amadores.
Na prática, sabemos que não é bem assim. De todo modo, o entusiasmo que “brota da chama olímpica” acaba contagiando todo mundo. Sempre que nosso volei vai bem, os meninos armam uma rede na rua e por alguns dias esquecem o futebol. As meninas chegar a organizar times quando as brasileiras se destacam no futebol feminino. Meninos e meninas já tentaram jogar hockey sobre patins no asfalto aqui no bairro. Não deu certo.
Para nós todos, o exemplo olímpico é bem-vindo especialmente como motivação para a prática de um esporte ou de um exercício qualquer, não para medir forças. As Olimpíadas representam para nós, simples sedentários, o que são as pistas de provas de Fórmula 1 para o nosso carro. O que os mecânicos, engenheiros e pilotos descobrem naquele laboratório, algum tempo depois chegará ao carrinho que dirigimos todo dia. As descobertas dos super atletas das Olimpíadas também um dia chegarão ao cotidiano dos nossos exercícios.
Como se vê, os atletas olímpicos têm muito a nos ensinar, mas não temos nenhuma obrigação, nem será bom para a nossa saúde, tentar acompanhar o ritmo deles. Assim, os esportes, podem ser considerados os primeiros do pódio em benefícios para saúde, prevenindo doenças.
O exercício faz bem, movimenta músculos, oxigena órgãos, impulsiona a produção de hormônios que nos dão mais energia e prazer. Quando o exercício vira competição, as endorfinas são substituídas por adrenalinas. O hormônio da satisfação é substituído pelo hormônio do estresse. Para quem não está disputando o ouro olímpico, nem está preparado para isso, o resultado será um cansaço extra, com risco de distensões e mesmo de problemas cardíacos.
Tudo isso para dizer que as Olimpíadas são um momento especial para nos ajudar a lembrar que temos um corpo. Nas cidades que não estão à beira mar, onde não temos a praia no nosso caminho, e quando não temos acesso fácil a clubes com piscinas, a tendência é esquecermos que temos um corpo. Não estou exagerando. Quando passamos algum tempo sem expor nossos corpos, sem exercícios nem caminhadas, tendemos a esquecer que eles existem. O que não é nada saudável, nem para o corpo, nem para a mente.
Pois vamos aproveitar o exemplo dos atletas olímpicos, para iniciarmos uma nova fase de exercícios em nossas vidas. O importante é movimentar o corpo. Não importa a idade, nem a prática anterior. Deve-se começar devagar, com caminhadas ou natações que não ultrapassem 20 minutos. Aqueles que já tem um histórico de problemas cardíacos, mesmo hipertensão não controlada, devem antes consultar um médico. Também devem buscar orientação especializada aqueles que se cansam muito rapidamente, têm falta de ar ou não conseguem fazer uma caminhada leve de 20 minutos. Sob orientação de um médico, todos vamos nos beneficiar dos exercícios, por mais leves que sejam.
A prática adequada de um esporte deve estar associada a uma boa alimentação. Esta, aliás, é minha especialidade. Os atletas que estão em Atenas seguem dietas rigorosas estudadas individualmente, uma tentativa de fornecer a um determinado organismo exatamente o que ele queima e necessita quando exposto a um esforço físico extremo. Minha especialidade está no estudo da alimentação necessária para organismos que estão submetidos ao estresse e aos desgastes, não de uma olimpíada, mas do cotidiano das nossas vidas.
O que comer antes e depois da atividade física?
– Dê sempre um intervalo seguro entre uma refeição e o momento do exercício. Se foi apenas um lanche rápido, espere uma hora. Se foi uma refeição completa, o intervalo precisa ser de pelo menos duas horas. Caminhar sem pressa depois das refeições pode ajudar na digestão, mas caminhadas mais vigorosas devem ser evitadas.
– Lembre-se que o número de calorias que você ingere deverá ser queimado de alguma forma, do contrário se transformará em tecido gorduroso, o que leva à obesidade. O exercício é certamente a forma mais saudável de queimar calorias. Esse processo de queima, além de controlar peso, age como um “tonificante” de todas as funções do organismo, deixando-nos mais dispostos e com a memória mais ágil.
– A prática regular de exercícios pressupõe um consumo mais cuidadoso de alimentos. Sempre é melhor fazer exercícios do que não fazer, mas a prática com certa freqüência vai exigir um organismo melhor “nutrido”. A combinação e o equilíbrio são fundamentais.
– Organize suas refeições de forma que contenham 2 a 3 porções de leite/dia, 2-3 porções de carne magra, ou aves sem pele ou peixes/dia, 3-5 porções de vegetais/dia, 2-4 porções de frutas/dia e 6-12 porções do grupo dos cereais (pão, massas, arroz, aveia, etc) e leguminosas (feijão, ervilha, soja etc)/dia . Gorduras, óleos, açúcares e doces devem ser controlados quando necessário para aumentar ou reduzir a ingestão calórica.
– A reposição de líquidos é essencial, calculando-se 1 mL/Kcal utilizada como média. Um exemplo de bebida para a atividade esportiva pode ser uma parte de suco para quatro partes de água.
– As necessidades de proteína devem ser calculadas pela idade e sexo, com uma exigência um pouco aumentada (por exemplo, 1,2-1,7g/kg para os esportes que requerem grande esforço, 1 g/kg para as atividades leves ou moderadas). Deve-se evitar excesso de proteínas, mas ficar atento ao papel desempenhado pela mesma na prevenção da amenorréia (interrupção da menstruação em mulheres jovens praticantes de atividades físicas intensas) e na manutenção dos níveis adequados de ferro.
Os benefícios dos exercícios
Estudos mostram que a atividade física ajuda a prevenir, doenças coronarianas, hipertensão, diabetes, osteoporose e até alguns tipos de câncer, como o de mama e o de intestino. Além disso, podem ser importantes em melhorar a auto-estima, diminuir a ansiedade e a depressão.
Em jovens e crianças, estudos mostram que os exercícios físicos estimulam a disciplina e a iniciativa. No caso de pessoas adultas, o maior benefício apontado é a redução do estresse. E de modo geral, independente de idade e sexo, o exercício físico proporciona um aumento da produtividade, uma melhora no humor e no relacionamento social.