por Arlete Gavranic
Neste artigo me proponho a falar sobre um assunto pouco compreendido pela maioria: a bissexualidade.
Segundo o psiquiatra e psicodramatista Ronaldo Pamplona, no seu livro Os onze sexos, nascemos homens ou mulheres – biologicamente falando, mas isso sozinho não definirá nossa vida sexual. Iremos desenvolver durante nossa vida a formação da identidade sexual. E a maioria dos autores que estudam a psique humana dizem que isso ocorre na infância, em média entre os 5 e 7 anos de idade. Na prática é a sensação que nosso sexo psicológico está de acordo ou não com nosso sexo anatômico.
Quando a identidade sexual não está de acordo com a anatomia, é o que chamamos de transexualidade. Ou seja, ter um corpo de homem mas sentir-se com uma 'alma' feminina, esses são os casos que desejam cirurgias, mudança de sexo, etc.
Quando falamos de homossexualidade ou bissexualidade não temos nenhum problema com a relação corpo x identidade. O homossexual e o bissexual têm uma identidade sexual bem formada, gostam de suas características anatômicas e não desejam alterá-las.
O que determina a atração sexual?
Uma outra questão importante é a orientação afetivo-sexual, que faz parte da identidade sexual e também tem a influência de fatores que são biopsicossociais. Essa orientação afetivo-sexual diz respeito a sensação interna que cada pessoa tem de ser capaz de se relacionar amorosa e/ou sexualmente com alguém. É ela que vai determinar a sua atração sexual.
Se essa atração ocorrer por alguém de sexo igual ao seu – será uma atração homossexual, se a atração sexual for por alguém de sexo diferente do seu – será uma atração heterossexual, ou ainda se a atração sexual ocorrer tanto pelo sexo feminino como pelo masculino – será uma atração bissexual.
Não se sabe exatamente como essa orientação – inclinação – sexual se define, mas o mais importante é deixar claro que a orientação sexual não é uma opção pessoal. Também não é uma imaturidade sexual, nem uma 'safadeza' e sim uma orientação sexual desenvolvida com influências psicossociais e biológicas que ainda não se sabe ao certo o quanto podem interferir nessa orientação.
Essas questões ainda não são completamente definidas pela ciência. É importante deixar claro que essa orientação afetivo-sexual e seus desejos independem da vontade do sujeito, da vontade de seus pais ou familiares ou do grupo social que frequente.
Como funciona a bissexualidade?
Quando falamos de bissexualidade falamos de uma identidade de gênero bissexual, ou seja, a mulher (biologicamente falando) se sente psicologicamente mulher mas terá atração e desejo por homens e mulheres, o homem (biologicamente falando) se sente psicologicamente homem, mas terá atração por homens e mulheres.
A sexualidade do bissexual no dia-a-dia
Essa bissexualidade pode ocorrer em se sentir de forma igual essa atração, como pode ser vivida com uma vida sexual mais frequentemente heterossexual e com relações homo – ocasionais – ou mais que ocasionais. Também pode ocorrer com uma vida sexual mais frequentemente homossexual e com relações hetero – ocasionais – ou mais que ocasionais.
Como as pessoas sabem se são bissexuais ou se são homossexuais?
Uma pessoa bissexual percebe seu desejo, sua atração, por ambos os sexos. Se, por exemplo, um homem desconfia ser homossexual e não bissexual, é porque ele percebe sua não-atração, sua dificuldade de desejo por mulheres.
O que pode influenciar na busca de mais relações homo ou heterossexuais?
Por toda uma aprendizagem, pressão familiar e social, muitas pessoas com orientação bissexual podem restringir sua experiência a heterossexualidade ou a ter algumas aventuras ocasionais na homossexualidade. Mas se a orientação é bissexual os desejos bissexuais irão acontecer, na vida real, nas fantasias sexuais e em sonhos eróticos.
As pessoas podem assumir a bissexualidade em qualquer idade?
Sim. Existem muitas situações que podem interferir na vida das pessoas. Uma pessoa com uma orientação bissexual pode viver uma relação de amor intenso e significativo o que faz com que essa pessoa viva na heterossexualidade muito tempo. Mas é possível que se houver uma crise nessa relação, se houver uma separação, uma viuvez ou até a aproximação de alguém que se torne interessante e saiba seduzir, que o desejo bissexual venha à tona.
Estudo mostra que metade das pessoas eram bissexuais na década de 50
Kinsey, um estudioso da sexualidade humana, nos ajudou a entender os mecanismos da bissexualidade tanto de homens como de mulheres em Sexual behavior in the human male (1948) e Sexual behavior in the human female (1953), demonstrando através da escala Kinsey que avaliava o desejo, ou seja, a orientação afetivo-sexual. Na década de 50, segundo essa escala, 46% dos entrevistados eram exclusivamente heterossexuais, 4% exclusivamente homossexuais e 50% não se apresentavam exclusivamente nem homo e nem heterossexuais, mas bissexuais.
Fica como dica para as pessoas que quiserem entender melhor esse grande estudioso da sexualidade humana e suas ideias, o filme Kinsey: vamos falar de sexo.